Os saltos do sapato Loubotin batiam no piso de porcelanato do restaurante conforme ela andava. O som, ao qual ela sequer prestaria atenção em qualquer outro momento, parecia tão irritante quanto o zumbido de uma abelha instalada bem dentro do ouvido.
Não que isso fizesse diferença, afinal, ela já estava irritada o suficiente.
Tinha acabado de saltar de seu carro e naquele exato instante caminhava em direção a mesma mesa de sempre: a redonda, para seis lugares, na varanda do estabelecimento. Não que precisassem de espaço, mas Célia Loureiro queria ter controle sobre tudo e gostava de ter mais coisas do que realmente necessitava. Até mesmo cadeiras em uma mesa estúpida de um restaurante.
A cada passo que dava, sentia o coração bater mais apressado. Isso fazia com que acreditasse que era uma idiota, afinal, tratava-se apenas de sua mãe. Mas, para Gisele, isso significava muito mais do que uma simples reunião de família, especialmente porque o assunto que estaria em pauta em sua conversa daria um grande motivo para que ela se intrometesse em sua vida. Seu passatempo preferido.
Agarrando a alça da bolsa, como se isso fosse defendê-la de alguma coisa, ela finalmente chegou à mesa e deparou-se com sua mãe avaliando-a de cima a baixo, como sempre fazia.
Ela mal sentou-se e o primeiro comentário já veio:
― Acordou atrasada novamente?
― Não entendi a pergunta...
― Foi o que deduzi, ou seja, é a única explicação para a forma desleixada como está vestida.
Inconscientemente, Gisele baixou os olhos e checou suas próprias roupas. Naquele momento, usava uma calça jeans de uma marca bem cara, uma blusa de seda, de mangas longas, cor de pêssego, e um sapato meia pata preto. Não parecia haver nada de errado, se não levasse em consideração o fato de que Célia Loureiro vivia coberta por Chanel dos pés à cabeça.
― Eu vim tomar café da manhã com você e depois vou trabalhar. Não posso ir para a loja vestida como se estivesse indo receber o Oscar.
A resposta não foi das piores, mas a verdade é que todas as vezes que aquele tipo de conversa acontecia, Gisele se perguntava por que tinha que dar tantas explicações, por que sempre deixava que ela a diminuísse daquela forma, que fizesse com que se sentisse tão mal.
― Você é a futura esposa do dono da loja. Não só daquela onde trabalha, mas de toda a marca. Deveria se comportar como tal. Ou melhor, já deveria ter parado de trabalhar.
E tudo sempre se resumia a dinheiro e posição social. Gisele adorava dinheiro, sabia que não saberia viver sem alguns dos luxos com os quais estava acostumada desde que Célia se casara com seu padastro ― um homem santo, aliás ―, mas sua mãe excedia os limites. Era ostentadora e gostava de manter as aparências, mesmo que o mundo estivesse praticamente caindo sobre sua cabeça.
O que não era o caso de Gisele. A vida andava sorrindo para ela nos últimos tempos.
Pensando nisso, tentando deixar de lado a irritação que sua mãe sempre lhe provocava, ela tocou o pingente azul, preso à correntinha de ouro. A mesma com a qual fora presenteada anos atrás, a mesma pedrinha mágica da sorte.
― Não sei por que ainda guarda essa pedra estúpida. Quando era criança eu até entendia, mas agora, que é uma mulher adulta, não pode acreditar que é mesmo mágica ― Célia afirmou com desdém.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Paixão Inesperada
RomantizmCAPÍTULO UM E DOIS APENAS PARA AMOSTRA. Livro publicado na íntegra na Amazon: http://amzn.to/2h7rCBF Gisele é uma mulher acostumada a ter tudo o que quer. É linda, inteligente e está prestes a se casar com um perfeito príncipe encantado. Ao menos er...