Os adultos sumiram?

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Antônio acordou desanimado, sabia que receberia o café da manhã mais gostoso do mundo, e sabia também que o almoço seria uma delícia, mas mesmo com todos esses mimos ele não estava tão afim de comemorar, ele ganharia uma bicicleta, ele nem se quer sabia andar de bicicleta.
Vestindo uma roupa qualquer que encontrou em sua gaveta e penteando seus cabelos ele desceu as escadas de sua casa para comer algumas guloseimas.
-Mãe? Pai?.- O garoto chamou sem sucesso, a cozinha estava vazia e não havia nem se quer um pacote de bolachas encima da mesa.
"Qual o problema?" Pensou Antônio que coçava a cabeleira ruiva sem saber onde seus pais estavam.
Foi ao quintal, olhou todos os cômodos da casa e até desceu até o porão, mas nada de seus pais, as lojas da cidade estavam fechadas pelo feriado e não havia outro lugar onde os pais poderiam estar.
Começando a ficar preocupado o garoto decidiu ir até a casa de sua tia Fátima que ficava ao lado, eles poderiam estar lá fazendo alguma surpresa e podiam muito bem ter se atrasado e esquecido da hora.
O menino atravessou seu gramado a passos largos, estava furioso, como os pais haviam o deixado em casa em pleno dia das crianças? Por que não o acordaram com um bolo de chocolate e morangos? Eles sabiam que esse era o seu preferido mas como sempre não se importaram com o que ele queria.
Chegando na porta da casa de sua tia ele bateu e não teve respostas, então como de costume entrou mesmo assim.
Ele procurou e procurou mas os adultos não estavam no andar de baixo, entoa subiu as escadas correndo, só poderiam estar querendo lhe pregar uma peça, era isso, a história da bicicleta, eles desaparecerem era tudo um plano para fazer uma surpresa enorme. Pelo menos era isso que ele esperava.
Chegando à frente do quarto de seu primo Duda ele ouviu um choro conhecido e se apressou em abrir a porta e entrar para ver o que estava acontecendo.
Duda estava abaixado ao lado da cama, com os joelhos no peito e chorava como uma menininha, ele sorriu com esse pensamento.
-Duda? O que aconteceu?- o menino perguntou com cautela.
-Meus pais cara, eles..eles, sumiram.
-Está chorando por isso cara? Só devem ter ido na cidade vizinha.
-Não, você não está entendendo, eles sumiram. Ontem à noite eu estava vendo televisão e mamãe e papai estavam comigo, a cidade clareou como se estivesse dia e então eles fizeram puf.
-Puf?- Era verídico seu primo era um louco.
-Sim, puf, eles sumiram a poltrona ficou vazia, eles sumiram.
-Está falando sério?- O coração de Antônio foi na boca, e se fosse verdade.
-Claro Toni, é sério.
-Então os meus também sumiram.- Antônio coçou a cabeça.
-Meu Deus.- Duda disse e caiu no choro outra vez.

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Antônio e Duda saíram à procura de mais pessoas que podiam ter ficado, e em todas as casas que eles passavam só as crianças restavam, nada de adultos ou adolescentes, ou idosos, somente crianças.
Os garotos e garotas da cidade já estavam ficando histéricos e uns choravam mais alto que outros, as coisas não estavam fáceis mas Antônio pensou ter uma ideia brilhante e queria expor aquilo para todos que estavam na praça com ele.
Ele subiu no palco improvisado que o prefeito havia montado para as festividades e falou ao microfone: Atenção pessoal, sei que estão todos com medo, eu também estou mas podemos fazer disso uma coisa boa, sem adultos, sem supervisão, com todos esses brinquedos e comidas por aqui, podemos fazer um mundo sem lei, um mundo onde a única regra é a diversão o que acham?.
Então todos bateram palmas e os choros foram cessando até que todos estavam brincando e se divertindo para valer.
Antônio estava feliz, mas não tão feliz assim, ele sentia falta da comida da mãe, do futebol que assistia com o pai e das musicas que cantavam todos juntos comemorando o dia das crianças.
Já haviam se passado horas e nem sinal de ninguém acima de 12 anos, já estava escurecendo, as crianças estavam perdendo a linha, umas batendo nas outras e não tinha ninguém para impedir aquilo, algumas subiam em telhados e aquilo era perigoso, outras comiam tanto que estavam vomitando como loucas, e ele não sabia o que fazer, elas não o ouviam por que ele era apenas um menino.
Ao cair da noite Antônio foi pra casa junto com seu primo Duda, aquele havia sido seu pior dia das crianças e Duda parecia sentir o mesmo pois estava cabisbaixo e chateado.
Quando chegaram na casa dos piasse Antônio eles esquentaram um macarrão no microondas e comeram, logo depois assistiram um pouco de televisão e foram pra cama.
Antônio só pensava em como poderia ter sido legal o seu dia se ele tivesse com os pais, ele teria comido comidas gostosas, teria aprendido a andar de bicicleta, e poderia ter ido à praça brincar sem se preocupar com as outras crianças ao redor, ia ser tudo perfeito, e então antes de dormir ele desejou do fundo do coração que seus pais voltassem e que ele ganhasse a bicicleta e que pudesse aprender junto com seu pai como se anda naquela coisa de duas rodas.
Depois de o menino desejar tão profundamente que tudo voltasse ao normal o céu se acendeu mais uma vez, só que dessa vez Antônio viu e assim que a luz se apagou ele dormiu.
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- Feliz dia das crianças.- Antônio ouviu ao longe.
-Anda filho, acorda, olha o que temos aqui.
E quando Antônio abriu seus olhos ele viu um bolo de chocolate com morangos, e o mais importante de tudo, quem segurava o bolo era seu pai e sua mãe estava logo ali também com uma câmera a postos.

                            Fim

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