CAPÍTULO III - O Mundo Sem Luz

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Capítulo Três

O Mundo Sem Luz

Por alguma razão que não conseguia explicar, Edgar foi tomado por uma onda de energia viva, podia sentir como se tivesse um sol dentro do peito, o aroma almiscarado ao seu redor superexitava seus sentidos e fazia com que se sentisse mais vivo, vibrante.

Não estava mais na estação Central, sabia disso, e tinha a nítida impressão de que não era mais cego, embora não fizesse a menor idéia de onde estava e como chegou ali.

Embora assustado, tudo que percebia naquele momento era a forte e inexplicável conexão dele com aquele lugar.

Edgar agora podia sentir as alamedas a sua volta, os edifícios que tocavam o céu; sim existiam edifícios lá...existia um céu e tudo era tátil a sua volta.

Tudo que estava a sua volta podia ser sentido, como se estivesse ligado a tudo e tudo ligado a ele. Os sons, os odores, tudo falava com ele e, ele involuntariamente respondia de volta.

Se a sensação que sentia podia ser comparada a algo no mundo dos que podem ver, ela seria análoga à sensação de um morcego ao receber de volta as ondas sonoras que emitiu, carregadas de informações e imagens do mundo ao seu redor.

Não levou muito tempo para que Edgar percebesse que da imensidão daquele lugar emergiam também centenas de seres que não podia bem reconhecer, centenas não, eles eram milhares.

Suas vozes não podiam ser ouvidas, eram sentidas por ele em todas as fibras do seu corpo e na sua mente.

Elas, as vozes, se aproximaram dele, sussurraram seu nome, tocavam delicadamente sua pele e se mesclavam com o seu ser de uma maneira que nunca imaginou ser possível.

Como abelhas, aquelas criaturas ao tocar-lhe pareciam coletar algo em sua pele que ele não sabia precisar exatamente o que era, mas a cada toque podia sentir que algo saía dele e a criatura que o tocava se afastava extasiada, como se estivesse embriagada, porém de uma maneira diferente.

Edgar sabia que algumas daquelas criaturas queriam lhe fazer mal, pois quando lhe tocavam demoradamente ele ficava tonto, por duas vezes pensou que fosse desmaiar ao toque delas. Outras, no entanto, eram extremamente gentis e pareciam estar apenas curiosas, ele entendeu claramente, que por algum motivo ele não era para estar ali.

— Sei o que está pensando, Edgar. Disse uma voz na escuridão.

— Quem é? Qual seu nome? Perguntou Edgar gaguejando.

— Aqui não precisamos de nomes porque os nomes são na verdade, um nada Edgar.

— Como você sabe meu nome? Não estou me sentindo bem. Ele resmungou. — Tenho a sensação de que você vai me matar. Você vai? Perguntou ele, com certa curiosidade.

— Por que pergunta isso? A voz retruca.

Tentando parecer tranqüilo, Edgar continua.

— Eu quero viver. Entende? Eu sei que muita gente acha miserável a existência de um cego, mas isso não é verdade. Respirando nervosa e pesadamente.

— Interessante você dizer isso. Interessante mesmo, mas não tenha medo da morte, ela não existe. A voz fez uma pausa e continuou. — Há muito tempo nós também acreditávamos que a morte existia, aí descobrimos que a vida flui no universo como um rio incessantemente em todas as direções e a consciência, desenvolvida, se une a ela, em qualquer dimensão entre o tempo e o espaço.

Nós sabemos que ela é produzida em algum lugar no firmamento, entre as estrelas, e jorra sem parar em todas as direções.

— E o que isso tem a ver comigo? Pergunta Edgar, já curioso.

OMNIA - Saga dos Três Mundos Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora