CAPÍTULO UM

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Tinha perdido as contas de quantas vezes já havia checado seu e-mail só naquele dia. Eram dez e quarenta e seis da noite, enquanto Olivia jurava para si mesma que aquela seria a última vez. Abriu o notebook, e clicou na caixa de entrada do seu e-mail.

Dois novos recebidos.

"Pinterest > sábado bom dia, cozinha pequena e outras tendências de busca"

Bendito foi o dia em que deixou sua mãe fazer um Pinterest com o seu e-mail.

Leu o próximo:

"Editora Meraki > Você foi selecionada para a nossa entrevista formal, conforme edital [...]"

— Ai meu Deus. — sentiu a boca secar e as pontas dos dedos começarem a ficar levemente geladas. Clicou no segundo e-mail.

"Você foi selecionada para a nossa entrevista formal, conforme o edital publicado. Sua presença é requerida na Editora Meraki, segunda-feira ás duas e meia da tarde, tenha em mãos todos os documentos obrigatórios mencionados no Anexo II, não toleramos atrasos. Um e-mail informativo será enviado ao orientador acadêmico responsável por toda a parte burocrática do estágio, assim como também, a diretoria administrativa do curso em sua Universidade. Boa sorte!

Charlotte Prescott,
assistência Editora Meraki."

— MÃE! MÃE! — as palavras saíram automaticamente da sua boca. Levantou da cadeira de sua escrivaninha em disparada para o andar de baixo, quase derrubando sua irmã caçula no meio do caminho, que zangada murmurou algum xingamento inaudível.

A caçula Bella se instigou com o desespero da irmã mais velha e entrou no quarto, pronta para descobrir a causa dele. Para a mais nova, de apenas dez anos, tudo era uma aventura. A menina era astuciosa, teimosa e sagaz, por muitas vezes sendo a pessoa mais geniosa da casa.

— A ENTREVISTA! — deu um grito quando freou os passos na cozinha, em frente à sua mãe. — SELECIONADA. EU. FUI. — falou embaralhada, tentando recuperar o fôlego. Sua alegria era tanta que ela começou a dar pulinhos, acompanhados de várias gargalhadas maléficas. E se Celine não conhecesse a filha que tinha, teria achado aquela reação um tanto quanto perturbadora.

— Calma. Respira! — tocou os ombros da menina, na tentativa de acalmá-la.

— Ela passou, vai fazer a entrevista daquela editora que tem nome de comida. — Bella apareceu na cozinha respondendo de forma tediosa antes que a irmã pudesse ao menos raciocinar.

— Eu sabia! Eu sabia! — abraçou a filha, que retribuiu o abraço. Por cima do ombro da mãe Olivia fez uma careta para a pequena, que sem surpresa, revirou os olhos.

— Não, tudo bem. Calma. Precisamos ficar calmas. — Olivia soltou a mãe, avaliando melhor a situação. — Não fui oficialmente chamada, então, talvez eu nem entre!

— Mas já é uma grande conquista, filha... — falou serena, recolhendo os pratos da bancada da cozinha, enquanto a outra recostava o corpo sobre a mesma.

— Não, uma quase grande conquista. — levantou o dedo, enfatizando a palavra. — E não posso colocar "uma quase grande conquista" no meu currículo!

Naquele momento sua mãe poderia até se preocupar, dar mil conselhos, e dizer que no fim iria ficar tudo bem, mas ela não fazia isso porque sabia que aquele tipo de argumento era típico de Olivia.
Nunca fique com muitas esperanças. Sempre fique com um pé atrás.
Por inúmeras vezes Olivia atribuía suas conquistas a sua ausência de expectativas. Como mãe e amiga, Celine sabia que nada daquilo compactuava com o que a filha realmente sentia. A verdade é que ela era uma grande sonhadora, sabia que por dentro naquele momento a menina estava em um rebuliço enorme! A ansiedade, o nervosismo, a tensão. Todos estavam lá. Presentes. Porém envoltos em uma barreira de autoproteção e orgulho, que Olivia persistia em carregar consigo.


— Tudo bem, então nada melhor do que se preparar para a entrevista, não é?

— Isso. — cruzou os braços.

— Inclusive, quando será? — encostou-se ao lado de Olivia.

— No e-mail fala segunda-feira, às duas e trinta da tarde.

— Mas isso não seria amanhã, seria?

Celine franziu a testa, desencadeando uma série de reações em Olivia. Os olhos dela quase saíram da caixa e sua respiração por um triz não parou.

SEGUNDA-FEIRA. Hoje era domingo. Amanhã. A entrevista era amanhã.

— É AMANHÃ! — saiu correndo atrapalhada, dessa vez fazendo o caminho de volta ao seu quarto e novamente, esbarrando na sua irmã.

— Você tem que parar de fazer isso! Eu que sou a criança aqui, Olivia! — a caçula bateu o pé no chão, aumentando o tom de voz com a mais velha.

— EU NÃO TENHO ROUPA, CHATA! Tenho que ligar pra Molly... — tentou dar uma explicação já no andar de cima, e pulou na cama com o celular em mãos.

*****

Virou-se para o lado direito da cama, o coração acelerado. A pele suava e evaporava prazer, o peitoral nu brilhava a meia luz do quarto. Depois de controlar a respiração, olhou para a mulher ao seu lado. De fato, era muito bonita. Levantou-se da cama sem olhar para trás e entrou no banheiro, logo encarando seu reflexo no espelho. Sua pele macia e jovial não entregava que logo entraria na casa dos trinta anos, ainda que seu cabelo esvoaçante e sua barba bem feita o deixassem com um ar extremamente sensual e másculo. E os seus olhos... Incrivelmente penetrantes. Podendo ser comparados aos de um tigre.

Thomas Fraser Meraki. O seu nome soava exatamente como deveria soar, poderoso e influente.

Riu fazendo barulho com o nariz, ponderando os movimentos que realizava enquanto lavava o rosto. Sentia um misto de orgulho correndo por suas veias. Orgulho por ser ótimo em tudo o que fazia, por saber que a mulher ainda encontrava-se com as pernas estremecidas em cima da sua cama. Gostava dessa sensação. Provavelmente teria sido uma das melhores noites de sexo da vida dela.

Seus pensamentos logo foram confirmados quando abriu a porta e ela estava lá, de braços cruzados, olhando para ele com um sorriso malicioso nos lábios.

— Então, você já cansou?

Thomas deu outra risada pretensiosa. Dessa vez, também cínica. Agarrou a cintura da mulher com uma mão levantando-a no ar e encaixando as pernas ao redor dos seus quadris, enquanto penetrava os dedos nos cabelos dela.

Iniciou vários beijos no pescoço da mulher. Escutou o celular tocando. Resolveu ignorar e continuar o que fazia.

Tomou seus lábios num beijo forte, e novamenteescutou o celular tocar. Impaciente, soltou-a sem muito jeito, logo escutandouma bufada atrás de si.

Pegou o celular. Gerard Meraki no visor. Atendeu.

— Pode falar...

— Preciso que você venha aqui agora.

— O que? Está tarde. — passou a mão pelos cabelos, sabia que apesar de tentarargumentar não poderia dizer não.

— São assuntos importantes, prioridades, Thomas. — a voz do outro lado da linhaficava cada vez mais rígida.

— Certo.

— Agora.

— Estou indo.

Quando Você Me Toca (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora