LIVRO 2 -- CAPÍTULO 8.B

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Queridos leitores, antes do capítulo em si, gostaria de umas rápidas palavras.

Primeiramente, peço desculpas pelo atraso. Minha intenção é a de publicar sempre às quartas, mas esta semana não consegui cumprir o prazo e publico agora, quinta -- quase sexta. Na verdade, talvez eu tenha que passar em breve de capítulos semanais para capítulos a cada dez dias. Se for o caso, aviso a vocês, claro!

A segunda observação é sobre o capítulo em si. À medida que escrevi este que seria o capítulo nove, ficou claro para mim que ele se beneficiaria se fosse fundido ao capítulo anterior. Peço desculpas também por isso. A questão é que o primeiro livro só foi postado quando estava todo concluído, ao passo que este esta sendo postado à medida que escrevo, e às vezes sinto necessidade de repensar escolhas, pois é uma obra ainda em formação. Na verdade, quando este livro sair daqui e for para a Amazon, certamente passará por outros aperfeiçoamentos mais.

Se você já leu o capítulo anterior, peço perdão e paciência. Leia este de coração aberto -- algumas informações serão repetidas, mas a maior parte do texto é nova! ;)

É isto! Boa leitura!

***



Muitas horas mais tarde, sentada à mesa em seu quarto, Morgana, em modo de espera, tamborilava os dedos no tampo de madeira e observava a sombra de seu perfil que a chama das velas projetava na parede. Esperar. A ação que mais praticara na vida. Esperar que o pai voltasse de Terrabil. Esperar por vingança. Ambas, esperas vãs. E, agora, cabia a ela esperar que Arthur viesse vê-la quando pudesse garantir o sigilo, pois era casado, e era o rei. Não podia dar-se ao luxo de um tal escândalo. A discrição tinha que ser mantida.

Batidas na porta fizeram seu coração acelerar. Era ele! Correu para abrir, rindo e gritando, "Entrai!"

"Pois não, milady, com vossa licença," respondeu a jovem auxiliar de cozinha, depositando a bandeja de comida sobre a mesa e olhando para Morgana com perplexidade. Morgana sustentou o olhar, tentando disfarçar o embaraço. Fingindo neutralidade, acrescentou, "Está uma bela noite, não acha?" Sentia-se ridícula. Claro que a outra não esperava por aquela recepção.

"Sim, milady! Bom apetite!" disse, afastando-se com ar assustado.

Ora, que o diabo a carregue!, Morgana pensou, como se a jovenzinha tivesse culpa por seu constrangimento, bem como por sua frustração e mágoa com que não fosse Arthur diante de si. Não a apaziguou em nada o fato de que, se lhe enviavam uma bandeja de comida, decerto foi a pedido dele, ao não encontrá-la à mesa do jantar.

No passado, quando ela não descia à hora das refeições, alegando indisposição — justamente para evitá-lo! — ele sempre vinha vê-la, com expressão preocupada, indagando como ela se sentia, o que a irritava muito! Era tolo? Não percebia que ela fugia dele?

Porém, justo agora, que ela faltara à ceia em parte para evitar o desconforto que sentira à mesa do almoço, e em parte na esperança de forçar um encontro a sós com Arthur, por acreditar que ele viria até seu quarto, como era seu costume... ele enviava uma bandeja em seu lugar!

A raiva e a decepção sobrepunham-se ao seu apetite. Sequer verificou o conteúdo das travessas. A esta altura, ele já estaria recolhido com a rainha, tentado fazer principezinhos. Em sua mente, formou-se, nítida, a imagem dos dois, nus, deitados lado a lado no leito do quarto do rei. A pontada de ciúme foi tão forte que lhe causou uma dor física, fazendo-a levar a mão ao peito.

Horas antes, relutara em descer para o almoço, desalentada em ter que fingir que nada acontecera entre ela e o rei. A vontade de vê-lo, porém, fora irresistível e suplantara sua resistência. À mesa, Arthur mantivera-se quieto, e Morgana concluiu que, tanto quanto ela, ele também temia que a menor palavra ou gesto o denunciassem. De vez em quando, seus olhares se cruzavam, e eles sorriam, mas logo desviavam a vista.

Ao lado dele, Guinevere. O coração de Morgana confrangia-se ao olhá-la. Como agradar-se de alguém que tinha o direito de passar todas as noites ao lado do homem que ela amava, sentar-se ao lado dele à mesa, dar-lhe a mão em público? Enchia-se mais e mais de inveja e antipatia pela rainha.

Novamente, alguém chamou à porta. Ele viera, afinal! Como fora injusta! Saltitou até a entrada do quarto, animada, só para irritar-se ainda mais. Era outra serviçal de cozinha, que trazia um caldeirão de água quente para encher a banheira, tarefa que antes cabia a Viviane. A lembrança da dama de companhia tornou o humor de Morgana ainda mais sombrio. Só aí deu-se conta de que não pensava nela desde seu encontro com Arthur pela manhã, e sentiu-se tomada pelo remorso: esquecera-se tão rápido da amiga? Julgava que o mínimo que poderia fazer para expiar sua culpa seria remoê-la e atormentar-se por todos os dias de sua vida, numa mórbida homenagem à memória de sua antiga dama de companhia. Mas exigia um grande esforço desviar seu pensamento de Arthur e voltá-lo ao martírio de Viviane.

As sacerdotisas de Avalon lhe haviam explicado sobre os encontros íntimos entre homens e mulheres, e alertaram-na de que, quando se casasse, teria certas obrigações com seu marido. Porém, elas garantiram, havia meios de satisfazê-lo rapidamente e se livrar da incumbência. O que não lhe contaram era como ela se sentiria. No entanto, o não dito deixara subentendido, ou Morgana assim concluíra, que o ato a desgostaria imensamente. Mas os beijos e carícias de Arthur eram agradáveis, e não pareciam prenunciar nada de ruim. Pelo contrário, punham-na inquieta, desassossegada, ávida por mais. Ainda assim, grande foi sua surpresa ao ser invadida por aqueles espasmos longos e demorados, que a percorreram inteira, relaxando-a e livrando-a do peso do próprio corpo, como se flutuasse.

Na hora, não se lembrara de nenhuma das técnicas para apressar Arthur, e, caso houvesse lembrado, lamentaria desconhecer métodos contrários: prolongaria aquele momento para sempre, se pudesse. Talvez fosse indecente gostar tanto de algo, por isso a recomendação das sacerdotisas para que acabasse logo.

Pouquíssimo tempo se passara desde que a mocinha enchera a banheira e se fora com o caldeirão quando, pela terceira vez, bateram à entrada do quarto.

"Mas que raios!..." Morgana começou a gritar, irritada, enquanto abria a porta ainda a tempo de ver o sorriso morrer no rosto de Arthur.

"Milady, atrapalho? Desculpai, voltarei em outro momento!" ele balbuciou, desconcertado, como um menino que acabou de levar um pito.

"Não, não atrapalhais em nada! Eu é que vos peço desculpas! Achei que fosse outra pessoa, eu... que bom que sois vós!" ela exclamou, fechando a porta atrás dele e jogando-se num abraço. Permaneceram assim por alguns instantes. O peito dele era quente, largo e confortável, e ela apoiou a cabeça ali, ouvindo o coração dele a bater, ao mesmo tempo em que sentia-lhe as mãos, uma a alisar-lhe as costas, outra a acarinhar-lhe os cabelos. Era bom e reconfortante. Sentia-se sob um escudo protetor. Por fim, ele sussurrou, enquanto ainda estavam enlaçados, "Eu pensei que, como não tendes mais uma dama de companhia," e aqui ele fez uma brevíssima pausa, porém suficiente para denunciar seu desconforto em fazer menção a Lady Viviane, "talvez eu pudesse ajudar em vosso banho."

Morgana afrouxou o abraço e o olhou séria por um momento, como que apreendendo o sentido das palavras que ele acabara de pronunciar. De repente, seus lábios se abriram num sorriso largo e ela observou, divertida, "Mas vós não vos pareceis em nada com Lady Viviane!"

"Eu sei, perdão. Foi só uma ideia tola que me ocorreu e..." interrompeu-se ao perceber que Morgana lhe oferecia as costas, pedindo, "Podeis me ajudar com estes botões? Precisamos aproveitar enquanto a água ainda está quente!"



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