Capítulo 5

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Aron ergueu a xícara de chá e levou-a até os lábios. Olhou além da vitrine de vidro do café para a chuva fina que caía lá fora, molhando a calçada e aqueles que passavam por ela. As pequenas gotículas de água pareciam brilhos nos casacos negros dos homens. O clima frequentemente nublado e chuvoso de Londres o agradava. Era bom sentir a brisa úmida e fria no rosto. Ter se mudado para lá fora uma boa escolha.

– Aquele é o tal Duque da Irlanda? – Aron ouviu uma mulher comentar.

Com o canto de olho, sem mover a cabeça, olhou para ela de forma discreta, para que não percebesse que ele a havia escutado. A senhora que já apresentava uma idade avançada estava sentada ao lado de outra mais nova, talvez sua filha. Ambas usavam vestidos claros e sofisticados; tinham cabelos loiros cacheados, presos em coque no alto da cabeça; e grandes olhos azuis que encaravam Aron sem a menor discrição.

O lorde continuou a beber seu chá, fingindo não as ter notado. Riu por dentro do quanto as mulheres pareciam curiosas sobre sua presença.

– Ele é ainda mais bonito pessoalmente do que ouvi comentarem. – As bochechas da mulher mais jovem ficaram rubras quando ela disse aquilo à mãe. Para Loreley, não o olhar se tornava uma tarefa mais difícil a cada segundo que se passava. Várias mulheres da corte haviam comentado com ela sobre o duque recém-chegado, mas imaginara que estavam sendo exageradas demais quanto à beleza do homem. Contudo, diante dele, achou os boatos um tanto modestos. Se a perfeição existia, ela era encontrada nas linhas que traçavam o corpo daquele homem...

– Será que ele deixou a esposa na Irlanda? – Loreley ouviu sua mãe perguntar e foi sugada para fora de seu devaneio.

– Até onde sei ele ainda é solteiro. – Virou-se para a mãe em meio a um longo suspiro. SOLTEIRO, aquela simples palavra ecoou em sua mente por longos segundos.

Anastácia encarou o homem causador dos delírios da filha. Até mesmo ela, uma mulher de idade, casada e já sem esperanças de viver uma aventura, precisou que se conter quando um leve calor percorreu seu corpo. Ele realmente era muito belo, belo até demais para um homem cheio de posses e solteiro. Coçou o queixo. Algo de muito errado teria de haver. Em seus tempos de donzela mataria para ter o coração daquele homem e juraria não ser a única.

– Ele deve ter um defeito terrível. – Encarou os olhos da filha, tentando de alguma forma alertá-la. Já vivera muito tempo para saber que as pessoas, principalmente os homens, não eram perfeitos.

– Ou talvez só não encontrou a moça certa. – Suspirou com os olhos brilhando.

Aron parou de prestar atenção na conversa e voltou a encarar a rua, onde uma senhora gritava furiosa com a carruagem que quase a atropelou. Pensativo, ele encarava o horizonte e nada ao mesmo tempo. Um defeito terrível, um defeito mortal.

Vagando em sua própria mente, ele lembrou-se da mulher misteriosa na sacada do bordel. Ainda que a tivesse visto apenas por uma fração de segundos, nenhuma lembrança lhe era tão forte. Com os ombros para trás, o peito levemente estufado e cabeça em pé, ela não tinha o medo e pudor das mulheres que conhecia. Aron viu nela a mesma força e poder que só reconhecia em suas irmãs.

Quem és, bela dama?, pensou como se talvez ela fosse capaz de respondê-lo.

Os devaneios a respeito dela só atiçaram ainda mais sua curiosidade. Voltaria a vê-la?, torcia para que, caso sim, isso acontecesse logo.

– Uma moeda por teus pensamentos. – Isabel se aproximou da mesa e sentou-se em uma cadeira diante do irmão.

– Nada importante. – Aron desconversou ao erguer a cabeça para encarar a irmã.

Do Sangue Ao Desejo (Desejos Sombrios 1) - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora