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'' As nuvens eram como balões de pensamentos momentâneos''


Tem uma coisa que eu nunca admiti a ninguém, meus conselhos, eu nunca seguiria os mesmos. O avião estava frio, no corredor até a porta de entrada da aeronave, deixei minha família e o amor da minha vida. A meses atrás, iria preferir que talvez esse fosse meu primeiro e último voo, mas eu não seria depressivo o suficiente para desejar isso nos dias atuais, eu tive uma pequena pontada de esperança quando fechei os olhos para dormir na noite anterior. 

-Então é o seu primeiro voo? - a senhora que está ao lado pergunta.

-Como sabe? - perguntei.

-Da pra ver na sua compulsividade comestível. - ela responde sorrindo e levando a mão até sua bolsa para pegar seu óculos de leitura. - fique calmo, é sempre assim, em todas as viagens, me lembro até hoje quando viajei pela primeira vez para visitar meus familiares em Nova Jersey.

-Entendo. É estranho essa sensação mesmo. 

-Eu sinto que tem algo a mais te incomodando, a propósito, qual o seu nome filho?

-Gregório.

-Saudade de casa?

-Não, eu acho que é saudade de tudo o que eu achei ter. 

-Imaginei, jovens da sua idade estão mais propícios a se apaixonar.

-Não era paixão, era amor! Senhora... 

-Suzane, pode me chamar de Suzane, nada de senhora e muito menos tia. Posso ser velha, mas não sou cafona. - Ela responde.

-Ta bom, Suzane.

-Agora sim! Mas me conte, você acha que o que viveu foi amor?

-Sim, talvez nunca deixe de ser.

-E por que você pensa isso? 

-Eu conheci ela no ensino médio. Me apaixonei segundo depois.

-Entendo. - ela responde, dando uma gargalhada sútil.

-De que está rindo? - pergunto.

-O amor é tão diferente disso filho, o amor não é como nos filmes de cinema, nunca queira algo assim! enjoaria em poucos dias. Sei que o tempo está difícil, e que a vida tropeça a cada degrau e isso te assusta, afinal você é novo e se apaixonou pela primeira vez. Eu me apaixonei na sua idade, por um garoto que era vizinho meu, e hoje ele esta casado com dois filhos e muito feliz. Ai eu percebo o quanto a vida é grata, mesmo não sendo como pensamos, ela nos surpreende. 

-Mas se fosse só paixão não doeria tanto assim, ela estava no aeroporto hoje, e me entregou isso - respondo, retirando a carta do bolso.

-E isso é algo bom né?

-Claro que não! ela até me deixou uma carta! 

-E por que ainda não abriu pra ler ela? - Suzane pergunta.

-Eu... não sei. - Suspiro.

-Você não quer lê-la, porque tem medo da realidade de como a paixão pode assustar. 

-Eu não sei se seria uma ideia boa, afinal, a saudade já doía demais, imagina ver a letra dela.

-Então esteja pronto para viver com isso todos os dias da sua vida!

[Pausa]

- Você tem razão, mas acho que agora não é hora.

- Você que sabe filho. Espero que essa carta te faça bem.

- Acho muito improvável. Nada sobre ela me fez bem. 

-Entendo... - Suzane responde. - Bom, a viagem vai ser longa, por quê não tira um cochilo Greg?

-Verdade, eu vou tentar fazer isso.

Bons sonhos, ela responde, usando a mesma feição que usou minutos atrás ao me abordar para conversar sobre o que me incomodava, ela realmente era uma velhinha gentil, ela tinha até cheio de naftalina, da pra acreditar? 

A viagem ia ser longa, mas em algumas horas iria me sentir um forasteiro. Nunca tinha saído de perto da minha mãe, afinal.




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⏰ Última atualização: May 03, 2017 ⏰

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