De pé, parada junto à sacada que lhe permitia ver o salão do bordel. Com os olhos sem foco, Dária fitava o nada. Mesmo com o barulho ambiente alto vindo do salão, e a atitude bárbara de um dos clientes brigando com uma de suas garotas, ela nem piscou.
Apertou o parapeito de pedra e respirou fundo, fazendo seu peito encolher dentro do espartilho apertado. Por que aquele íncubo estava bagunçando a sua vida? Tudo parecia bem até ele aparecer, nunca antes nada a fizera questionar se o fantasma de seu marido ainda interferia em seus atos. Contudo, depois do que ouvira de Elzor, ainda que odiasse admitir, seu passado a mantinha sim distante das pessoas, dos homens principalmente...
Porém não permitiria que outro tomasse as rédeas de sua vida outra vez! Deu um soco no parapeito de pedra, fazendo rachar e formar um buraco onde sua mão o atingiu. Talvez Elzor estivesse certo e nem todos fossem como seu ex-marido, entretanto... NÃO correrei o risco outra vez!
Daria ergueu a cabeça e fitou o salão lotado. Aqueles porcos lá embaixo representavam bem tudo o que os homens significavam para ela.
Por fim, irritou-se de ficar ali e caminhou para longe, de volta à uma de suas salas. Passou pelo corredor vazio, iluminado por pequenas lâmpadas presas à parede, até chegar a uma pesada porta de madeira. As sobrancelhas dela se ergueram, junto ao estranhamento por encontrar a porta semiaberta. Poderia jurar que a deixara trancada. Empurrou-a levemente, entretanto o movimento sútil não evitou o ranger.
A dama enrijeceu o corpo e afunilou os olhos, a fim de enxergar melhor sob a pouca luz. Seja lá quem estivesse ali, ela estaria pronta para enfrentá-lo. Assim que entrou na sala viu uma silhueta escura, que se destacava na escuridão. Estava prestes a atacar seja lá quem fosse o infeliz que tivera a ousadia de invadir aquele lugar, quando o ar do ambiente tomou conta de seu nariz, trazendo consigo o cheiro do invasor.
– O que fazes aqui?! – O rosado que escapou por entre as presas de Dária fez as paredes do local tremerem.
Aron acendeu uma vela que estava ao seu lado em um castiçal cumprido. E a pouca luz trêmula foi o bastante para dar forma ao seu belo rosto. Ele exibia um sorriso sutil na curva de seus lábios.
– Tuas garotas foram bem gentis comigo ao me trazerem até aqui.
A calma na voz dele apenas deixou Dária ainda mais furiosa. Como ele ousara invadir sua casa?!
Atravessou a distância entre os dois em uma fração de segundo e arrancou-o da cadeira, puxando-o pela gola do casaco, e pressionou o duque contra a parede. O choque de suas costas contra a superfície fria causou um forte estrondo pela força e fúria com que foi jogado.
Aron observou a forma como ela lhe encarou, com os olhos afunilados as pupilas dilatadas, tornando negro o vermelho vivo dos olhos dela; a boca semiaberta com as presas a mostra. Os dedos logos e delicados puxando com força a gola do seu casaco, ao ponto de ouvir o tecido se rasgando aos poucos. Não havia calma nem mesmo em sua respiração, que fazia subir e descer, em movimentos nada sutis, os seios fartos da dama.
– POR QUE NÃO ME DEIXAS EM PAZ?! – Ela gritou por entre as presas, com o rosto a poucos centímetros do dele.
Aron correspondeu ao olhar penetrante dela, mas com uma serenidade que a surpreendeu. O lorde realmente não temia nem um pouco as ameaças, apesar da vampira pressioná-lo, o corpo dele estava relaxado.
– Por que eu te quero, e desistir não é uma opção. A princípio eras apenas a mais bela das mulheres que já vi, porém quanto mais tentas me afastar mais eu lhe desejo. Podes tentar manter-me longe de ti, mas jogarei teu jogo até que eu o vença. – Aron envolveu um dos braços na cintura dela e o manteve firme.
