Jantar

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Capítulo 2 - Jantar

Senti minha pele formigar quando aquele líquido, ainda quente, preencheu minha boca por inteiro, saciando a minha fome. Comida normal jamais me saciara tanto quanto sangue humano. Era a minha quinta vítima da noite, não consigo mais descansar. Aquele garoto de olhos verdes me intrigou de um jeito descomunal.

Quando vi que a garota loira estava mais pálida do que eu retirei meus dentes do seu pescoço, cheio de perfume. O vestido de paetê prata fez um barulho irritante assim que o corpo magro dela alcançou o chão. Não posso deixá-la ali, pensa Charlotte. Olhei em volta e vi uma lata enorme de lixo. Abri e desamarrei um saco de lixo. Depois despejei o lixo dentro da lata e levei o saco até o corpo. Alcançei minha bolsa e tirei meu canivete de dentro. Sempre venho preparada para essas situações, não muito raras nem muito consecutivas.

Finquei a ponta no pescoço meio murcho da garota até abrir um buraco razoável. Cortei a cabeça dela fora e enfiei no saco que ainda fedia aos restos de comida em decomposição que ali estavam. Ajeitei o corpo dela, encolhido, para caber no saco de lixo. Amarrei e joguei novamente no lixo. Lambi os poucos resquícios de sangue de minhas mãos, e sai dali rapidamente. Eu ainda queria sair com algum cara daquela boate.

Uma música sensual ecoava pelos cantos da boate repleta de gente se agarrando, literalmente. O cheiro de sangue era forte e quase entorpecente. Tantos pescoços deliciosos à mostra, mas tinha que manter minha postura. Fui até a pista de dança cheia e aglomerada e comecei a dançar.

~~

Ela estava vestida de vermelho, um vermelho cor de sangue, o que destacava seus lindos olhos azuis incandescentes à luz da boate. Eu diria que passava despercebido perante os olhos dela. Todos ali se mexiam loucamente, enquanto ela apenas sentia a música e deixava-se envolver pela batida. Por isso conseguia se destacar. Metade das pessoas que estavam em volta ficavam hipnotizados, entretidos pelo requebrado irresistível da morena. Uma loira estava agarrada no colarinho da minha camisa, ela estava me dando nojo de tão oferecida que era. Um fato sobre mim é que tudo o que consigo de forma fácil e rápida me enjoa com a mesma rapidez.

Foquei totalmente meus olhos naquele corpo, fiquei sem reação quando percebi que ela também me encarava com os olhos transbordando luxúria. Desde que a vi naquele sex shop, fiquei paranóico a ponto de não conseguir dormir. Faziam exatamente setenta e duas horas que eu não pregava os olhos. Não tinha um minuto sequer que aqueles olhos não me vinham à mente, e no lugar que menos esperava, a encontrei.

Ela rebolava, agora de costas para mim, me dando uma visão nítida e deliciosa de seu traseiro. Ela era pálida ao extremo, e vermelho lhe caia absurdamente bem. Larguei minha vodca na mão da loira e desabotoei um botão de minha camisa. Abri caminho até ela, me irritei com algumas pessoas que não me deixavam passar. Lá estava eu, parado, estático, com os olhos grudados em cada centímetro visível daquela mulher. Quando ela se virou não teve feição de surpresa, apenas sorriu e mordeu o lábio inferior, enquanto me analisava com cautela.

Agarrei a cintura dela, uma cintura delineada, podia se dizer que fora esculpida minuciosamente por Deus.

~~ Narrador avulso

Harry mordia o lóbulo da moça enquanto ela se controlava ao máximo para não morder aquele lindo pescoço.

Charlotte podia confirmar que nunca sentira um cheiro doce como o do sangue daquele homem. Era um cheiro irresistivelmente forte e convidativo. Era impressionante o tamanho do desejo que um exercia pelo outro, sem que ao menos tivessem se falado.

Eles apenas degustavam, aproveitavam ao máximo cada minuto sentindo o corpo um do outro. Existia uma química inconfundivelmente perfeita ali. As mulheres transbordavam inveja dela, que nem tivera de se esforçar para tê-lo como companhia.

- Qual é o seu nome? - Harry demorou alguns segundos para finalmente conseguir pronunciar algo com nexo.

- De que importa? - ela respondeu com malícia e sensualidade na voz. Charlotte estava se divertindo com as tentativas falhas das moças, dançando em volta deles dois, de tentar pegar o garoto para si.

Charlotte agarrou o rosto do rapaz, lhe deu um beijo demorado na bochecha e depois saiu, deixando-o como presa para as mulheres extremamente vulgares.

~~

Não poderia estar mais feliz, aquele rapaz com certeza fechou minha noite com chave de ouro. Seis mortes e um admirador, nem tão secreto. Essa, com certeza, está sendo a minha melhor década.

Joguei meus saltos em algum lugar da sala e retirei o vestido que apertava meus seios. Coloquei-o em cima do criado mudo e me joguei na cama.

~~

Era a décima quinta vez que eu lia um contrato de uma multinacional nova e não lembrava de nada. Eu precisava urgentemente descobrir o nome dela. Essa noite consegui dormir, até sonhei. Sonhei com a minha dama de vermelho se derretendo para mim, na minha cama, com pétalas de rosas e velas. Ela gemia meu nome sem parar, senti minha cueca ficar apertada. Lembrar daquela voz sussurrando para mim me enlouquece em questão de segundos.

- Sr. Styles, Charlotte está na linha três. - Hélio disse com a cabeça para dentro de meu escritório.

- Quem? - perguntei chacoalhando a cabeça.

- Charlotte, a filha do Dr. Chavier. - ele disse, lembrando-me. Chavier, meu sócio, havia falecido há poucas semanas. A filha dele assumiu os negócios, ela queria comprar um prédio antigo meu.

- Ah, sim. - Peguei o telefone. - Estou ouvindo. - disse ouvindo uma respiração pesada no outro lado da linha.

- Sr. Styles, queria marcar um jantar de negócios, para podermos dialogar sobre a compra. - uma voz familiar soou.

- Ah claro, onde mesmo? - perguntei me ajeitando na cadeira.

- No ****** , hoje, às nove horas. - disse.

- Claro, estarei lá. Iremos só nós dois? - perguntei sorrindo. Ela é mulher, e, pela voz, não é tão de idade.

- Claro que não, meu consultor nos acompanhará. - ela disse com vergonha na voz.

- Ótimo. O meu também estará conosco. - disse divertido.

- Ok, até mais tarde.

- Beijos. - falei rindo. Deve ser das santinhas.

Larguei o telefone no gancho e voltei minha atenção às papeladas em cima de minha mesa.

Cold BloodedOnde histórias criam vida. Descubra agora