Prólogo

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A brisa leve e refrescante acertava-lhe em seus rostos com ar fresco. Amélia sentiu os braços de Augusto entrelaçando-a em sua cintura, ele dava pequenos beijos em sua nuca, causando pequenas vibrações em sua pele.
Ela pensava, que aquele momento nunca iria, e sequer podia terminar. Era tão calmo e sublime tê-lo ali ao seu lado, o corpo junto ao seu. Por ela, aquela junção de paixão e atração que corria pelas suas veias deveriam seguir pelo resto de sua vida. Ele era tão carinhoso e ao mesmo tempo compreensível.

Ele era mesmo real?

Num movimento uniforme, ele girou-a para estar frente á ela. Ele queria fita-la, olhar em seus olhos, e ela se sentia um pouco incomodada com isto. Era algo tão simples - isto ela sabia -, mas era difícil encarar seus olhos verdes como esmeraldas que brilhavam devido a luz do sol refletida na água

- Amy? - Ele levou sua mão esquerda até o queixo dela. Ela evitava olhar em seus olhos - Porque você não olha para mim?

Ela olhava para ele sim. Quando estavam abraçados. Quando se encontravam. Mas ali era diferente. ele queria ver dentro dela.

Ele queria ver a alma dela.

Mas ela também sabia que, de qualquer jeito, se não fosse hoje, seria em outro dia. Um pouco trêmula, ela virou o rosto, e olhou para ele, mas ao invés de olhar em seus olhos, ela olhava em seus lábios avermelhados

- Amy? - Ele soltou um pequeno suspiro - Porque não olha em meus olhos?

Ela já tinha ouvido aquilo, e odiava lembrar disso, era como voltar ao momento.

Aquele aterrorizante momento.

Amy engoliu em seco. Era difícil conversar sobre algo que não estava pronta. Ela abaixou a cabeça, triste por não poder responder sua pergunta. Decepcionado, ele deixou suas mãos caírem da cintura dela para seus bolsos

- Você não me ama. - Ele supôs - Se me amasse, pelo menos olharia em meus olhos.

Ela olhou para a extensão marinha atrás de Gus, desviou-se dele e caminhou até a beira-mar. O céu estava nublado. Apenas alguns raios solares atravessam as nuvens escuras e iluminava um pouco do mar tempestuoso.

- Porque você deseja tanto olhar em meus olhos? - Indagou ela um pouco irritada - Eu te amo, e você sabe disso - sua voz diminuiu, mas agora tinha um tom debochado. - mas pelo visto, parece que ama aos meus olhos.

Ele deu alguns passos até ficar ao seu lado. Ela pode sentir sua mão quente agarrando a sua, que estava gélida

- Só acho isso tão estranho - ele pôs as mãos nos ombros dela e virou-a para ele - É tão difícil?

Ela sentiu as lágrimas chegando ao seus olhos. As imagens e lembranças daquele dia vinham e iam dentro de sua cabeça

- Gus, eu não posso.

Ele acariciou sua pele esbranquiçada. Encostou a boca próxima ao seu ouvido e sussurrou:

- Você pode, Amy.

Ela usou todas as forças que tinha para correr; mas seus pés sequer saíam do lugar. A água cada vez mais se aproximava

- Por favor Gus - implorou ela - Não faça isso!

Ele não deu ouvidos. Sua curiosidade e desejo de olhar em seus olhos assustavam-na. Não só pelo fato dele querer vê-la, mas sim, o que poderia acontecer

Ele deslizou beijos molhados pela pele e a cada centímetro percorrido, ela suspirava, tentando evitá-lo

Ele levantou seus olhos de esmeralda para ela, e ela mantém os olhos fechados

- Olhe em meus olhos Amy.

Pediu ele carinhosamente e ela não conseguiu negar. Lentamente, ela abriu suas pálpebras, os olhos dela, azuis como a água do mar brilhavam reluzentes, ela enrijeceu o pulso contra ele próprio. Aquilo já havia acontecido uma vez.

Ela sabia como aquilo terminaria.

Uma mistura de luz e água envolvem o casal. Ela tentava fechar os olhos, mas não conseguia

Era tarde demais.

Águas prendiam-se aos pulsos do garoto, que não se movia, os olhos verdes dele pareciam se aprofundar à medida que a água cobria-os e então, num espasmo, seus olhos se tornaram escuro e profundo, e sangue descia pelas suas costas

- Gus! - gritou ela em desespero - Não vá!

Seu pedido era impossível de ser atendido.

O corpo dele estava envolto de correntes marinhas que prendiam-o, desde os tornozelos aos pulsos, luzes estonteantes se dissolvia junto a água.

Amy respirou fundo, seu corpo doía exausto. Ao se dar conta do que estava aos seus pés, soltou um grito estrondoso de angústia e aflição. O corpo imobilizado de Augusto caído sobre a areia da praia, sangue deslizando do corpo aos grãos. Mal imaginava ele o que aconteceu. Mas Amy sim.

Ele tinha sido levado pelas águas.

As malditas águas que seguiam-na por anos

Esse fora o preço pago pelos seus descendentes. Perder a todos que amam por um único erro, fugir de seu lugar de origem, o Mar.

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