Os dedos de Dária se afrouxaram devagar, até que ela o soltou. Com os olhos ainda fixos no do íncubo, buscou palavras para repudiá-lo, mas não encontrou.
O duque percebeu que havia a deixado sem reação, e aproveitou para aproximar-se mais, ao ponto de seus lábios quase se tocaram. Quando Dária se deu conta do que ele estava prestes a fazer, empurrou-o para longe a fim de se libertar. A força foi tanta que a cabeça do lorde se chocou contra a parede outra vez, e o estrondo foi ainda mais alto.
– Deixe-me em paz!
– O que há de tão errado, por que tens tanta raiva? – Deu um passo na direção dela. Entretanto, assim que os seus olhos se cruzaram, Aron entendeu que o melhor era manter distância.
– Não me curvarei diante de ti, se és o que pensas! – Com os olhos em um formato triangular, as narinas afastadas, ela bufava como um animal em fúria. – Eu não deixarei um homem me subjugar novamente, tratar-me feito escrava.
Aron a encarou e não conseguiu conter a gargalhada, forçando-a a encará-lo, confusa.
– Eu não sei o que aconteceu a ti, de certo algo terrível para alimentar tamanho ódio. Mas tentar domá-la seria tolice. – Ele a encarou com um ar de deboche, como se aquilo fosse óbvio. Se quisesse alguém fácil de controlar estaria com uma humana ingênua.
– Saia daqui! – Ela bufava menos, mas seus olhos desconfiados demonstravam que não estava nem perto de ser convencida.
– Está bem. – Aron respirou fundo. – Eu a deixarei em paz por hora. Porém, saibas que esse é um jogo que eu me recuso a perder ou sequer desistir.
Dária o assistiu caminhar até a porta com passos firmes e confiantes. A forma como ele lhe deu as costas sem medo algum de que ela o atacasse deixou bem claro que ela não o manteria longe com ameaças. Nunca tentara matar um demônio antes, contudo, a forma como ele agia demonstrou que tal investida não seria tarefa fácil.
Caminhou até a poltrona, onde há poucos instantes ele estava sentado. Como ele ousara invadir meu lugar, sentar-se em meu trono?
A vampira permitiu que seu corpo caísse sobre o assento. Com a respiração urgente e mãos trêmulas, ela sentia um misto de ódio e uma ponta de desejo que se recusou a admitir. A incessante ira era reprimida por um sentimento de quase curiosidade. Não podia negar o quão belo e sedutor era o homem, e que a determinação dele a instigava. Entretanto, lembrou-se de que ele era um íncubo. Seduzia e matava suas presas...
Dária sacudiu a cabeça, tentando colocar os pensamentos em ordem. Estralou os dedos sob as luvas de renda e respirou fundo. Riu baixinho, chegando a quase admitir que era irônico o motivo pelo qual ela o julgava. Seduzir e matar para alimentar-se fazia parte de sua própria natureza. Quem era ela para recriminar o íncubo por isso?
Ele era um homem, agiria exatamente como os outros, tal afirmação feita em seus pensamentos pareceu menos verdadeira quando as palavras de Aron ecoaram em sua mente: Tentar domá-la seria tolice.
Um fato que Dária teimava em desconsiderar é que ela não era mais a jovem perdida e frágil dada em casamento há mais de duzentos anos. O homem, ainda que ousasse desafiá-la, não parecia ser tão bárbaro quanto seu marido fora. Talvez fosse a hora de se dar uma segunda chance?
Besteira.
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Do Sangue Ao Desejo (Desejos Sombrios 1) - Degustação
RomanceEle é um predador, um lobo em pele de cordeiro. No entanto, ela não é uma presa como as demais mulheres, e para conquista-la precisará de mais do que o seu poder de sedução. Aron Donovan é um duque irlandês que vive com duas irmãs na Londres vit...