O ar gélido que escapava dos ventiladores sobre as mesas enfileiradas, uma atrás das outras formavam o departamento policial. Homens com seus distintivos no peito caminhavam sérios e controlados. Alguns bebiam goles de café em suas grandes xícaras brancas. Também havia mulheres, poucas. Algumas traziam uma pistola em sua cintura. E outras teclavam rapidamente nos computadores.
Era tudo tão abafado. Amy já tinha ido uma vez para dar depoimento sobre a morte do seu antigo namorado, que partira quase do mesmo modo que Augusto. E sempre era o mesmo, Ela devia se manter calma e dizer algo considerável. Algo que não desse chance alguma á argumentos e perguntas
"Mantenha-se calma Amy."
Pensara ela quando a mulher um pouco alta,os cabelos negros amarrados, ela usava uma camisa cinza junto á uma calça preta,e como todos, a mulher também usava o distintivo, mas diferente dos outros, ela tinha uma feição harmoniosa e gentil
- Você está no caso "Mimado?"-A mulher tossiu algumas vezes e corrigiu seu erro - O filho do prefeito?
Amy olhou para Júlia. Mentalmente,ela pedia para a mãe tira-la dali o mais rápido possível. Mas foi respondida com o balanço da cabeça de Júlia dizendo um sim para a mulher
- Me siga mocinha - a mulher virou as costas e saiu andando. Amy olhou novamente para a mãe. Num pedido de súplica, que foi correspondido com um sussurro dizendo para que Amy fosse.
- Você é bem novinha para estar na lista de suspeita - A mulher dava passos rápidos pelo departamento e às vezes dava pequenas olhadas atrás para ter certeza que Amélia à seguia - Tem certeza que não foi um erro ortográfico no documento?
Amy somente assentiu e dava um leve suspiro. Sabia o que viria pela frente. Elas chegaram frente há uma porta de metal. A mulher girou a maçaneta fina e deu um leve sorriso forçado para Amy, talvez a mulher queria diminuir a pressão que Amy já sentia
- Não se preocupe. - A mulher pôs a mão em seu ombro - ele apenas fará algumas perguntas.
Amy puxou todo ar possível antes de entrar. Ela buscava todo o ar possível para esfriar sua cabeça seu sangue. Mas fazer aquilo era o mesmo que nada, ela sabia que nada mudaria. Ficaria nervosa e prestes a entregar tudo de bandeja
O cômodo era pequeno e úmido, e o cheiro de barras de cereais fora de prazo residual apodrecia o ar
- Senhorita Richard? - O homem de estatura baixa e um pouco acima de peso usava um colete de tecido cinza por cima da camisa branca - Sente-se por favor.
Amy pressionou os lábios por um segundo. Caminhou até a cadeira com pernas de metal e sentou-se. Era desconfortável sentir as três barras também de metal espremer entre suas costas. Ele a-observou por alguns minutos,o cômodo havia um silêncio assustador. Amélia olhou para o pequeno porta-lápis sobre a mesa,depois para o relógio na parede, mas o único lugar que não conseguia olhar era para o delegado.
- Onde você estava no dia do falecimento?
Amy respirou fundo,e foi pegando palavras no ar e encaixando umas às outras até formar uma história
- Eu tinha saído com Augusto, o filho do prefeito.
Ele pediu para que alguém atrás dela anotasse tudo que saísse da boca dela. Ela olhou para trás e viu o homem alto e bem magro,ele era moreno e tinha óculos fundo de garrafa frente aos olhos castanhos escuros. Ele deu um sorriso desajeitado para Amy e voltou a teclar no computador
- E você ficou com ele todo o tempo?
- Perto de anoitecer,ele disse que precisava fazer algo importante, então ele me deixou em casa.
- Então você supõe que ele cometeu um suicídio?
- Sim e não, como ele me deixou em casa,não sei se foi um suicídio ou assassinato, eu não estava com ele.
Amy ouviu os dedos do homem magro deslizando sobre as teclas do teclado
- Mais ou menos em que horário ele deixou você em sua casa?
- Estava anoitecendo,umas cinco da vespertina.
- Mas a senhorita Seant,mãe de Augusto Seant, havia dito que vocês saíram exatamente às cinco da vespertina.
Amy sentiu o ar pesando sobre suas costas. Ela suspirou procurando a resposta certa
- Nós saímos exatamente às cinco, pois fora na mansão do prefeito em que ele decidiu sair.
- Vocês eram namorados,porquê você não poderia continuar na mansão.
A resposta veio da ponta de sua língua. Amy controlava sua voz. Sempre terna e suave
- Não é porque meu namorado era filho do prefeito, que eu deveria usufruir de suas riquezas, eu amava á ele e não a sua posição.
O delegado espantou-se pelas palavras da garota que foram um pouco rudes mas sua voz não se alterou
- Antes dele falecer,você viu alguma mudança em seu comportamento?
- Não. Nenhuma.
O delegado teclou algo em seu computador
- Obrigado pelo depoimento senhorita Richard - Ele falou sem tirar os olhos da tela iluminada -pode se retirar.
Ela assentiu e se levantou da cadeira,ouviu a voz do homem magro dizer algo como "Tchau"e seguiu caminho. Julia estava sentada numa das cadeiras enfileiradas. Ela usava uma calça jeans escura e um blazer sobre a camisa verde-escura. Na cadeira ao lado,ela tinha colocado a bolsa de couro preto. Para Amy, era engraçado vê-la usando roupas formais. Sua mãe sempre vestia cores mais vivas, como a camiseta verde-cana que brilha no escuro. O bom disto era que Amy não se preocupava em ser assaltada, sua mãe espantava ladrões,moscas, e até homens.
- Eu preciso de um banho - disse Amy sentando à cadeira vazia ao lado de sua mãe - Estou com dor de cabeça.
- Você só tem o banho, e um lanche como bônus - Júlia retirou o celular de sua bolsa e deu uma olhada - ainda temos que ir ao velório.
Amy xingou num sussurro. O que mais odiava era ir em velórios. além do mais,de seus namorados.
Ela gostava de Augusto, sim,ela o-amava; mas apenas agora compreendeu o que induziu ele o desejo de ver seus olhos. Era ela.Pelo que lembrava-se da última conversa com sua mãe,as sereias ganham caudas por pura vontade;mesmo se entrarem em águas,suas pernas continuaram.
Outra coisa era que,a sereia em sim era um modo simplificado de uma armadilha viva.Sua aparência. Sua voz. Sua simpatia. Tudo era uma isca que iria levá-los aos olhos mortais,Que iriam de qualquer jeito,matar o admirador.
Haviam vezes elas faziam estragos, como em Augusto, onde eles perfuraram seu corpo pelas costas. Ou Jerry,que sofreu um acidente após entrar no carro.
Os águas-mortais, como Amy costumava chamar as ondas flutuantes;sempre achavam um jeito de matá-los, se não fosse naquele momento. Seria em outro.
Ela fechou os olhos por alguns segundos. Pensativa- Vamos logo - ela suspirou aflita, mas compreensiva - Irei dar adeus ao meu namorado.
- Esse é o preço que nós pagamos.- Falou Júlia pegando na mão da filha - uma grande injustiça.
Amélia apenas assentiu. Elas levantaram-se das cadeiras e saíram da delegacia.
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Tempestade
Roman d'amourÉ possível viver sem amor? Era isto que Amélia Richard tentava saber. Nada mudou sua vida, ela havia nascido assim,a maldição corria pelas suas veias por culpa de sua bisavó. Agora,depois da morte de seu segundo namorado, ela deverá ir para um col...