Dante Sutcliff era meu cunhado. A vida me trouxe tantas surpresas que não mais sabia o que esperar no futuro. Enquanto o loiro me encarava, foi como se tudo ao nosso redor congelasse e o tempo parasse. Minha respiração falhou e senti as pernas tremerem com o impacto emocional por que estava passando. Queria pensar naquilo tudo com um pesadelo passageiro, mas a sensação angustiante me relembrava que era a vida real.
— Alice — ouvi meu nome ser chamado por Esther — não vai se apresentar?
Não percebera, mas a maioria já o havia cumprimentado.
— Claro! — eu me aproximei, segurei a mão dele e a apertei com força. Ele fez uma expressão de dor no início, mas logo ela se transformou em um sorriso debochado — Prazer, sou Alice, mas acho que já nos conhecemos, não?
— Muito bem lembrado. Fiz sua entrevista hoje de manhã. Não foi?
— É claro, como não me toquei? É óbvio que já se conhecem. Dante é seu diretor. — ela se aproximou dele, como se fosse cochichar, mas falou em voz alta — Pode pegar pesado com ela.
— Com prazer — ele continuava a sorrir, vitorioso com a situação embaraçante em que me encontrava.
— É tão bom ter você aqui hoje! — falou minha mãe — Entre. Preparamos um jantar muito especial.
— Não precisava isso tudo. — ele disse, parecendo tímido.
Que cara falso! Quero rasgar a cara dele.
— Não precisa ficar tímido, amor. — Esther disse, passando o braço ao redor do de Dante — Tudo foi feito com muito carinho só pra você.
Eu não podia acreditar na cena que estava a assistir. Quanta melosidade, deu até náusea! Ver Dante pagar de bom moço e Esther de apaixonada parecia uma piada. Dante eu sabia que fora ator, mas não sabia que minha irmã teria tanto talento para esse ofício.
Fomos todos à sala de jantar, com os dois pombinhos grudados um ao outro durante o trajeto. No momento em que fomos nos distribuir pela mesa, meu pai e minha mãe se sentaram em um lado, Dante e Esther do outro e eu resolvi ficar na ponta. Em minha diagonal, ficaram Esther e minha mãe. Respirei aliviada. Não queria ficar próxima àquele pervertido. Pensei no que ele poderia tentar fazer comigo por debaixo da mesa, mas quando senti que estava prestes a corar, afastei aquelas ideias absurdas de minha mente.
As entradas começaram a ser servidas. Enquanto todos comiam, assuntos aleatórios eram discutidos. Me abstive de falar qualquer coisa. Fiquei calada em meu lugar, comendo, alheia à conversa que se desenrolava durante o jantar.
Percebendo meu estado mudo, meu pai tornou a falar comigo:
— Filha, está tão calada.
— Só estou cansada.
— Imagino que esteja. Hoje foi seu primeiro dia de aula... — como em um estalo, ele se dirigiu a Dante — Falando no colégio, como anda a administração?
— Vai bem. Pensei que não conseguiria, mas dirigir uma instituição não é tão ruim assim, dá muito trabalho, mas nada que não possa resolver.
— Soube que são muitos alunos. Consegue assumir o controle disso tudo?
— Claro. Temos políticas para suportar esse contingente. Tratamos os alunos com os métodos necessários para os manter sempre na linha.
Métodos? Eu conheço seus métodos, bandido.
Como se tivesse lido meus pensamentos, Dante me enviou um olhar cortante. Talvez estivesse me alertando a respeito de eu soltar alguma coisa que pudesse manchar sua reputação. Isso se ele tivesse alguma.
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Escarlate
Mystery / Thriller"Escarlate - a cor do fogo, da paixão, do desejo e do sangue que escorre por minhas mãos". Alice Middleford, integrante de uma poderosa e prestigiada família, é forçada a se mudar para Turjitown, novo local de trabalho da irmã mais velha e mod...