17: Letal

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☆☆☆
Desespero crescente







        Rapidamente atravessei as fileiras disformes das árvores, dezenas de coisas ruins se passaram em minha cabeça, mas certamente a pior delas seria a morte, Charlie estava lá em algum lugar... aquela coisa ainda podia estar com ele, ele podia estar sozinho... perdido... mas pensar que ele podia estar morto aquela hora naquela prisão de galhos e troncos inundou-me de desespero, os minutos passaram, seguido de horas em que estive vagando e correndo pela floresta quando me lembrei sobre o que Adam disse, sobre não andar sozinha, ele tinha receio de algo e eu também, mas isso não me impediria de ir atrás do meu irmão nunca, jamais.
        E pensar nele só piorava as coisas, só aumentava a desorientação que sentia naquele lugar desolador, principalmente, sabendo que, eu não podia mais pensar nele não somente por haver outras preocupações mais urgentes, mas por exigir de mim mesma... de obrigar-me a esquece-lo não temporariamente, mas irrevogavelmente esquicido, eu precisava esquece-lo. Charlie, meu pequeno irmãozinho precisava de mim e eu não podia mais perder tempo com ilusões, não podia mais deixar que minha mente se dispersasse daquela forma para rumos menos dolorosos como se fosse fácil me desviar da vida real sem ter que arcar com as consequências depois... como se pudesse lidar com aquele debate emocional, até porque pensar em Adam já começava a machucar, a doer... pensar nele era inadmissível tendo em mente que precisava estar cem por cento inteira naquele momento presente, eu podia perder Charlie, e isso sim era muito pior do que dor de cotovelo por um homem mais velho e arrasadoramente encantador.
       Aquilo não era um romance e eu não era a garota excepcionalmente perfeita demais, a heroína que tão logo estaria no calor dos braços de sua cara metade. Mesmo que o que sentisse fosse forte, não havia espaço suficiente naquela dimensão para nós dois, não havia espaço em minha vida para uma felicidade como aquela e Charlie era agora o único motivo com que deveria me preocupar, o resto era sonho e fantasia. Minha corrida sem rumo me levou ao extremo da exaustão, eu estava sem ar enquanto olhava por toda parte em busca de um garotinho louro de familiares olhos verdes quando uma mão e dedos finos e longos pegaram meu braço.
-Eu sabia que você viria... que escolheria outro caminho que o destino fosse escrito por suas próprias mãos... que viria até mim. Disse Mikael, eu o olhei por uma fração de segundo deixando escapar qualquer sentido que continha em suas palavras pelas frestas de minha mente aturdida.
-Não tenho tempo para conversas... tenho que procurar meu irmão. Disse puxando meu braço mas ele não soltou.
-Não sabe o quanto estou feliz que esteja aqui. Disse ele entrando em meu caminho.
-Me deixe passar Mikael. Disse olhando torturada ao meu redor... algum indício... um vestígio que fosse da passagem de Charlie por ali.
-Eu sabia... como pôde?. Perguntou uma voz alta e grossa como o rugido de um leão... Mikael apertou meu braço.
-Não se meta. Rosnou Mikael, me virei era Nicolay.
-Solta a garota. Rugiu Nicolay furiosamente.
-Me solte. Disse puxando meu braço mas ele não largou.
-Recue Nicolay não quero machuca-lo.
-Adoraria ver como você iria fazer isso.
-Estou meio ocupado no momento.
-Em um minuto... não vai estar mais. Disse Nicolay avançando para frente como um urso raivoso e golpeando Mikael bem no meio do rosto com uma direita infalível, Mikael caiu no chão olhei os dois por um segundo meio atordoada e corri começando a gritar o nome de Charlie, para que ele pudesse me ouvir de algum lugar por ali e viesse até mim, ou gritasse de volta, desse qualquer sinal... que não fosse tarde demais... que eu me apressa-se... que o achasse logo... vivo ou ferido... mas vivo era o que importava. A noite começou a se alastrar pelas copas das árvores na frágil luminosidade crepuscular e a seguir a escuridão encobriu a floresta por completo, engolindo-me junto no tenebroso frio que se ergueu com a noite, estava tão escuro, a luz da lua não conseguia resistir a escuridão e irradiar alva e cintilante, em seu meio espectro branco no céu escuro, olhei a escuridão e vi uma sombra mais escura a minha frente, se locomover por entre as sombras das árvores em minha direção, era alguém...
-Charlie?... é você?. Perguntei hesitante, a sombra parou.
-Que maravilha... nunca pensei que minhas andanças me levariam a tanta graça. Dissera um homem, saindo das sombras... os olhos eram indistinguíveis na escuridão, sem brilho, sem cor, apenas escuridão mas sua expressão era de surpresa ao se aproximar mais... quase de espanto.
-Mas que bela dama... como o doce ar da mocidade é fresco, tentador. Disse o estranho a minha frente com sua pele clara do mesmo tom alvo da lua, como se fosse um espectro, um fantasma... ele ficou parado bem a minha frente, olhando-me com um sorrisinho parcial e caloroso.
-Curioso... o que tão formosa criatura faz por aqui tão... sozinha?. Perguntou ele ficando mais perto, eu recuei.
-Quem é você?. Perguntei, ele só me olhava com curiosidade, eu estava sufocada pelo medo.
-Desculpe senhor mas eu preciso ir. Disse passando por ele, mas ele pegou meu braço nu... me assustei, sua mão era gélida, fria como neve, ele olhou para mim e depois para a alça da blusa que deslizava em meu ombro... as costas de seus dedos subiram pelo meu braço deixando um rastro frio... arrepiante...
