Capítulo 9 - Os antípodas da mente

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"Tudo o que é visto pelos que visitam os antípodas da mente é intensamente iluminado e parece possuir um fulgor que emana de si mesmo" – Aldous Huxley, As portas da percepção



Mesmo sem consumir nada, Ferrus e Camperine acordaram de ressaca. Dormiram ao relento naquele descampado onde acontecera a festa. Watt dormira em outro lugar, mas já estava ali perto dos companheiros com um olhar perdido e um leve sorriso.

- O que ele tem? – perguntou Camperine

- Deve estar transando mentalmente com a garota. – respondeu rindo Ferrus – Mas o que me interessa é o que você tinha ontem. Que porra foi aquela?

- Cara, eu era dançarino profissional. Coreógrafo de dança contemporânea.

- Você deixou todo mundo maluco. Até eu tentei te imitar, todo mundo tentou! Foi ridículo, mas muito engraçado.

Watt se aproximou e contou a novidade aos dois. Os nativos querem dar abrigo, comida e tudo o que fosse possível para voltar para casa, mas com uma condição.

- Camperine tem que dançar todos os dias para eles. – revelou

- Hahaha! Isso vai ser divertido! – riu Ferrus

- Por mim tudo bem, mas o que a gente quer? Voltar pra casa?

Essa pergunta pegou todos de surpresa. Os três ficaram em silêncio pensando em suas vidas passadas, no que encontrariam caso voltassem à Holanda. Para todos, era tenebroso. Apesar do susto do acidente, das limitações que enfrentavam ali, tudo parecia muito melhor e mais divertido do que ter que aturar a realidade de casa.

Ferrus nunca foi da Marinha. Tornou-se comandante daquela missão porque se alistou depois de fazer um curso de três semanas sobre o barco. Sem trabalho há anos, ele vivia em pequenos cursos para logo após arrumar trabalhos rápidos, como o de conduzir uma missão para procurar um avião perdido. Como qualquer ajuda rápida era bem vinda, as autoridades malaias não fizeram muita questão de documentos com provas. Ferrus levou dois conhecidos e os transformou em marinheiros.

Camperine ganhava dinheiro como artista de rua e tinha técnicas perfeitas de persuasão, que adquiriu depois de fazer um workshop de duas horas com um ex-agente do FBI e comprar seu livro/manual. Conheceu Ferrus no bar ao colocar em prática o que dizia o livro. Em meses, perdeu a conta de quantas cervejas bebeu pagas pelo novo amigo.

Atrás do balcão estava Watt, rindo dos feitos de Camperine com os clientes. Ele mantinha o emprego para pagar as dezenas de garrafas de bebidas caras que quebrava ao tentar fazer malabarismos para impressionar garotas. O patrão tinha pena. Falou muitas vezes para ele parar com essa mania, mas ele continuava. O pior é que quando acertava uma manobra, a garota estava sempre olhando para outro lado ou tinha ido buscar um drink para sua companhia na noite.

Camperine e Ferrus se divertiam olhando as cenas, e assim surgiu essa amizade entre eles, que agora se viam num momento de reflexão. Pensavam porque não sentiam saudades de Amsterdam, se queriam voltar à vida normal ou ver até onde vai essa história. E mesmo se quisessem voltar, será que os nativos poderiam ajudar de alguma forma? "O que você quer?" é de fato uma das perguntas mais difíceis de ser respondida.

 E mesmo se quisessem voltar, será que os nativos poderiam ajudar de alguma forma? "O que você quer?" é de fato uma das perguntas mais difíceis de ser respondida

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