Capítulo 7 - Festa

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      Mesmo dias após a conversa com Dante, o assunto não conseguia escapar de minha mente. Milhares de teorias surgiam, desde as mais simples às mais mirabolantes. Sabia que meu monólogo não iria levar a nada. Não era nenhuma profissional para compreender a complexidade da situação. Daniel estava morto e nada poderia ser feito, nem mesmo descobrir o autor do crime.

      Por querer relaxar e esquecer o que me fora dito, aceitei o convite de Charlotte para uma das famosas festas de Valentina. Assim como eu, minha amiga também queria se desvencilhar das más lembranças. Só que, ao contrário de mim, ela já descartara a possibilidade de haver um assassinato por trás de toda a história. Isso com certeza a estava deixando mais tranquila. No entanto, eu estava uma pilha de nervos com aquele cenário angustiante.

      Um assassino na escola? Eu esperava que não.

      Quando Charlotte me ligou no dia anterior, na sexta-feira, eu acabara de chegar em casa. O telefone celular começou a tocar enquanto eu estava no banho, então saí correndo, sem toalha e molhando o quarto inteiro, até a cama.

      Peguei o smartphone e reconheci o nome no identificador de chamadas.

  — Alô? 

  — Alice, amiga, é amanhã.

  — O quê? — perguntei, confusa.

  — A festa na casa de Valentina, claro. Já falei com Helena e ela confirmou. E você?

  — Sabe, não estou muito no clima... E ainda tenho que perguntar aos meus pais...

  — Eu sou uma das pessoas que menos está no clima, mas preciso disso para me distrair, sabe? Vamos, vai ser bom pra gente.

  — Charlotte, não sei...

  — O que você planeja fazer amanhã? Nada, não é? Então, vamos! Você precisa conhecer umas pessoas novas.

  — Tudo bem, tudo bem. Como é essa festa?

  — Vai ser uma festa na piscina, então nem precisa me perguntar a roupa para ir. Já deixei claro.

      No sábado, a roupa se tornou exatamente o meu dilema. Em Buoregon, eu não costumava ir à piscina e, muito menos, à praia. Revirara todo o meu closet até finalmente encontrar uma peça de banho apresentável. Era um biquíni branco, franzido, com detalhes em azul-marinho nas bordas. Pus a roupa de banho e, por cima, uma vestimenta despojada.

      Peguei minha bolsa e desci às pressas. Esbarrei-me no meio do caminho com Michel, que abriu um sorriso para mim.

  — Senhorita, para onde vai? Finalmente contrataram um motorista! Quer que eu o chame?

  — Oi, Michel. Não precisa, vou à casa de uma... conhecida. Charlotte está a caminho, vindo me buscar.

  — Seus pais sabem disso? Não quero bancar o chato, mas você sabe que se não souber onde você está, eles me engolem vivo.

— Nossa, você é insuportável — falei, brincando — Sim, eles sabem, pode ficar tranquilo.

— Eu estou, mas você não parece tanto assim.

      Michel e o dom de saber meu estado emocional.

— Estou só um pouco... ansiosa, eu diria. É minha primeira festa com o pessoal de Turjitown. Só em ser na piscina já é óbvio que será completamente diferente das de Buoregon. Além disso, sabe que sou a pior pessoa do mundo para se entrosar com quem não conhece.

      Michel riu.

— Entendo. Mas relaxe. Depois de um empurrãozinho, sei que você consegue se sair melhor do que ninguém no quesito "fazer amizades".

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