Capítulo 16 - Um por um

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"Os homens que pensam como rebanhos verão que enlouquecem como rebanhos, enquanto só recuperam a sensatez lentamente, e um por um." – Charles Mackay, Memorando de extraordinários engodos populares e a loucura das multidões



A praça central enchia de vez em quando. Não parecia existir uma regra ou calendário. Ela simplesmente ficava abarrotada de gente que tirava o dia de folga. Podemos dizer que era algo como um final de semana, mas sem essa rigidez que conhecemos e que se repete a cada sete dias.

Aquelas pessoas não conheciam datas e nem tinham essas preocupações. Quando estavam todos equilibrados mentalmente, era natural chegarem à conclusão de que precisavam descansar um dia ou dois, às vezes mais.

Ferrus, Camperine e Watt observavam os comportamentos das pessoas de longe sentados no chão. Seguravam suas caixas, pois naquele dia pretendiam ir ao oráculo.

Muita gente se reunia em frente aos televisores que ficavam do lado de fora dos boxes que circundavam a praça. Neles era transmitido o que acontecia dentro, onde deixavam animas ou crianças brincarem livres. Aquilo era uma diversão imensa para eles. Uma distração pensada por Leoh Wezsin e Craig Lawsl, que tinham o intuito de modernizar o local. A falta que um antropólogo fez nessa mísera equipe deu margem ao oportunismo voraz de um caçador de tesouros brasileiro.

A ilha era explorada constantemente sem que seus habitantes sequer percebessem. Aquela distração toda, o oráculo e todo material tecnológico moderno que chegou lá serviu para coloca-los à disposição. Dóceis e receptivos, eles aceitaram de bom grado, apesar de ainda manterem vivas algumas de suas tradições originais.

As TVs que transmitiam cenas quotidianas era uma parte dessa massificação. Pequenos eventos que aconteciam em locais avulsos na ilha agora eram de certa forma manipulados. Espaços para crianças e animais brincarem e se divertirem viraram atração do povo, para orgulho dos pais e de quem domesticava bichos.

- Que confuso isso. Sempre foi assim, Watt? – perguntou Camperine

- Não sei. Não ganhei a memória deles quando passei a me comunicar pela mente. E eles não falam muito de passado. Para você ter uma ideia, não existe nada com referências antigas aqui. Nem calendário eles têm.

- Verdade. Nossas datas se repetem. Todo ano é a mesma coisa. Vivemos em ciclo, dando voltas. Já eles não, eles andam para frente e nem pensam em olhar para trás. – concluiu Ferrus

- Então, será que olhar para trás nos faz andar em ciclos? Não dos deixa sair do lugar porque queremos sempre voltar no tempo? – perguntou Camperine

- É, a história é uma religião. Ganha ao repetir as coisas inúmeras vezes, ano após ano e sempre com data marcada. – disse Watt

- É, mas se não fosse isso, talvez não existissem regras, ordem, ciência e estaríamos todos vivendo sem recursos. Talvez. – acredita Camperine

Naquele dia, as pessoas estavam mais atraídas pelos aparelhos de TV do que o normal. Talvez tenha sido o recente nascimento de um novo habitante que mexeu com os sentimentos das pessoas. As horas se passavam e quando todos se deram conta, já deveriam formar a fila para visitar o oráculo. Quando se organizaram, com suas caixas nas mãos, começou a cair uma chuva fina que logo desligou todo o sistema. 

 

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Nem sempre dá para entenderOnde histórias criam vida. Descubra agora