Prólogo

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Era inicio de uma noite de inverno, o vento gelado soprava pelas janelas, Nasir Al Saeed olhava pela vidraça da janela o sol, que mais uma vez se punha em seu lugar, dando domínio às trevas da noite, e a cidade de São Francisco dormiria esperando um novo raiar do sol pela manhã. Como para muitos e para ele o sol se punha uma última vez.
Nasir suspirou, sempre com um olhar frio, olhou ao redor de sua sala revisando metodicamente todos os passos de sua missão. - Acredito que estou pronto - falou para si.
Foi ao quarto, lavou as partes do corpo expostas, pegou a túnica branca no guarda-roupa e vestiu-a, agora estava limpo e preparado para a Salat Ichá, sua ultima oração da noite.
Vestido agora como o verdadeiro profeta começou a oração em árabe, como manda o alcorão.
- Bismillahir Rahmanir Rahim...*

* Deus é maior. Em nome de Deus, O Clemente, O Misericordioso!

E assim foi por algumas horas. A alma estava pronta para ir direto para o paraíso, agora precisaria repassar os preparativos para sua missão, onde o alvo já o aguardava. Não poderia haver erros. Não haveria erros. Ele estava preparado, não hesitaria nem um instante, ele era um enviado de Alá, que se sentia honrado pela benção, de poder cumprir o seu destino.
Olhando sobre a estante viu a foto de sua esposa e filho, e por uma fração de segundo sentiu saudades, pois se completariam dois anos que não os via, desde o inicio de seu treinamento, até então ele vivia numa monótona vida de espionagem e informação do grupo terrorista Jihad Islâmica, onde tinha um pequeno papel de vigiar a embaixada americana no Iêmen e passar informações.
Isto ocorreu até o atentado de setembro de 2008, após o notório , teve que dispersar e viver no anonimato por mais de ano, até receber a convocação de tornar-se parte de um plano de ataque pela Al-Qaeda. Sabia que finalmente iria acabar com o seu insignificante papel na história, que o sonho de um mártir iria tornar-se realidade.
A partir do momento que ele aceitou a missão, teve que mudar-se para Omã, país vizinho ao seu, onde abandonou família e conhecidos em sua cidade natal, Áden, sem ao menos despedir-se. No período de treinamento mantinha contato com um só homem, o seu tutor, Sayyid Abdullah Salem. Nasir nunca soube ao certo qual nacionalidade seria a de Sayyid, nunca foram amigos e nem tiveram conversas do nível pessoal, o relacionamento não passava de mestre ao aluno ou vice versa. E isto o ajudou, usando o tempo para se dedicar nos estudos de aperfeiçoamento do inglês, aprendera tudo sobre explosivos, o treinamento foi intenso, mas ficara preparado.
Agora estava nos Estados Unidos se sentindo pronto para terminar sua missão, foi até a mala que recebera do serviço postal Fedex pela manhã, abriu-a, dentro tinha um macacão e boné brancos e uma bota, todos eles estavam envolto com saco plástico transparente, também havia três imãs com a logo da empresa.
Tirou-os do saco, e leu o nome da empresa fictícia no emblema do uniforme.
- Sea Fish. O melhor pescado! - Leu Nasir
Tirou a túnica e vestiu o macacão, colocou o boné e a bota arrumou a foto no bolso da frente. Deu duas tapinhas no peito onde estava a foto e disse numa vã esperança que seu filho e esposa pudessem escutar.
- Amo vocês, sentirei saudades.
Pegou os imãs com a logo da empresa, abriu a porta da garagem, o vento frio cortou o seu rosto, foi até a van branca, que se encontrava perfeitamente limpa, pegou o imã menor colocou na frente e os dois maiores nas laterais do carro.
A van era um modelo Ford Transit Connect adaptado com refrigeração na parte traseira e com a cabine do motorista independente. Abriu a porta traseira da van, se encontravam ali dois recipientes para depositar o pescado, mas ao invés de peixes existiam ali quatro barras de 5 kg cada de explosivo plástico C4 moldado em barra, estava um em cada recipiente, de cada barra do explosivo saia um fio fino que ia escondido pelo assoalho até o detonador, que se alojava no motor do carro.
Toda a sistemática da detonação fora projetada por outras pessoas, que ele não conhecia a van já estava na garagem quando chegou na casa a uma semana atrás, o que ele teria de fazer era colocar os moldes de C4 nos recipientes e ligá-los ao detonador e acionar o mecanismo que ligasse o sistema de detonação. O detonador fora projetado para mandar um pulso elétrico assim que desligasse o veiculo, pois assim que desse na partida no carro não poderia mais desligar enquanto não atingisse o alvo. Isto fora projetado para caso ele perdesse a coragem no ultimo momento.
Nasir foi até o freezer que estava na cozinha, pegou algumas caixas de peixes e colocou-os nos recipientes da van. Ligou a refrigeração do carro, isto era para seguir o script do disfarce, fechou a porta traseira. Foi até a tampa dianteira abri-a, olhou para o motor e perto da bateria do veiculo tinha uma caixa de metal ligada a fios vermelhos, os mesmo que estavam nos moldes de C4, procurou pelo botão de liga e desliga.
Apesar da temperatura baixa, sentiu um fio de suor descendo pelas costas, ligou o mecanismo, uma luz de led vermelho piscou indicando que estava ligado, suspirou, olhou em sua volta verificando se nada estava faltando, fechou a tampa do motor.
Entrou no carro, saiu da garagem da casa, olhou na rua, não tinha ninguém, era uma avenida sem saída e a casa sendo a ultima dava com fundos com um parque, seguiu a noroeste na Avenida Casitas em direção à Avenida Lansdale.
Olhou no relógio, falou pra si mesmo. - 23h45min! Ainda no horário.
Pegou a Avenida Dr Portola, após sair da Avenida Rex, andou aproximadamente 1,2 km para entrar a direita na Rua Clipper, andou alguns metros e manteve a esquerda para Avenida Grand View, já com o trafego mais intenso do que as outras vias, por um momento dispersou a atenção com a lembrança de quando era menino no Iêmen, seu pais natal, uma infância sofrida, já que seu pais estava no ranking de uns dos países mas pobres do mundo, e ele provara isto.
Tinha rodado uns 1,1 km quando o navegador GPS alertou dizendo.
- Curva suave à direita para a Rua Market!
Virou na Rua Market e andou por 1,2 km, olhou no relógio, o percurso tinham durado 12 minutos, virou a direita na Rua Castro, andou alguns metros e avistou a Delirious Night Club, a rua estava repleta de bandeiras de arco-íris, simbolizando o movimento LGBT, o bairro Castro é famoso pela predominância de moradores homossexuais. Aproximou da boate e entrou com a van na entrada, batendo em alguns carros parando à porta da boate.
Meio tonto olhou e viu a bandeira na porta e algumas caveiras, já aglomerando pessoas pra ver o ocorrido, o barulho de alarme dos carros e algumas pessoas gritando.
O coração batia forte com a adrenalina, agora não sentia mais frio, notou que o carro ainda estava ligado, levou a mão na chave, ouviu um batido no vidro a sua esquerda e ouviu a pessoa gritando.
- Senhor, senhor, está tudo bem?
Olhando ainda meio lento para o que estava pra acontecer, ainda antes de desligar a chave viu um individuo todo tatuado no rosto, com piercing no nariz e orelhas.
Logo estarei... Mas no paraíso! - pensou e desligou a chave do contato.

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