CAPÍTULO TREZE

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Olivia não imaginava que aquela seria uma das mais cansativas semanas da sua vida. Só na Universidade, durante aqueles dias, ela estava atarefada até o pescoço com duas provas marcadas, um seminário, uma roda de conversa sobre um livro que a mesma havia esquecido de ler durante o tempo determinado, tendo que engolir o livro magicamente em apenas um dia — mas nunca contaria a ninguém que pulara algumas páginas e que procurara mil resumos na internet — além de um questionário de Marketing Editorial para responder.

O que acabou a ajudando em sua semana na Editora, pois lá daria início a tarefa que lhe foi dada. Durante os cinco dias na Meraki ela trabalhou arduamente com toda a equipe de Criação, sentando e conversando quando preciso, planejando os próximos passos a serem tomados, aprendendo novas coisas e também vendo o seu esforço ser materializado. Suas noites eram tão ocupadas quanto os dias e quando ela finalmente deitava em sua cama, já de madrugada, sentia-se a pessoa mais cansada do mundo. Mas, mesmo dormindo poucas horas e acordando cedo ela não ousava reclamar.

Estava agradecida pelas oportunidades que tinha e daria valor a elas. Sexta-feira, na Meraki, deveriam ter uma reunião com Thomas para mostrar todo o trabalho feito. Fato que não acontecera, quando Charlie avisou a Olivia, que estava extremamente ansiosa, que o mesmo não poderia comparecer e que qualquer coisa que tivessem feito teria seu consentimento, pois ele confiava piamente no trabalho de sua equipe. E apesar de estar muito feliz com o próprio feitio, Olivia não conseguiu não ficar decepcionada. O que acabava sendo bem contraditório se comparado a alguns fatos que rodeavam a cabeça dela durante aqueles dias.

Acontece que não o tinha visto desde a última vez que conversaram e nem durante toda a semana. Mas tinha descoberto o maldito instagram dele e aquilo tinha se tornado um problema. Maldita Molly. Ela nunca teria nem se dado ao trabalho de buscar saber se ele tinha aquela rede social, se não fosse pela amiga. Foi no mesmo dia em que a ela mencionou, que resolveu dar uma olhada antes de dormir. Era uma conta bem esquisita. Das muitas fotos, pouquíssimas eram dele ou dele com outras pessoas, e essas podiam ser contadas nos dedos da mão direita.

Enquanto as outras consistiam em retratos de paisagens, lugares, estátuas, monumentos, eventos e objetos. Quando percebera isso a menina não pôde deixar de revirar os olhos inúmeras vezes. Mas o que realmente a intrigou foi o fato de que em cada foto, havia escrito um poema como legenda logo abaixo. Esquisito. Babaca. E revirava os olhos novamente. Tudo se repetiu durante os dias seguintes, sua curiosidade sempre a fazia ver aquelas fotos novamente e ela teve que admitir, que eram bonitas.

Naquela sexta também voltou a ver as fotos. No entanto somente aquelas que ele estava. Ás vezes até esquecia o quanto ele era bonito. E que ele até que fazia falta nos corredores, assombrando todo mundo com aquele seu jeito babaca e carrancudo de ser.

Estava deitada em sua cama com as pernas para fora. Respirava lentamente e de vez em quando dava um longo suspiro. Os olhos fechados e os braços bem abertos. Era muito bom relaxar depois de uma longa semana. Pelo menos tudo aquilo durou por alguns minutos. Mas Olivia era Olivia. E sua inquietude natural não a deixaria dormir tão cedo. Sentiu o celular vibrar em cima da cama e se sentou quando viu no visor o nome de Molly.

— Eu e o Kurt vamos te pegar em uma hora! Vou me vestir e depois vamos pra festa do Gabriel, certo?

— EI, EI! Não, Molly. Espera...

— Não aceito não como resposta. Você vai sim! Sua semana de cão acabou, Olivia.

— Não dá pra deixar para amanhã?

— Amanhã é na casa da bruxa da ex-namorada do Kurt. Não iremos. Vai contra as regras da nossa amizade. — escutou um barulho do outro lado da linha.

— O que você está fazendo, Molly?

— Procurando um sapato. Estou desesperada. Não acho o outro par da minha bota.

— Estou tão cansada, Molly...

— Mentira! Você nunca está cansada.

— Mas, Moll... — Olivia tentou argumentar, mas logo foi cortada.

— Mudança de planos. Vem pra cá, AGORA! Você precisa me ajudar, eu não tenho o que vestir. AGORA! Tchau.

Tu-tu-tu-tu.

E com dez minutos — onde cinco continuou na cama e os outros cinco gastou em juntar algumas coisas na mochila, e avisar a mãe que iria sair —, estava na casa de Molly.

— Graças a Deus! — disse a ruiva batendo a porta da frente logo depois que Olivia entrou.

— Ainda não achou o outro par?

— Achei! Mas não tenho o que vestir.

Subiu as escadas correndo com Olivia logo atrás, entraram no quarto e Molly começou a jogar as roupas para todos os lados.

— Eu preciso de uma bebida.

— Quando foi que você virou essa adulta tão clichê? — Olivia riu vendo a amiga sair do quarto, e se deitou na cama dela que estava coberta por várias peças de roupas.

— O que você trouxe ai? — apontou para a mochila de Olivia quando voltou, colocando duas canecas em cima da penteadeira e derramando um líquido azul nas duas.

— O que é isso? — Olivia franziu a testa observando o líquido quando a amiga ofereceu-lhe a caneca. Cheirou e sentiu um aroma adocicado.

— Não sei. Era a única coisa que tinha na cozinha. — deu de ombros, abrindo a mochila de Olivia e jogando tudo pelo chão.

— Você sabe que é um pecado você falar que não tem o que vestir, não é?

— MENTIRA! Você vai ter que me emprestar esse vestido, Olivia... — agarrou o vestido, com os olhos grandes e pidões para a amiga. Olivia deu um gole no líquido azul em resposta.

— Será que isso não está vencido? Não tem muito gosto de álcool, Molly. Achei que você quisesse se embebedar.

— Deve ser licor.

Mas não era. E elas só se deram conta disso quando já estavam um pouco bêbadas e vestidas. Olivia agradeceu por terem se maquiado ainda sóbrias, caso contrário estariam feito duas palhaças. Ela não sabia que era porque tinha deixado a amiga a vestir, enquanto ela estava meio grogue, que estava com uma roupa mais ousada naquele dia. Ousada pelo menos para ela, já que nas festas que frequentavam aquelas roupas eram totalmente normais. O vestido curto colado de alças finas e o salto grosso que usava eram pretos, assim como a jaqueta de couro de Molly que tinha um grande M feito de alfinetes de segurança nas costas. Estava toda de preto, exceto pelo vermelho sangue em seus lábios. Os cabelos grandes, soltos e volumosos enquadravam o rosto perfeitamente.

Quando Kurt buzinou na porta e elas entraram rindo no carro, ele olhou desconfiado para as duas.

— A língua de vocês está azul! — e isso desencadeou mais uma série de gargalhadas.

— Não tem como fazer um O nessa jaqueta não, Molly? — a morena puxava a jaqueta para frente, sem sucesso. — Esse M não combina muito não...

— Combina. M de Meraki! — Molly começou a rir, mas foi interrompida por Kurt.

— Vocês tem dinheiro ai? A gente tem que passar no mercado pra comprar as bebidas.

— TEM. — Olivia respondeu quase gritando, enquanto colocava o cinto com dificuldade. Kurt virou-se para o lado direito, ajudando-a.
— Temos que ir ao mercado do centro. Não comprei antes de vir, porque os do bairro estão fechados.

— Certo. Vamos. Acelera! — foi a vez de Molly falar bem alto.

Quando chegaram em um dos mercados do centro da cidade, Olivia sentia por sua péssima matemática que estava pelo menos vinte porcento mais sóbria que Molly. Isso porque a ruiva quase esperneou quando Kurt sugeriu que elas ficassem no carro enquanto ele comprava as bebidas.

Agora já dentro do mercado, ela e Molly encaravam concentradas uma caixa de cereais que continha um "Onde está Wally?" no verso. Elas estavam a cinco minutos procurando Wally.

— ACHEI! — Olivia gritou e enfiou o dedo na caixa de cereais, quase a furando.

Olivia riu e continuou repetindo a palavra enquanto pulava e ria da amiga que a olhava furiosa.

— Senhorita Chiarelli?

Parou subitamente os movimentos quando escutou uma voz grossa com uma entonação séria atrás de si. Quase tropeçou nos próprios pés quando virou e viu quem era. Thomas estava ali, vestido como quem acabara de sair da academia. Os braços musculosos aparecendo na camisa de mangas curtas, assim como as pernas na bermuda de basquete.

Quando Você Me Toca (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora