Capítulo 11

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Sob a luz sutil e amarelada de um pequeno abajur, a dama estava sentada na poltrona de leitura do duque, ao lado de uma pequena estante onde o lorde deixava seus títulos favoritos. Ela usava um volumoso vestido de cor púrpura, com uma sobressaia de renda negra e um espartilho apertado da mesma cor, que deixava uma sensação de que, a qualquer momento, seus seios escapariam para fora do decote.

Dária ergueu os olhos e o encarou enquanto entrava no quarto.

Os sentimentos verdadeiros se manifestam mais por atos que por palavras.

– Shakespeare. – Aron sussurrou ao fitar os olhos vermelhos dela.

– Tens livros interessantes aqui. – A vampira fechou o que estava em suas mãos e o devolveu à estante. – Duque Aron Donovan, é mais fácil encontrá-lo do que imaginei. Todos falam sobre ti. Discrição, de fato, não é um de teus pontos fortes.

A expressão de surpresa no rosto do lorde aumentou ainda mais, não esperava vê-la ali, menos ainda sem rosnar para ele como um animal feroz.

– E por que procurastes por mim? Pela forma que me tratastes, pensei que não me quisestes por perto.

– E não quero. – O olhar dela se afunilou um pouco. – Mas a tua insistência, confesso, deixou-me um tanto intrigada.

Os lábios de Aron se curvaram em um singelo e quase imperceptível sorriso. Sabia que a dama jamais admitiria, contudo, a presença dela ali, demonstrava que ele havia fragilizado o escudo que ela tentava manter.

Dária manteve os olhos fixos no homem, atenta a qualquer reação. Questionou-se se havia tomado a decisão certa indo procurá-lo, entretanto era tarde demais para tal pensamento: impudente ou não, ela já estava ali.

Decerto era fácil perceber como o lorde seduzia as mulheres. De uma beleza pouco sutil e presença marcante, até mesmo as mais distraídas o notariam e sonhariam com uma migalha de sua atenção. Com traços masculinos fortes, sobrancelhas grossas, ombros largos e mãos grandes, era difícil não suspirar diante dele.

– Pensas que a tua beleza me basta, Duque?

– Nunca quis que bastasse. – A voz dele era firme.

Com alguns passos Aron diminuiu a distância entre os dois, ficando a poucos centímetros dela.

– Sou um íncubo, fui feito para ser belo. – Aron pousou os dedos nos lábios carnudos e vermelhos dela, mas Dária o mordeu, irritada pela ousadia. – Não quero que isso baste. – Deixou que a gota de seu sangue sujasse os lábios da vampira. – Quero que o meu desejo por ti, baste. Que a minha vontade de a ter ao meu lado baste. Que ter a mim ao teu lado baste para fazê-la esquecer o que quer que tenha acontecido ao ponto de fechar-te tanto.

Dária passou a língua pelos lábios, sentindo o gosto do sangue do íncubo. Ele tinha um sabor distinto, afrodisíaco, mais amargo e forte do que o sangue humano. Desejou poder tomar mais, pois o sangue dele tinha uma energia gigantesca.

– Não sabes de nada. – Dária se colocou de pé e empurrou-o para trás. – Não sabes o que um homem já me fez passar quando eu era humana.

– Não, eu não sei. Porém, engana-te se acreditas que tudo será da mesma forma. Apenas priva a ti mesma de viver melhores momentos.

– Falas como se fosse tão simples. – A dama respirou fundo, hesitante. As palavras de Aron a estavam deixando confusa. Pareciam tolice, entretanto Dária ainda se questionava, tentar se proteger por todos esses anos a havia privado de ter alguém que realmente a quisesse?

Do Sangue Ao Desejo (Desejos Sombrios 1) - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora