CAPÍTULO QUATRO

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Balançava a perna direita freneticamente contra o chão, enquanto esperava Charlie aparecer. Olivia estava nervosa, e este nervosismo advinha de duas coisas específicas.

A primeira era completamente nova para ela. Tinha recebido mais cedo uma ligação de Charlie, informando que ela iria participar de uma reunião de negócios entre o setor de criação e o CEO da Meraki, que tinha como objetivo a confirmação final de cinco capas escolhidas para os lançamentos da quinzena. Nunca tinha participado de uma reunião de negócios e ficara pesquisando durante vários minutos sobre o assunto, mas sem sucesso. Não tinha como se preparar para algo que não conhecia. Decidiu por fim que iria apenas escutar e anotar, assim estaria preparada para as próximas reuniões.

O segundo motivo de seu nervosismo estava bem a sua frente, e já tinha um lugar quente guardado dentro do seu coração. O mural principal da sala agora era ocupado por um grande letreiro azul: Dia dos Pais Meraki. O Dia dos Pais estava se aproximando e o seu setor era o encarregado das promoções da Editora em dias comemorativos, o que significava que os próximos sete dias estariam voltados a esse assunto. E esse não era um dos assuntos favoritos de Olivia.

Seu pai morrera quando a garota tinha apenas quatorze anos, agora com vinte e dois ela já tinha conseguido filtrar uma boa parte da dor de perder alguém. O tempo também havia acostumado em sua cabeça a ideia de não ter mais um pai. Porém, não a preparava para coisas como essa e todo ano em datas comemorativas, ela se sentia estranha e incomodada.

Não chorava mais, no entanto sentia o coração desmanchar e pesar quando escutava do outro lado da parede do seu quarto, sua mãe chorando. Olivia não se sentia capaz de ter uma opinião sobre aquilo, visto que a dor dela quando o pai morreu fora e é diferente da dor da sua mãe. Antes de pai das suas filhas, ele era o seu amor. E por causa disso, não conseguia simplesmente tocar no assunto nem com ela e nem com ninguém, deixava apenas as memórias que tinha do pai reconfortarem-na quando preciso.

Saiu do seu devaneio quando escutou Charlie chegar e avisar que a reunião iria começar. Fechou o notebook, pegando um bloco de anotações e uma caneta. Andou apressada até conseguir ficar na cola de Charlie. Quando chegou a sala, sentou-se também ao lado dela, ficando na ponta da mesa retangular. O lugar estava cheio e todo mundo estava conversando. Decidiu correr os olhos pela sala e mais uma vez deixou-se embasbacar por sua ambientação, todas as paredes eram de vidro e ela ficava exatamente no meio do andar, sendo iluminada pela luz natural das janelas.

Seus pensamentos foram atrapalhados quando alguém irrompeu a sala dando "boa tarde", se sentando logo depois. Era ele.

Olivia agora conseguia olhar para o homem com mais atenção. Thomas sentou-se a apenas quatro cadeiras dela. Ele podia ser confundido com um dos seus colegas da área de criação, pois aparentava ser tão novo quanto eles. O que o distinguia eram suas roupas sociais de muito bom gosto e o seu ar inacessível que chegava a ser irritante. Bastava olhar só uma vez para perceber que ele não ganhava quatro salários mínimos, e sim distribuía estes.

Então ele começou a falar. A voz grossa e limpa fez Olivia lembrar-se do dia em que ele roubou o seu elevador.

— Já temos as cinco capas finalizadas? — ele levantou-se, indo para frente de uma enorme tela de projeção.

— Sim e passamos a última semana revisando os detalhes. — escutou uma voz do outro lado da mesa, só agora percebendo que pertencia a Josh e que ele também estava lá.

Passaram alguns minutos revisando novamente as cinco capas, Olivia continuava quieta enquanto anotava tudo o que achava relevante naquela reunião.

— Agora, vocês já se reuniram com a equipe de divulgação para pensar nas estratégias que iremos utilizar?

Thomas voltou a falar e nesse momento uma lâmpada acendeu dentro da cabeça da menina.

— Três dos cinco livros são continuações, não é? — cochichou discretamente, se aproximando mais de Charlie.

— Sim.

— Então, com certeza já tem vários leitores fixos. Seria legal trabalhar a divulgação em cima disso, não? — continuou murmurando, mas percebeu que Charlie dessa vez continuou a olhar para frente.

Quando Você Me Toca (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora