Capítulo 11 - Desespero

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      Com os joelhos dobrados sobre o assoalho de madeira, vi minhas lágrimas indo de encontro ao chão. Queria poder correr, fugir daquela situação, pensar que tudo não passara de um sonho, uma ilusão da minha mente. Os gritos abafados de Jonas ressoavam em meus tímpanos, mas eu não conseguia entender nada. Minha consciência berrava mais alto, desesperada, impotente.

  — Alice, sai daí e vai pedir ajuda! Alice, porra! — as palavras do loiro me atingiram e logo meu corpo se levantou, completamente desengonçado e trêmulo.

      Saí correndo pelas corredores, balbuciando termos ininteligíveis. Eu estava assustada. Um assassino estava a solta e poderia aparecer a qualquer instante, talvez até naquele momento em que estava buscando ajuda.

      Segundo Charlotte, ela estaria na biblioteca, no 2° andar. Segui até o recinto a passos largos e, assim que bati a porta ao abri-la, olhares surpresos pousaram sobre mim. Talvez estivessem indagando para si mesmos o motivo para eu estar banhada em lágrimas e com o rosto inchado. Avistei minha amiga em uma das mesas, livros de diversos tamanhos espalhados pelo local em que ela se encontrava.

      Encontrei força para bradar as seguintes palavras:

— P-Por favor, alguém nos ajude! Renata, do 3-C, está morta na sala do clube de jornalismo!  — um soluço cortou a sequência de minha fala — Chamem uma ambulância, a emergência, qualquer coisa, eu não sei mais o que fazer!

      Alguns adultos, provavelmente os responsáveis pela organização da biblioteca, saíram em disparada do lugar. Ouvi uma voz feminina fazendo contato com alguém pelo telefone. Quando ela sibilou o nome "Dante", uma onda de ódio tomou o meu corpo. A expressão, antes de tristeza, transformou-se em uma raiva profunda. Se o encontrasse em minha frente, esganaria-o de todas as maneiras possíveis. Se ele tivesse aberto o jogo, poderíamos ter evitado mais um desastre.

      Enquanto remoía meus sentimentos, uma garota de cabelos ruivos me abraçou. Seus olhos verdes estavam marejados, o sorriso de sempre mais uma vez desaparecera. Retribui o abraço e começamos a soluçar em conjunto. Cravei minhas unhas em suas costas e deitei minha cabeça em seu ombro.

— Lice... o que está acontecendo?

— Eu sei, Charlotte, eu sei.

      Ela se soltou do abraço e me olhou com um olhar interrogativo.

— Você sabe? — a fala saiu trêmula.

      Assenti com a cabeça.

— Então me fale. Você não precisa carregar o peso disso sozinha! — ela apontou para mim — Olhe como você está! Isso está te desgastando mais do que deveria.

      Não consegui responder. Apenas sequei as lágrimas e continuei a encarar minha amiga.

— Isso que está acontecendo... Tem alguma coisa a ver com o assassinato de Daniel e o seu afogamento?

— Sim.

      Charlotte cerrou os punhos.

— Eu sabia. Desde o início eu pensei que a morte de Daniel não foi um simples acidente. Não estava errada, então. 

  — Charlotte, eu sinto muito. Eu queria ter contado a você e a Helena tudo que eu sabia desde o inicio. No entendo, eu prometi a Dante... Eu prometi a Dante que não falaria nada. Ele não queria assustar vocês. Eu não queria assustar vocês. Mas agora... Eu estou tão perdida, Charlotte. Queria poder resolver isso, mas como vou conseguir sozinha? Isso está me consumindo. Desde que descobri, passei noites em claro, tentando montar o quebra-cabeça... Mas eu parecia só conseguir complicá-lo ainda mais.

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