"Descobrimos formas de ver objetos distantes, no céu ou em locais remotos; e podemos fazer com que os objetos próximos pareçam distantes e os distantes, próximos, criando distâncias aparentes." – Francis Bacon, A nova Atlântida
Cinco dias se passaram e o cenário era exatamente o mesmo para os três forasteiros da ilha. Watt se sentindo doente, Ferus e Camperine ainda tentando entender o trabalho de Watt que deveriam fazer.
Os dois passavam o dia inteiro dentro do templo com a chave e a arma que lhes entregaram. O silêncio do local era quebrado todos os dias pela multidão que o invadia e, plantados, sem ação, eles apenas observavam o ir e vir de pessoas verdes.
Faziam isso por cerca de cinco, muitas vezes seis horas por dia. Sem intervalo, eram raros os momentos que os dois trocavam palavras, mas, inexplicavelmente, tédio era algo que eles não sentiam, apesar da situação.
- Sua chave está onde? – perguntou quase cochichando Camperine
- No meu bolso. Por quê?
- Troca comigo? Fica um pouco com essa porra aqui?
- Tudo bem.
- Toma.
- Porra, essa merda é pesada pra caralho!
Três quilos, calcularam. Pode parecer pouco, mas para um objeto de poucos centímetros parecia mais do que de fato era. Eram tantas dúvidas que eles nem faziam questão de começar a perguntar a respeito. Talvez fosse melhor simplesmente viver do que questionar a respeito das coisas. Afinal, sempre há o risco de se descobrir o que não quer. Nem sempre é preciso entender, porque nem sempre dá para entender. Melhor deixar pra lá. Deixar as coisas correrem em seu curso natural e dane-se! Será?
- Pra que serve essa coisa aqui? – perguntou Ferrus em voz mais baixa, pois já entravam muitas pessoas no templo
- Parece uma arma.
- Sim, mas o que eles fazem com uma arma aqui?
- Tiro esportivo? Hahaha!
- Hahaha!
As risadas saíram um pouco mais alto que o planejado. Apesar de se recomporem rapidamente, chamaram a atenção da namorada de Watt. Quando ela começou a se aproximar os dois se olharam. E agora?
Ela parou na frente dos dois e ali ficou. Inerte e com os olhos fixados nos olhos de um passando vagarosamente para o outro e repetindo o movimento. As reações de Ferrus e Camperine se resumiam em sorrir, olhar um para o outro, olhar para ela, voltar a sorrir, fazer um gesto com a mão como quem pede desculpas, voltar a sorrir. Um constrangimento sem tamanho.
Ela ficou ali naquele mesmo estado até que todos saíssem do local. E isso durou mais de uma hora, sem a menor dúvida. Mesmo assim, ali continuava ela. Que situação. O que aquilo significava? Quando o local estava em completo silêncio, ela esticou a mão para Ferrus e ele lhe entregou a arma. Ela o olhou com estranheza. Olhou para a arma e voltou a o olhar sem entender e começou a chorar antes de sair correndo desesperada.
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Nem sempre dá para entender
AventuraDepois do desaparecimento de um avião perto da Malásia, barcos de busca de todo mundo saíram pelos oceanos Índico e Pacífico em busca dos destroços. Um desses barcos se perdeu e seus três tripulantes acabaram atracando numa ilha repleta de nativos c...