Porque você não gosta dele?

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No domingo acordei na hora do almoço, pois tinha chegado tarde do plantão ontem. Saí do quarto só de cueca e caminhei para a cozinha em um estado de semiconsciência.

-A Callie tá aqui. – Malia disse encostada no balcão da cozinha apontando para o sofá que ainda estava fora do meu campo de visão. Voltei pro quarto e coloquei uma calça moletom.

-Bom dia, Callie. – disse antes de bocejar quando passei pela sala e entrei na cozinha.

-Bom dia, Harry. Belo chupão. – olhei irritado para Malia que sorriu culpada. Ontem tive que ir para o plantão com o pescoço cheio de maquiagem. Sentei no chão em frente ao sofá para brincar com Danny enquanto as duas pareciam conversar dois assuntos diferentes ao mesmo tempo. – E o jogo de sexta? Vocês encontraram o Niall? – Callie perguntou depois que elas terminaram de falar sobre as novas músicas do Timberlake no Oscar do Dicaprio... Pensando bem, acho que realmente não entendi do que elas estavam falando.

-Encontramos, o jogo foi uma porcaria. Mas pelo menos teve uma discussão em campo para animar um pouco as coisas, rolaram até uns socos, foi demais! – Malia contou rindo com um pouco de maldade e Callie a acompanhou.

-Não escuta isso, Danny. Brigas são coisas horríveis! – disse perto do ouvido de Danny que nem olhou para mim, pois estava concentrado com os bloquinhos que brincava.

-O que fizeram depois?

-Fomos numa festa, o Niall e o irmão do Harry foram com a gente. – Callie me olhou com cenho franzido.

-Irmão? Como assim? - perguntou confusa.

-Ele não é meu irmão. O namorado da minha mãe tem um filho e ele está passando um tempo na cidade. - respondi virando os olhos para Malia. - Ele é bem legal, mas a Malia não gosta dele.

-Não disse que não gostava! – ela fez uma expressão ofendida que não convenceu ninguém.

-E precisa? – perguntei sério e ela mordeu a boca sabendo que eu tinha razão.

-Porque você não gosta dele? - Callie perguntou e encarei Malia com as sobrancelhas erguidas esperando sua explicação.

-Não é que não goste dele. É só... – ela fez uma pausa, escolhendo as palavras certa. Me apoiei nas mãos esperando ela continuar. - Não sei. Uma sensação ruim. – Callie olhou para mim e captei seu pensamento. Ela estava lembrando das desconfianças de Malia com Megan e que acabaram se provando certas. – Mas talvez seja só uma implicância minha. Esqueçam isso. – voltei a brincar com Danny e seus blocos e Malia e Callie entraram numa conversa sobre casamento e Louis que pouco me interessava. Depois que almoçamos, Malia levou Callie e Danny em casa e caí no sono de novo no sofá.

Saí do laboratório, na segunda pela manhã, tirando o jaleco e olhando minhas anotações da aula. Andei junto aos colegas da minha turma para a próxima sala, a maioria em silêncio, observando suas próprias anotações, pois o assunto dado tinha muitos detalhes que poderiam se confundir.

-Harry, posso falar com você? – olhei para cima e vi Natalia na minha frente.

-Hã...Pode. – Martin, as gêmeas e o Lucas pararam e me olharam. – Podem ir, encontro vocês na sala. – eles foram embora e olhei para Natalia. Ela parecia envergonhada e com uma noção melhor de espaço pessoal do que na sexta.

-Eu só queria pedir desculpas. Não acredito que disse aquelas coisas, nada disso era da minha conta. Fiquei muito bêbada naquela festa e tinha acabado de levar um fora, então estava muito mais fora de mim do que já estive antes. – ela disse ficando mais vermelha e embaraçada a cada palavra. – Não costumo beber daquele jeito.

-Tudo bem. – respondi sorrindo e ela retribuiu timidamente.

-Você contou para Malia o que aconteceu? – seu semblante mudou para algo mais ansioso e assustado. Tenho certeza de que ela está preocupada com a posição dela na equipe.

-Não. Nem me lembrava mais disso. – respondi vendo o alivio tomar conta dela.

