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"Aceitai mais um pouco de vinho, milorde?"
Lancelot olhou para a mocinha que servia à mesa de seu último jantar no castelo de Carmélide e fez que sim com a cabeça, concordando com que ela enchesse sua taça pela sétima vez. Sabia que estava bebendo demais, mas era difícil resistir ao entorpecimento oferecido pelo álcool. Ao seu lado, o rei Leodegan tagarelava, simpático e acolhedor como sempre. Concluiu que a ama arrumara uma desculpa convincente para justificar ao monarca por que ele não escoltaria Lady Guinevere de volta para casa, mas isso não diminuía em nada seu constrangimento e sua sensação de incompetência por abandonar suas responsabilidades. Desconfortável, não conseguia concentrar-se naquele falatório, mas tentava fingir prestar atenção. Balançava a cabeça de tempos em tempos e alternava sorrisos vazios com alguns "hum, hum".
O bolo que sentia na garganta, o buraco que parecia haver em seu estômago tornavam impossível engolir algo sólido. Mal tocou na comida, o que só potencializou o efeito da bebida. Sua cabeça foi ficando leve, como se estivesse oca, e parecia levitar sobre o corpo, que ele já não sentia. Seus olhos embaçados buscaram Guinevere, e a névoa etílica através da qual ele a enxergou pareceu-lhe tão concreta, como uma parede real que os separasse! Ele nunca iria transpô-la, nunca alcançaria a rainha!
Ao lado dela, percebeu que a velha ama o vigiava e encolheu-se na cadeira. Por mais que a velha o desgostasse, não podia negar que ela estivesse certa, e ele, errado. Poderia tê-la enfrentado, recusando-se a partir sem a rainha, mas isso seria insistir no erro, continuar a trair o amigo, cobiçando-lhe a mulher durante todo o percurso. Talvez o destino estivesse lhe oferecendo a chance de recuar, impedindo-o de fazer uma besteira de que se arrepender depois. Mas aqueles olhos miúdos e maus de ave de rapina em cima dele o faziam lembrar-se do tratamento humilhante que recebera da ama horas antes. Sem querer demonstrar-se intimidado, juntou o que restara de sua dignidade e encarou-a de volta. Ela desviou a vista. Ainda bem, pois ele próprio estava com dificuldades de fixar o olhar por muito tempo no que quer que fosse. As tochas e velas que iluminavam o salão não passavam de clarões disformes, e as pessoas tinham contornos indefinidos. Faltava muito para o jantar acabar? Tudo o que queria era ficar só! Suas faces queimavam, e tinha certeza de que suas bochechas e orelhas estavam vermelhas, como sempre acontecia quando bebia demais — o que só aumentava seu constrangimento.
Intermináveis minutos depois, a refeição foi dada por encerrada e pôde, enfim, despedir-se. Levantou-se devagar, apoiando-se na mesa, com medo de cambalear. O movimento fez o salão girar ao seu redor. Respirou fundo, fechando os olhos. Quando voltou a abri-los, deu com Lady Guinevere de pé à sua frente, do outro lado da mesa. Ele lhe sorriu, mas ela, ao ser flagrada observando-o, murmurou um quase inaudível "Boa noite, milorde!" com cara de susto e afastou-se apressada, quase empurrada pela ama.
Ombros arriados, numa postura diferente de seu ar altivo costumeiro, Lancelot arrastou-se para seu quarto, trancando a porta atrás de si e escorando-se na parede. Nunca mais pousaria os olhos em Lady Guinevere, ou não durante meses a fio, o que, na sua angústia, era o mesmo. A tristeza, a culpa, a humilhação, o constrangimento o sufocavam. Tragou o ar como se estivesse sem fôlego e começou a esmurrar a parede, a esmurrar e a esmurrar, até que o corpo foi sacudido por soluços e grossas lágrimas de frustração escorreram pelo seu rosto. Irritado, arrancou a camisa e enxugou os olhos com ela, atirando-a no chão em seguida. Olhou para a cama. Não queria dormir. Iria sonhar com ela, como acontecia todas as noites, desde o início daquela viagem. Mas sentia-se exausto. Jogou as calças ao lado da camisa e caiu no leito, como se suas pernas já não suportassem mais o peso do corpo.
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Vale sem Retorno
Ficção HistóricaUm amor condenado pelo futuro. Pelo que não era, ainda seria. Visite uma Camelot como nunca vista, cujo destino é guiado pelo que de fato tem o poder de mudar a História: não as guerras, mas as paixões. *** A ida de Viviane à corte...