CAPÍTULO CINCO

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Olivia pensou em um milhão de desculpas que poderia dar naquele momento, mas não conseguia pronunciar nenhuma. Apesar de ser um babaca, ele continuava sendo seu chefe. Enquanto permanecia estática e com a boca abrindo e fechando, escutou uma bufada do homem a sua frente.

— Então, Olivia... Chiarelli. — ela teve a estranha impressão de que ele decorara seu sobrenome muito bem.

— Sim. — respondeu quase inaudível.

— Italiana?

— Meu pai era italiano. — ainda prendia a respiração, quando deu alguns passos para frente. Thomas levantou as sobrancelhas.

— Não é mais?

— Ele faleceu. — disse neutra, percebendo que ainda falava mais baixo que o normal. Não se podia negar que aquela conversa estava estranha.

— Então, Universidade Hills? — parecendo ignorar a resposta dela, ele escorou-se mais confortavelmente na cadeira, cruzando as mãos no abdome.

— Sim, estou no meu terceiro ano de curso. — respondeu apática. Não se sentia muito bem sozinha naquela sala com ele, era como se estivesse sendo engolida por uma grande nuvem de superioridade. Não gostava de sentir daquele jeito.

— Interessante. É bom ter uma estudante da Hills aqui. Tanto eu quanto o meu pai nos formamos lá. — apesar de manter toda aquela pose, Olivia sentiu leveza na frase dita pelo homem, quase como se fosse possível ele ser uma pessoa legal, assim, deu involuntariamente um sorriso fraco.

— A Hills é realmente incrível, fico muito feliz de estar me formando lá. — o sorriso aumentou.

— Quantos anos você disse que tem mesmo?

— Vinte e dois. Mas em breve faço vinte e três. — e o sorriso agora era puxado de orelha a orelha.

Não entendia o porquê de seu corpo estar reagindo assim, talvez fosse a tensão evaporando. Então, de repente caiu em si. Não acreditava que havia dado informação extra de que em breve faria aniversário.

— Hum. — murmurou aproximando-se novamente da mesa. Dispôs os punhos em cima do móvel e fixou seu olhar no rosto da menina. — Você tem olhos charmosos.

— Que? — percebera tarde demais que praticamente havia gritado.

— Isso pode ser bom para empresa. — disse simplesmente, rindo fraco ao notar um rubor quase imperceptível nela.

— Ah, sim, claro. — mesmo sem entender, tentou não fazer nenhum questionamento em sua fala, tentando evitar maiores constrangimentos-exclusivos-de-Olivia.

— Então, tem mais alguma coisa pra falar? — virou-se para o seu notebook, lendo alguma coisa e parecendo de repente completamente interessado no que tinha ali.

— Não, eu acho.

Olivia percebeu que mesmo se tivesse uma lista enorme de perguntas, provavelmente nenhuma delas seria respondida. O homem subitamente distraiu-se com outra coisa e Olivia ficou nervosa.

Esperou uma resposta dele. Nada.

Ela então ficou agoniada. O que ia fazer agora? Ele simplesmente virara, como se ela tivesse sumido bem na frente dos seus olhos.

Respirando um pouco de confiança, perguntou:

— Eu posso ir agora?

— Ah, me desculpe, você ainda está ai? — franziu a testa, olhando para ela quase como se ela fosse uma criatura muito esquisita.

Olivia estremeceu, sentindo a raiva voltar a espalhar-se por suas veias. Odiou o modo como o homem mudou de comportamento, e odiou mais ainda o jeito que ele olhava para ela. Ele era, definitivamente, uma pessoa intratável. Em uma hora dizia que os seus olhos eram charmosos e na outra a tratava como se ela fosse insignificante.

Sentiu os dedos quase dormentes, tamanha era a força que segurava uma mão na outra. Saiu da sala exatamente como tinha entrado. A diferença agora era que, definitivamente, o detestava ainda mais.

*****

Olivia tinha a estranha sensação de que a manhã daquele dia passaria muito devagar. Estava muito ansiosa e não sabia exatamente o porque. Assim que chegou na Meraki, quase passou direto para a sala de Josh, quando viu um post-it rosa em cima do notebook da sua mesa.

"Quando vir esse bilhete, venha na minha sala. Princesa Charlotte, beijinhos."

Riu sozinha ao ler o conteúdo da mensagem, girou as pernas de volta aos elevadores dando boa tarde a quem via pela frente.

Ao chegar na sala de Charlie, bateu na porta de vidro e viu a loira acenando para que ela entrasse. A sala dela era bem aconchegante, não tão grande como as outras que já tinha entrado, mas com certeza era a que tinha mais personalidade.

— Aqui. — antes que pudesse falar algo, ela estendeu a mão com outro post-it rosa.

— O que é isso?

— Thomas, pediu que eu te entregasse isso.

— "Pegar esta encomenda e trazê-la em minha sala. Endereço..." — leu confusa, percebendo um endereço logo abaixo. — Você sabe onde é esse lugar?

— Ah, eu olhei no GPS, é só a três ruas daqui. — pegou o celular. — Te enviei a rota.

— Então tá. Que encomenda é essa, Charlie?

— Não sei, ele não me disse nada, só falou que era importante. — disse, enquanto mascava um chiclete e mexia no seu computador.

— Tá, obrigada! Mas ele falou por que eu que tenho que buscar? — guardou o bilhete no bolso.

— Não. Mas sei lá, vai ver ele quer que você comece a participar mais das coisas da Editora...

Olivia nesse momento sentiu certa importância transpassar o seu corpo, não gostaria de admitir, mas ficara feliz com a tarefa.

Quando Você Me Toca (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora