CAPÍTULO IV - A Terra dos Homens

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Capítulo Quatro

A Terra dos Homens

Enquanto o cego Edgar do Rio de Janeiro vivia a mais incrível experiência de sua vida, em diversas partes do mundo, líderes de vários países enfrentavam um desafio ainda maior, salvar o maior número de pessoas de um suposto agente biológico que se espalhava velozmente pelo globo e afetava em um primeiro momento as crianças e idosos, para logo em seguida comprometer também os adultos saudáveis.

No centro de Praga, capital da República Tcheca, uma senhora surda caminha pelo apartamento 204 do edifício Elizabeth II em direção à janela trazendo consigo uma jarra contendo água; era a décima sétima vez naquela manhã que ela fazia o mesmo percurso, e aparentemente o destino da água era um vaso com plantas que repousava no parapeito da janela.

Com sinais claros de demência a velha senhora curvava-se sorrindo para admirar a água sendo rapidamente absorvida pela terra já úmida, permanecendo completamente alheia as gotículas que caiam no beco logo abaixo.

O pequeno apartamento repleto de lembranças de uma vida de excessos e glamour estava agora sendo devorado pelo tempo. Os móveis já soltando pedaços sobre o carpete manchado e empoeirado. Os quadros amarelados em suas molduras descascadas pendiam tortos em quase todas as paredes. Nas mesas e aparadores pequenos objetos insistiam em testemunhar as viagens, e os inúmeros amores perdidos.

Naquela parte mais antiga da cidade era comum o desnivelamento das vias públicas, centenárias em sua maioria, feitas de pedras encontradas na região, assentadas lado a lado. O bairro já foi reduto de boêmios e abrigou muitas casas noturnas e teatros que por longos anos atraíram a aristocracia tradicional européia. Hoje, apenas o espaço na praça central é usado como mercado e centro cultural.

No beco logo abaixo, um homem de meia idade se aproximava ofegante, cruzando uma das vielas de acesso a Praça Central da Cidade Velha. Pulou incontáveis muros e superou diversos obstáculos para chegar até ali, quando então, foi surpreendido pela inesperada poça feita pela senhora do segundo andar; como era de se esperar, ele escorregou e caiu batendo violentamente contra o passeio molhado.

Passado o susto e a violência da queda, ele foi lentamente tomando consciência de si e do lugar onde estava. As paredes de tijolos avermelhados dos prédios a sua volta, o cheiro pungente de lixo não recolhido há semanas, as escadas de incêndio já enferrujadas prestes a ruir e, por fim, a idosa em um dos prédios acima dele que alegremente ainda continuava a criar a armadilha na qual ele mesmo caíra.

Antes que ele pudesse se erguer, superando a dor que sentia em quase toda a extensão das costas e pernas, percebeu a aproximação rápida de seis homens.

Cinco dos seis estavam utilizando uniformes do exército tcheco com nomes estrangeiros escritos no peito. O sexto vestindo apenas um terno preto de linhas sóbrias e discretamente bem alinhado observava a todos os seus movimentos.

O sujeito, um pouco mais velho e alto que os demais, de olhar profundo e misterioso, seu cabelo ligeiramente desalinhado e a barba por fazer o deixavam com ar ainda mais intimidador.

Todos estavam muito bem armados e traziam presos aos uniformes equipamentos tecnológicos que ele nunca tinha visto na vida. Possuíam leitores térmicos, tasers na cintura, detectores de som e granadas, muitas granadas, presas ao corpo.

Depois de ter frustrada sua primeira tentativa de erguer-se, impedido por um dos homens uniformizados, que o segurou com firmeza junto ao chão, ele resolveu analisar melhor sua situação antes de qualquer tomada de atitude, pois estava claro como a água que caia sobre sua cabeça ininterruptamente que a força física não era uma opção naquele momento.

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