-Tão cedo... eu que deveria desculpar-me madamedevo-lhe uma apresentação é o mínimo que devo antes de começarmos a nos entender... me chamo...
-Demétrius... espero que tenha uma explicação muito boa para o motivo de estar aqui. Soou uma voz logo atrás, eu me enrijeci reconhecendo aquela voz, olhei para trás... era Adam... ele não olhou para mim e logo atrás dele quatro de seus amigos/seguranças, saíram das sombras um a um. O estranho andarilho pareceu desconfortável ao vê-lo, ele ficou tenso.
-Adam! Que prazeroso reencontro... o mundo não é mesmo tão grande como dizem, não é mesmo meu caro amigo? A quanto não o vejo. Disse o estranho Demétrius afastando-se alguns passos para longe de mim olhando para Adam.
-Não diria que à algum prazer em revê-lo Demétrius... o que faz aqui?. Perguntou Adam andando lentamente até mim mas ainda não me olhava, ele se colocou a minha frente como se estivesse me protegendo do estranho. Eu me mexi atrás de Adam para ver o rosto dele, imediatamente seus olhos de águia se fixaram em mim, ele olhou para Adam.
-Conhece está jovem? Ela me faz lembrar alguém que a muito tempo não vejo, não acha?.
-Ivan, Ian acompanhem o cavalheiro até a fronteira e certifiquem-se de que ele encontre o caminho de volta com segurança por favor. Solicitou Adam em um tom de voz seco e autoritário. Demétrius recusou.
-Não será necessário.
-Eu insisto. Disse Adam seriamente... quando me virei para Demétrius ele não estava mais lá... olhei para Adam quando ele assentiu para dois de seus homens que trocaram um olhar frenético com ele e depois se foram pelas sombras... Adam respirou fundo e colocou a mão no rosto, cobrindo os olhos, parecia preocupado quase aflito, Nicolay andou até ele.
-Acha que ele a reconheceu?. Perguntou ele, Adam suspirou e olhou para mim... desolado.
-Espero que não. Disse Adam, ele ergueu a mão para tocar meu rosto... eu recuei e ele parou.
-Você está bem?. Perguntou ele, olhei o chão, meus olhos arderam...
-Sim.. estou bem.
-Bella... precisamos conversar.
-Por favor... agora não é uma hora muito boa Adam. Disse erguendo o queixo levemente mais ainda sem olha-lo.
-Deixe que ao menos a leve para casa.
-Não posso ir para casa... meu irmão...
-Já estamos cuidando disso... ele vai aparecer logo não se preocupe. Disse ele, a voz tão confiante... eu olhei em seus olhos.
-Você não entende... Charlie precisa de mim...
-Sei que está preocupada com ele mas se perder na floresta também não vai servir de nada Bella... confie em mim, prometo que seu irmão voltará para você.
-Adam...
-Por favor vamos. Disse ele erguendo a mão para pegar a minha mas eu me afastei... ele olhou para mim infeliz mas não insistiu. Vê-lo triste e saber que foi por minha causa me causou dor.
-Entendo... Nicolay acompanhe a senhorita Maquiavéll até sua casa. Disse Adam, ele ainda continuava a me olhar quando passei por ele e por seu olhar triste, e por um segundo de dúvida me perguntei se o que estava fazendo era certo, se o tivesse magoado demais... entretanto, a lembrança da senhora Amy surgiu em mente, porque mesmo que eu o tivesse deixado infeliz, isso mudaria quando ele encontra-se uma mulher de verdade e não uma adolescente problemática igual a mim... seria até reconfortante, um alívio se ele se esquecesse de mim tão rapidamente, seria melhor para mim deixar de iludir-me, que enfim crescesse, talvez seria ótimo essa guinada para a vida real.
-Senhorita... posso lhe fazer uma pergunta?. Perguntou Nicolay a certa altura.
-Faça.
-Você o ama?... o senhor Lichtenfels?. Perguntou ele, eu parei de andar.
-Porque me perguntou isso?. Perguntei, como ele poderia saber disso? Era tão óbvio assim?... ele olhou para baixo meio desconfortável e depois olhou para mim.
-Desculpe pela impertinência senhora... sei que não tenho nada a ver com a sua vida e que não deveria ser tão invasivo mas... o senhor Lichtenfels é um bom homem senhora... ele ja esteve em tempos ruins, estava infeliz demais até que a senhora apareceu e mudou tudo.
-Adam é seu amigo?. Perguntei, ele me olhou admirado quase orgulhoso pela pergunta.
-Bom ele é amigo de todo mundo... não há uma pessoa que possa ser melhor do que ele é... muitas poucas pessoas tem o privilégio de estar ao lado de alguém como ele, que nos oferece mais do que sua amizade mas também toda a capacidade de que o seu coração amável a dar, me orgulho de tê-lo como amigo a muitos anos.
-É mesmo?... e se importa muito com ele?
-Sim.
-E porque?. Perguntei, curiosa com o que disse sobre Adam.
-Ele já fez muito por mim. Disse ele, seu olhar se afastou do meu... ele ficou mais sombrio, pensativo por um minuto... seja lá o que quer que estivesse pensando parecia ter muita relevância para ele.
-Ele me parece ser mesmo muito bom... não me admira que seja muito grato.
-É mais do que apenas gratidão... é uma honra estar ao lado dele. Disse ele voltando a si.
-Explique-me.
-Você teria que conviver mais com ele para saber... há certas coisas que devem ser vistas só assim podemos entender melhor... vá ao hospital na ala Oeste às 13h00, ele sempre vai lá... todos os dias no mesmo horário.
-O que tem lá?. Perguntei, ele sorriu e recomeçou a andar.
-Verá com seus próprios olhos senhora.

A Bella e a FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora