Bônus: Gustavo Rezende

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"Olha a explosão... Quando o Samuca bate com a cara no chão... Quando o Gustavo solta um bombão, um bombão, um b-o-m-b-ã-o. ── Pedro."

GUSTAVO

A família do Pedro é o tipo de família que qualquer pessoa daria um braço- ou até mesmo um rim- para fazer parte.

Giulia adorava gritar na nossa casa que um dia ela cansaria de viver no "regime militar" que era imposta sobre nós e iria pedir para que a família de Pedro a adotasse. O que deixava o nosso pai possesso e a nossa mãe ao ponto de um "ataque do coração" que poderia ser traduzido claramente para "imagina a vergonha que seria ter uma filha minha morando sob o mesmo teto que um casal de lésbicas".

Eu sei, eu sei. Revoltante, né? Infelizmente nem todo mundo tem pais bacanas como Samuca ou uma mãe parceira como a Fernanda; e uma porcentagem muito baixa tem a grande chance de ganhar na loteria de famílias e ter uma família como a de Pedro.

Boa parte das pessoas tem a grande sorte em nascer em famílias extremamente preconceituosas, onde as únicas pessoas que tem o direito de voz são os afortunados que nasceram com um órgão genital masculino.

Giulia e eu nascemos em uma família dessas.

Nossos pais são... Complicados. E são daquele tipo que dão para Giulia como explicação que ela não pode ir em uma festa sozinha porque "ela é mulher" e dizem que ser amigo de Pedro é um horror porque o que acontece na casa de Pedro é algo que Deus abomina completamente. Segundo nossos pais, Pedro e os demais membros da sua família não possuem salvação e o único destino que os aguarda é o inferno apenas pelo fato de suas mães serem lésbicas.

O que é uma grande bola de merda, sejamos sinceros.

Sempre rolam as piores discussões lá em casa quando alguma vizinha fofoqueira do nosso condomínio vê Pedro com a gente e vai fazer uma fofoca para a nossa mãe, alegando que aquele tipo de amizade é muito errada e muito feia para a nossa família; que Giulia e eu ainda iriamos- e muito- manchar o nome da família Rezende.

E meus pais... Meus pais adoram fazer isso, no caso, jogar em cima de mim e de Giulia uma culpa que era inexistente; se o nome da nossa família era manchado dentro do condomínio em que moramos ou por qualquer pessoa que nos conheça era por culpa do meu pai e a incrível coleção de falcatruas que ele consegue fazer para ganhar dinheiro.

Inclusive, ontem a noite, quando Giulia e eu anunciamos que passaríamos o dia na casa de Pedro porque era o aniversário de casamento das mães deles, uma briga sem precedentes chegou e Giulia amou jogar na cara do nosso pai as seguintes palavras: ah, sim, com certeza Deus vai mandar para o inferno uma família inteira apenas porque duas pessoas se amam e criam os filhos muito bem, claro. Sabe que tipo de pessoa que vai para o inferno, pai? Pessoas que roubam para ficarem ricas e que amam falar sobre a vida dos outros. Ah, sem contar o tipo de pessoa que ama condenar alguém ao inferno no lugar de Deus.

Foi sem dúvidas a pior discussão de todas.

E o motivo dela? A nossa ida a celebração de uma data importante para Pedro e suas mães.

Giulia mal olhou ou falou com nossos pais depois de toda aquela gritaria e ódio desnecessário deles e as poucas palavras que eles trocaram comigo no curto intervalo de tempo que permaneci em casa foi para saber como estavam minhas notas no colégio e a minha preparação para a faculdade. E antes que Giulia e eu tivéssemos a oportunidade de sair de casa, sem mais nenhuma dor de cabeça ou sapo para engolir, minha irmã ainda teve que aguentar meu pai sendo o bom e velho idiota que ele é.

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