Capítulo 2 - Novata

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Acordei com um feixe de luz solar incidindo sobre minha face. Não fechara as cortinas por completo, então os raios encontraram facilidade para adentrar o recinto, ainda com caixas espalhadas por toda a sua extensão. No dia anterior, estava exausta, então acabei por não concluir a organização do meu quarto. Simplesmente me joguei na cama, à espera de um sono demorado o suficiente para me fazer pular o dia que estava por vir.

Claro que não deu certo. Lá estava eu, acordada, com os nervos à flor da pele, prestes a enfrentar um novo ambiente escolar.

Levantei-me com um salto da cama e olhei o relógio do meu celular. Acordara mais cedo do que deveria, logo teria tempo suficiente para me arrumar com calma. Fui em direção ao banheiro e me lancei debaixo da água morna que escorria do chuveiro. Aproveitei o momento para esvaziar minha mente de toda a negatividade permeando aquela mudança súbita. Eu nada podia fazer para mudar a situação atual. Precisava seguir em frente e fazer o possível para que desse certo.

Após o banho, prendi a toalha em meu corpo e caminhei até o closet. Conseguira arrumar algumas das roupas, mas os grandes espaços vazios ilustravam que muita coisa ainda não fora posta em seu devido lugar. Buscando a sacola do uniforme, encontrei-a no canto superior direito. Era marrom, com detalhes em dourado e a sigla "AT", referente ao nome do colégio.

Tive de conter o riso.

  — Quem inventou essa roupa tinha algum problema sério de moda.

O uniforme consistia em uma saia marrom, plissada e com comprimento mínimo, uma blusa social branca, uma gravata vermelha e blazer da mesma cor da saia. Tinha como ser mais brega que aquilo? Sim. Acrescente sapatilhas vermelhas ao conjunto.

  — Achava que ia à escola, mas vou a um circo com essa roupa —falei, enquanto punha a vestimenta exótica. O uniforme da minha antiga escola não era tão espalhafatoso assim.

Assim que vesti meu uniforme, tentei arrumar o meu cabelo para deixá-lo mais apresentável. Uma pena que o curto tamanho dele não me permitia trabalhar com penteados mais elaborados. Resolvi, então, deixá-lo solto, mas antes modelei os fios castanhos com a chapinha. Se deixasse ao natural, ia parecer um ninho de passarinhos.

Tendo acabado todo aquele ritual chato de beleza, desci as escadas e fui em direção ao salão de café da manhã. Mas é claro que antes me perdi até encontrar o local. Aquela casa era um mundo. Quando cheguei, meu pai e minha mãe já estavam fazendo suas refeições. Óbvio, não preciso dizer que a "princesa" ainda estava dormindo. A pele sensível dela não aguentaria o ar matinal.

  — Bom dia — falei, assim que adentrei o recinto.

  — Bom dia, querida —falou o meu pai, virando a página do jornal —Ansiosa para hoje?

  — É um misto de ansiedade e medo. Sei lá, é meio complicado. São pessoas novas.

  — Lembre-se de que não será a única novata. Outras estão na mesma situação. Basta relaxar e seguir o fluxo.

  — Exatamente, fique calma. Tem o seu bolo de laranja favorito. Coma um pedaço, vai te fazer bem  — disse minha mãe, Clara, inclinando-se em direção ao bolo para cortar uma fatia para mim.

Comi o mais rápido que pude. Queria chegar logo e viver aquele momento sem medo. Sem mais delongas, engoli o que restava do meu café da manhã e me levantei da cadeira às pressas. Antes que eu pudesse correr, meu pai me parou com o soar de sua voz grave.

   — Ainda não contratamos um motorista definitivo. Michel a levará à escola hoje. Pegue o material necessário. Ele já está à sua espera, na garagem da frente.

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