Capítulo 10 - Pensou em não olhar

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"Fechando os olhos pensou em não olhar para o avião; não se deixaria contaminar pelo pior de si mesmo que uma vez mais ia passar em cima da ilha." – Julio Cortázar, A ilha ao meio-dia




Watt levantou-se, pegou sua caixa azul e foi na direção da praça central. Foi entrar na fila do oráculo junto com grande parte dos habitantes da ilha. De longe, com suas caixas nas mãos, Ferrus e Camperine apenas observavam, ainda intrigados com a decisão que teriam de tomar.

- Parece que vai chover. – disse Ferrus ao olhar o céu

- É mesmo!

- O que foi Campa?

- O que foi do quê?

- Você está estranho.

- Estou pensando sobre isso tudo aqui. Sobre nossa vida, essa situação, esse lugar esquisito. Muitas vezes sinto vontade de voltar, encontrar algumas pessoas que eu amo, mas outras vezes acho que elas nem se importam onde eu esteja. Só viemos pra cá porque temos em comum isso: um desapego total de pessoas importantes. No fundo, passamos os anos nos desfazendo delas, cumprindo papeis que nos eram dados sabe-se lá por qual motivo. E agora, tudo tanto faz. Parece que vivemos aquela dialética do meteoro. Sabemos que o mundo vai acabar, mas mesmo assim sentimos uma necessidade de nos fazer presentes aqui. Sabemos que um dia, tudo o que foi história será destruído. Não restarão registros, voltaremos à origem de tudo, que é o nada. E mesmo assim, temos essa necessidade de nos manter eternos. Nada é para sempre, nunca foi e nunca será. Nada definitivo ainda aconteceu e nem acontecerá. Então, se temos que estar presentes simplesmente, que estejamos onde queremos, do jeito que for conveniente. Se você quer saber, eu ficaria aqui dançando para esses caras verdes, a gente inventa algumas coisas, ajuda eles e vai vivendo, porque isso faz parte da vida.

- É...

- Pois é... E vamos descobrir pra que serve essa porra dessa caixa azul!

Nesse momento, a previsão de Ferrus se confirmou. Começou a chover forte na ilha e tudo nela se apagou. Parece que foi como se um sinal tivesse sido cortado, um sinal elétrico ou algo do tipo. A fonte central parou de esguichar petróleo, as TVs desligaram e o oráculo também parou. As pessoas que estavam na fila sentaram-se para esperar a chuva passar, alguns debaixo dela.

Watt estava do lado de sua namoradinha. Os dois batiam o maior papo mentalmente. Ela contava para ele que sempre que chovia acontecia isso, mas que o mau tempo não era tão frequente. Ela achou estranho que ela tentava se proteger das gotas. Riu muito com isso.

- É inútil se proteger da chuva. Deve causar muita frustração. – pensou ela para ele

- Hahaha! Nunca tinha parado para pensar nisso. Temos algo lá de onde viemos chamado guarda-chuva. Uma espécie de cobertura pessoal para evitar que fiquemos molhados. – transmitiu de volta

- Mas a chuva não nos desfaz, pelo contrário, traz de volta a energia purificada. Temos que aproveitar isso, porque é uma oportunidade de interagirmos com o céu.

Watt adorava esses papos. Sua mãe era dona deuma loja de produtos naturais. Só que essa outra perspectiva, da chuva especificamente,mudou sua reflexão e, assim como Camperine, sentia mais vontade de estar ali.Principalmente para descobrir sobre a caixa azul.    

    

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