CAPÍTULO VIII - In Principio Omnia

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Capítulo Oito

In Principio Omnia

Não é difícil imaginar o quão aterrador tem sido as noites nas grandes cidades nesses últimos dias. Para os que resistiram ao processo de desocupação e de alguma maneira conseguiram permanecer escondidos, a desolação na qual as cidades estavam mergulhadas, durante o dia já alterava a percepções das pessoas sobre a realidade, quando a noite chegava isso se intensificava.

Notícias de desaparecimentos depois do pôr do sol eram ouvidas o tempo todo.

No mundo escuro, lar dos Únus, Edgar seguia conversando com a voz. No escuro, ele não sofria os efeitos indesejáveis de estar por tanto tempo privado da luz, talvez devido a sua cegueira. O fato é que desde sua entrada no mundo dos Únus, seis dias já tinham se passado.

Ele prosseguia conversando curiosamente com aquela que se apresentava vez ou outra como alguém que o mataria se fosse necessário.

Enquanto a criatura falava, ele ia se dando conta da grandeza do momento que estava vivendo, do conhecimento que ia adquirindo. Ele sentia que sua visão de mundo e de universo crescer. Em sua mente, se morresse agora ali mesmo estaria feliz, pois teria tido uma experiência rara para alguém como ele.

A prova de que outros mundos habitados existiam estava ali do seu lado, falando com ele. Não era em Marte, não era na Lua, era um lugar ali mesmo no seu mundo, um emaranhado de conceitos que ele nunca tinha escutado.

A criatura contou que vários mundos coexistem e que estão organizados em camadas no tecido do espaço. Ela explicou que entre as camadas há uma película constituída por padrões vibratórios que estabelecem as fronteiras entre cada um deles. Segundo o que os Únus aprenderam, sua espécie evoluiu para viajar de um mundo à outro, rompendo esse tecido do espaço alterando sua vibração natural.

As histórias sobre seres fantásticos, os quais as crianças sempre foram ensinadas a temer eram verdadeiras enfim, não apenas histórias ou mitos. Na Idade Média, por conta da crescente influência da religião, uma centena de encontros com os Únus foram mal interpretados ou interpretados como presságios do fim do mundo.

A criatura ali diante dele e todos os outros que ele podia sentir. Por algum motivo que ele não conseguia explicar, não lhe guardavam segredos. Essa estranha conexão com eles não fazia muito sentido para Edgar, até aquele momento, mas era extremamente prazerosa.

As investidas das criaturas contra ele no escuro pararam repentinamente, agora nenhuma delas lhe tocava mais, o que aumentou a sensação de bem estar relaxando-o até que sons do que pareciam ser tiros começaram a serem ouvidos; eram tiros mesmo e vinham de todos os lados.

Por alguns segundos ele pensou que os tiros estivessem sendo disparados no mundo onde estava; o mundo escuro. Depois dos tiros, Edgar também começou a ouvir vários sons de gritos e ele sentiu corpos caindo ao seu lado.

Devido a sua conexão com aquelas criaturas e aquele lugar, ele pôde entender o que estava acontecendo quase que imediatamente; alguém estava atirando e jogando bombas através da passagem aberta na sombra do poste. Em meio à confusão que se formou, quando as primeiras bombas explodiram, umas das criaturas que viviam naquele mundo de trevas esbarrou contra seu corpo arremessando-o para trás.

Instintivamente ele tentou se segurar no que estivesse mais próximo, para evitar a queda.

Quando sentiu uma súbita onda de calor tocar sua pele, Edgar percebeu que tinha sido acidentalmente jogado para fora do mundo onde estava e para sua surpresa, arrastou com ele uma das criaturas da noite.

OMNIA - Saga dos Três Mundos Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora