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Era tarde demais, meu coração insistiu em dizer.

Faltavam poucos minutos para o meu embarque, e a impaciência tomava conta de mim. 

- Droga! Essa hora não passa mãe! Vou no Starbucks.

- Calma filho. - ela disse - Você anda muito ansioso ultimamente.

- É que essa coisa de ficar esperando não é pra mim, vou lá, daqui a pouco volto.

- Ta bom, mas não demore, faltam só 45 minutos.

- Pode deixar mãe! - respondi.

A verdade era que essa coisa toda de ansiedade não passava de uma desculpa qualquer para demonstrar que ficar longe de Isabelle, me assustava. Por mais que tenha acontecido tudo aquilo durante os últimos meses e eu ter ficado numa tremenda foça, era assustador ir realmente longe dela.  E se caso eu me tornasse um daqueles velhos barbudos fedendo a cerveja e a cigarro barato pensando em um amor que se passou a décadas atrás? eu realmente não iria me orgulhar nada disso.

- Um frappuccino por favor.

- Com café ou sem café? - a atendente pergunta.

- Com café, muito café. - respondo.

- Você está ansioso né? da pra ver nas suas mãos suadas - ela pergunta.

- Um pouco. - respondo - digamos que é minha primeira viagem.

- Certeza que é só isso? - ela me interroga - Da pra ver em seus olhos que não é só isso.

- Na verdade nunca será só isso, talvez esse seja o problema. 

- Sabe o que aprendi? Iron Man? - ela me pergunta olhando para o copo de frapuccino para saber meu nome.

- Sim? - Respondo, me segurando para não rir pois tinha dado um nome fictício para anotar no copo.

- Bom, como eu estava dizendo, Sr Iron Man. É que, de vez em quando é bom tirar férias de si mesmo. Você está indo viajar por algum motivo, então pegue esse motivo e faça dele algo bom pra você, mesmo ele tendo sido ruim a ponto de fazer você ficar ansioso com uma simples viagem de avião..

(Pausa)

- Engraçado. - respondo.

- O que? - ela me olha assustada -  eu disse algo que você não tenha gostado?

- Não, pelo contrário. Você me olhou devagar demais.

- Fico feliz por isso então. - ela responde sorrindo e pegando o troco.

- Bom, é isso, meu vôo logo logo sai, foi bom seus conselhos, admito que não escuto coisas assim no dia a dia.

- Por nada! Boa viagem Sr Iron Man - ela responde.

- Obrigado!

Chegando até o terminal dois, percebo um nervosismo vindo da minha mãe.

- Mãe, tudo bem com a senhora? - pergunto.

- Estou sim Greg, é que... 

E em uma questão de milésimos, percebo uma voz vindo e de trás de mim, ecoando no meio da voz dos altos falantes e das pessoas conversando em minha volta.

- Gregório...

Olho para trás, e era Isabelle.

- [...] 

- Desculpe ter vindo sem avisar, mas eu sei que se eu avisasse você não iria querer me ver ou até mesmo me ouvir. - ela diz.

- As duas opções ainda estão de pé.

- Calma Greg... - minha mãe diz.

- Não, não vou ter calma, isso é alguma pegadinha? cadê as câmeras? - respondo em voz alta olhando em minha volta.

- Greg...

- O que foi ? - respondo com um tom de rispidez. - Já não chega a merda que você me causou da última vez? 

- Eu queria te entregar uma coisa.

- O que? O convite do seu casamento? 

- Greg... por favor, me escuta. - ela diz.

- Não Isa, eu não vou te escutar. 

- Greg, por favor, escuta ela pelo menos. - minha mãe me responde.

- Eu te escrevi uma carta, queria que a lesse durante a viagem ou quando chegasse lá.

- Carta? Nessa altura do campeonato, você não seria a autora que eu gostaria de ler Isabelle. - respondo - mas é sério, isso é uma pegadinha?

- Por favor, leia ela quando chegar lá pelo menos. Ou pela viagem. Eu não quero que você lembre de mim como uma memória ruim, quero que lembre da gente pelos nossos melhores momentos.

- Isa... Por favor, isso tá me machucando. - respondo.

- Me desculpa Greg.

- Isa, eu te desculpo sim, mas não o suficiente para te perdoar.

O silêncio toma conta daquela plataforma.

Vou em direção a minha mãe, e dou um abraço forte nela.

- Promete me ligar todos os dias as 22h da noite filho? - ela pergunta com os olhos cheios de água.

- Prometo te ligar varias vezes por dia mãe! Amo você.

- Também te amo Greg, se cuida, não se esquece de ir dormir cedo e não dê trabalho a sua tia vó em!

- Mãe, eu não tenho mais cinco anos de idade! - respondo

- Mesmo assim, continua sendo meu menino! - ela responde sorrindo pra disfarçar o choro. - Vai com Deus filho, se cuida!

- Pode deixar.

Isa me olha, a espera de um abraço ou até mesmo de uma despedida vinda de mim, mas a vida não é assim. Ela não merecia uma despedida, e muito menos um abraço. Na verdade ela não merecia nada, nem mesmo um adeus, por que o vazio que fica depois dele, é o suficiente para deixar saudades.

Vou em direção a porta, entrego o bilhete e me seguro para não olhar para trás. 






Amar você não deixa de ser um vício.Onde histórias criam vida. Descubra agora