Bônus: Gustavo Rezende

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"A culpa é realmente um sentimento muito forte... Ou eu deveria dizer o amor encubado? Fica aí o grande questionamento. ── Giulia. "

GUSTAVO

Existe, em algum lugar do longo contrato que você assina quando faz amizade com alguém, que segredos não devam existir entre vocês. Digo, não é que você tenha a obrigação de contar tudo para uma pessoa, mas se você confia nessa pessoa a ponto de assinar o contrato de amizade, você pode confiar nela e contar seus segredos. Ninguém precisa carregar o mundo nos ombros sozinho.

Eu nunca tive problemas em confiar nos meus amigos e se existiam pessoas que sabiam sobre quase absolutamente tudo na minha vida, essas pessoas eram Samuel, Giulia, Fernanda e Pedro.

Só que existe uma linha tênue em dividir segredos com seus amigos.

E não é que eu não confie absolutamente e plenamente em todos eles ─ ok, o Pedro é vacilão às vezes, mas a gente dá um desconto porque é o Pedro ─ para contar sobre todos os meus segredos. É que, não sei, quando o assunto é falar sobre os lances malucos de sentimentos eu meio que travo. Não é por mal ou por falta de confiança, é porque eu realmente não consigo.

Então Pedro, Samuel, Giulia e Fernanda não sabiam que eu sentia coisas confusas e muito barulhentas por alguém.

Por minha culpa, admito, mas até que era melhor daquela maneira. Eu sei que existe no contrato de amizade que segredos não precisam existir entre amigos, mas talvez dessa vez até seja melhor que exista um na nossa amizade.

Algo pequeno e talvez até bobo, mas vai por mim, se esse segredo for exposto, pode causar uma confusão maior do que aconselhado. E não é nem por causa do Pedro e dos seus dramas em ser o último a saber de tudo sempre ou por causa da Fernanda e da Giulia que vão tentar dar uma de cupido e tentar fazer o possível casal acontecer. A causa e motivo do segredo todo possuía nome, sobrenome, endereço, um péssimo senso de direção e ainda falava um francês fajuto.

Afinal, Samuel não precisava saber que a mais nova crush dele já era minha paixão adolescente desde a oitava série.

Mas, calma, Gabriela e eu nunca tivemos nada.

E quando digo nada eu realmente quero dizer nada.

Nós nunca nos beijamos, abraçamos ou, não sei, esbarramos nossas mãos e um choque elétrico ocorreu entre nós. Nós fomos parte do mesmo grupo de um trabalho de história na oitava série e tivemos que conviver bastante, mas a convivência não chegou a nos transformar em amigos, infelizmente. Mas deixou que aquele sentimento brotasse no meu coração e enraizasse de tal maneira que, quando percebi, eu já gostava de Gabriela em um nível muito diferente do que eu gostava da Fernanda.

Eu nunca soube se foi por causa do sorriso dela, do cabelo dela, do jeito meigo de falar ou talvez por causa da pele dela ─ ela tem uma pele legal ─, apenas sei que quando percebi, não tinha mais volta: eu já estava tendo a minha primeira paixão e estava completamente assustado.

E, cara, não tem coisa mais assustado do que estar na oitava série e estar apaixonado!

Vou enumerar os motivos:

Em primeiro lugar: eu estava naquela fase toda desajeitada que garotos tem. A voz estava estranha, cresci mais do que o recomendado naquele verão e, por mais que comesse, eu era mais magro do que uma vareta. E tinha as espinhas... Meu pior pesadelo da época.

Em segundo lugar: eu não sou tímido agora, mas era extremamente tímido na oitava série. Não conseguia formar frases quando tinha que falar a sós com qualquer garota, agora imaginem com a garota que eu estava apaixonado? Nem um "a" saia quando eu estava sozinho com a Gabriela e, acreditem, isso é muito constrangedor.

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