Seu mestre mandou

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E Eric seguia Tarsila pelas ruas iluminadas por postes que se alternavam nas calçadas com suas luzes amareladas, coisa que incomodava o garoto porque tornava o caminho mais assustador do que já era naturalmente devido a baixa circulação de pessoas aquela hora que resumia-se a um trabalhador de lanchonete indo pra casa ou a um perdido nos prazeres da vida tentando ir para casa vez ou outra.

- Pra onde estamos indo? - Eric tentava conseguir alguma informação para tentar se tranquilizar e espantar os medos que lhe acompanhavam - Não que dependendo do lugar eu desista de ir, mas só pra saber se estamos perto.

Ele esboçava um sorriso amarelo na esperança de convencer a menina que sua tia havia adotado. Mas Tarsila era menina da noite e que sabia conhecer o receio na voz de alguém, principalmente na dos homens, e resolveu brincar com a situação:

- Espere e verá, meu caro. - disse dando uma piscadinha de um olho só pro bobão a sua esquerda.

Eric não conhecia esse lado de Tarsila, e levemente chocado chegou até a desacelerar o passo. "Esperar?". "Meu caro?". Confuso, voltou a si ao notar o quanto havia ficado para trás, deu um pique para alcançar sua guia.

- Você é quem manda... Hoje! Hoje é você quem manda. Quer dizer, essa noite é você quem manda.

- Que lindo o nenénzinho assustado tentando sair por cima - Tarsila disse com uma voz abobalhada enquanto apertava a bochecha de Eric.

Aquilo cortara até mesmo o medo que Eric estava sentindo, ele sentiu-se desafiado, subestimado. Inflou o peito e acelerou o passo, fazendo com que ele fosse ficando cada vez mais a frente de Tarsila, mas o efeito esperado não surgiu e ele foi conferir porque ela ainda não estava desesperada correndo para alcançá-lo e ao descobrir a razão ficou irritado em como fora burro. Ela estava virando a esquina numa rua em que ele havia passado reto há instantes, e era óbvio que isso podia acontecer, afinal não era ele quem sabia o caminho. Eric estava correndo novamente para alcançar Tarsila.

- QUe mancada hein, confundi o caminho. - disse ao alcançá-la na tentativa de parecer menos bobo.

Tarsila gargalhou.

- Você não sabe o caminho, Eric - ela deu uns tapinhas no ombro do menino que agora, novamente, via sua tentativa de reerguer sua dignidade falhar. - Mas fica tranquilo que já vamos chegar, só ir reto mais um pouco.

- Ah, então estamos indo a La Mama? Por que não me disse antes?

- Porque não é pra lá que vamos agora. Antes vamos aquecer no BomBar. Fica bem perto e o preço da tequila é bem mais em conta.

- Tequila? Não tem dó do seu fígado?

- Não, e hoje você também não terá, vai me acompanhar e fazer jus a esses dezoito anos.

Eric só havia bebido uma vez, quando ainda era adolescente e estava na festa de dezoito do seu irmão. Não fora uma experiência muito agradável, seus pais descobriram e o colocaram de castigo. Mas estava disposto a uma nova tentativa, e era mais uma chance de superá-la naquela noite.

- Seu mestre mandou, então lá vamos nós.

- Idiota. - Tarsila tentando conter o sorriso bobo de quem está se divertindo de aparecer - Olha! Chegamos.

Eric viu numa mesma rua duas placas luminosas que se separavam por pouco menos de 150 metros, a do BomBar amarela e mais próxima e a da boate La Mama numa mistura de verde e branco. Eric estava começando a desistir de querer estragar a noite de Tarsila e apenas curtir a sua. 

Morte à queima-roupaOnde histórias criam vida. Descubra agora