-Graças a Deus. Estava apavorada em ir para o treino hoje e ter que encara-la. – ela pôs a mão na testa e respirou fundo, como se tirasse um peso dos ombros.

-Vamos fazer assim: Se você não contar nada para ninguém, eu também não conto. Certo? – ela sorriu agradecida e concordou.

-Obrigada, Harry. Vou para minha aula, sei que estou te atrasando. Me desculpa, mais uma vez. – ela disse já se afastando.

Malia's POV

-Malia! Aaron! – me virei na cadeira olhando para a porta do elevador. Era a secretaria do Henrique, Mary. – O Sr Henrique quer os dois no térreo em dez minutos, vocês vão acompanha-lo até uma obra. – confirmamos e ela soltou a porta do elevador indo para outro andar. Fechei o arquivo que trabalhava no computador, guardei minhas coisas na bolsa e tirei os saltos que estava usando, trocando por um coturno de obras que deixava embaixo da mesa para situações como essa. Peguei o sobretudo atrás da cadeira e caminhei para o elevador, Aaron já estava parado na porta, esperando-o.

Quando chegamos no térreo, encontramos Mary e Henrique, dois sócios da Newair, que havia conhecido no jantar apareceram alguns minutos depois e saímos do prédio em direção a van que nos levaria ao local. Sentei ao lado de Mary durante o caminho e ela começou a falar que havia gostado do terninho que eu estava usando, depois começou uma divagação, que eu prestei apenas uma porcentagem pequena de atenção, sobre roupas de trabalho e sobre ela preferir vestidos e roupas delicadas. Quando a disse que usava mais roupas esportista, que as únicas vezes que usei saia na vida foi nos uniformes de cheerleader e que não tinha ideia de quem eram as Kardashians que ela tanto falava, Mary me olhou como se fosse um et.

-Acho que quando se é bonita como você, fica fácil não se importar com roupas. Qualquer coisa lhe cai bem. Aposto que consegue parecer sensual até de moletom. – respondi que aquilo não era verdade em falsa modéstia, pois ela estava completamente certa. – Na verdade já havia notado que seu estilo não é muito feminino. – Porque ela insiste nessa papo idiota? Ela não tem nada mais interessante na cabeça do que roupas? – Posso perguntar uma coisa sem que se ofenda?

-Pode. – confirmei sem animo, após alguns segundos debatendo com meu instinto de responder rudemente, sabendo que sempre vem algum tipo de ofensa depois de perguntas assim.

-Você é lésbica? – ela perguntou baixo para que ninguém mais a ouvisse. Revirei mentalmente os olhos para isso.

-Não. Só não sou um poço de fragilidade, insegurança, auto diminuição e dependência como boa parte das mulheres foi ensinada a ser e aceitaram isso. – ela pareceu sentir a cutucada e se calou.

Chegamos no terreno onde um prédio empresarial estava sendo construído. A engenheira chefe, Alexandra, veio nos receber e nos acompanhou pela obra. Ela explicava o que seria feito em cada lugar e como ele deveria parecer quando estivesse pronto. Quando as plantas que ela havia feito nos foram mostradas, meu respeito por aquela mulher foi triplicado. A planta era detalhada, elaborada e bastante especificada. Ela havia pensado em tudo. Depois de analisar a planta com Aaron ao meu lado, nós dois trocamos olhares impressionados.

Levantei meu olhar para Alexandra e vi que nos olhava, ela sorriu para mim e percebi que não havia conseguido disfarçar nem a admiração que sentia por ela nesse momento. Entramos no prédio com capacetes de seguranças e continuamos a visita, ouvi cada palavra de Alexandra com a máxima atenção que conseguia, ela tinha tanta segurança em tudo que falava e era tão imponente, que todos ali mostravam total respeito a ela.

Depois da aula de profissionalismo, competência e experiência que havia recebido de Alexandra essa tarde, voltei para a faculdade com a sensação de que tinha vivido uma das experiências profissionais mais significativas para mim até hoje.

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Capitulo chatinho, eu sei, é só um aquecimento.

Beijos e All The Love,

M.

MASTERFULOnde histórias criam vida. Descubra agora