Capítulo 1 - Toda sexta

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ELA

E ela dança tão linda, tão serena, tão minha nesse palco de ilusões. Dança descontraidamente como se estivesse somente dançando em uma tarde de domingo, e não trabalhando. Dança como se não tivéssemos problemas. Tem o poder de sorrir pra mim com brilhos nos olhos.

Ah eu a conheço, ela é minha vizinha. Se apresenta todo domingo e eu assisto todas as apresentações. Ela nunca me nota. Eu sei que ela já sofreu muito e eu tento cuidar dela, mesmo sem ela perceber.

Ela sai com pessoas que ela não conhece só para esquecer. Ela é assim, pertence só a quem quer pertencer. Mas Talvez ela só quisesse alguém que aquecesse seu coração, não sua cama.

Toda sexta a noite ela bebe até não aguentar mais e eu sempre a levo para casa, mas ela nunca se lembra de nada..muito menos de mim.

Eu sei algumas coisas sobre ela, uma vez quase passei a noite em seu apartamento. Ouvi muitas histórias e tudo que eu queria era cuidar dela.

Algumas coisas eu prefiro fingir que não vi, não ouvi, não senti. Não é que eu seja esnobe ou qualquer outra coisa. É que assim, fingindo, eu vou levando. Vou aguentando por mais tempo.

~
A cidade de Nova York ainda está acordada, as buzinas dos carros ecoam por todo meu apartamento.

É sexta a noite, dia de cuidar de Helena. Coloco minha jaqueta e vou a um bar que ela sempre vai.

Chego e o som alto dava-se para se ouvir a distância. Homens e mulheres passam servindo bebidas e eu pego uma vodca tônica. Não que eu goste muito de beber, mas eu precisava para conseguir ver o que eu estava vendo.

Avistei Helena na pista de dança, sua beleza ofuscava qualquer um que estava ali. Todos prestavam atenção em cada detalhe dela.

Ela dançava tão sorridente, diferente de vestido e all star. Quanto mais dançava, mais esquecia do mundo. E talvez esse fosse o objetivo..

Qualquer um que olhasse pra ela via que ela parecia estar super feliz, mas eu conhecia aquele sorriso, era um disfarce para tudo que tinha ali quardado.

Eu sorria assim toda vez que me perguntavam sobre minha família e eu lembrava que meu pai era um maldito alcoólatra e minha mãe uma prostituta viciada em drogas. Mas eu apenas sorria e dizia que ela era ótima.

Já se tinham passado três horas, Helena já tinha chegado ao auge da noite. Hora de eu entrar em ação. Pego ela no colo e a vou carregando, ouço ela resmungar algo imperceptível mas continuo a carregando.

- Adeus Lucca - disse Frank, dono do bar. Ele me conhecia a anos já que eu estava sempre ali. Tinha um carinho enorme por ele, era quase um pai pra mim.

- Tchau Frank

A porta de seu apartamento não abria, então a levei para o meu, mesmo não querendo muito.

Enquanto ela dormia eu a observava, eu velava seu sono, eu cuidava dela. Seu semblante tão calmo, tão sereno, tão entregue ao sono, parecia um anjo. Seus longos cabelos espalhados no meu travesseiro, seus lábios carnudos, uma de suas mãos delicadas apoiada embaixo do seu rosto, seu corpo encolhido como quem tem frio, mas não, esse é seu jeito de dormir.

Uma cafajesteOnde histórias criam vida. Descubra agora