Uma nova oportunidade

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 — Filha! — minha mãe me balançou — Já está tarde, você tem que ir para a nova escola hoje, entendeu?

— Ah, mãe... só mais cinco minutos, tá? — pedi, com preguiça.

— Eu já deixei cinco minutos a mais! Levanta!

Preferi não desafiá-la e levantei, ainda que um tanto cansada, antes que ela reclamasse. Comi o sanduíche que ela havia preparado e me arrumei, com pressa. Antes de sair de casa, revisei minha mochila e ouvi a buzina do ônibus. Despedi-me rapidamente e corri para o veículo, que estava praticamente vazio.

Sentei-me em um banco próximo à janela e coloquei meus fones de ouvido. Durante a viagem observava alguns alunos. Sempre tinham os mais quietos, os que se dirigiam direto para o fundo do ônibus para conversar, os que não se separavam e os sozinhos.

Ao chegar na escola, a primeira coisa que notei foi o tamanho: muito maior que a anterior, que já achava grande. Olhando os arredores, encontrei uma menina de cabelos escuros sentada, observando o céu. Aproveitei que ela era uma das únicas sozinhas e perguntei:

— Com licença... sabe onde fica a sala do oitavo ano?

— Aluna nova? — ela me olhou como quem dissesse "Mas no meio do ano? Como assim?" — Vou te levar lá, não se preocupe. Mas é a turma A ou a B?

— Turma A. — disse, após conferir no papel — De qual turma você é?

— Eu sou da 8B. — ouvimos o sinal tocando — Vamos lá?

Apenas assenti com a cabeça e caminhamos juntas, eu não queria chegar atrasada no meu primeiro dia. Os corredores estavam cheios de alunos querendo matar aula, o que não me surpreendia muito. Após subir várias escadas, chegamos no andar que possuía as salas do oitavo ano.

— É aqui — ela bateu à porta — mas acho que ainda está vazia.

— Muito obrigada! — eu disse — Ah, qual é o seu nome?

— Karoline, só que com K! — ela riu — E o seu?

— Beatriz, prazer!

— O prazer é todo meu. Nos vemos no intervalo, se der! — ela disse, acenando e indo em direção à sua sala.

Abri a porta com cuidado. Era um espaço diferente do que eu julgava uma sala de aula. Todas as cadeiras estavam limpas, assim como as paredes. Tudo parecia novo, embora tivesse sido usado por, no mínimo, dois bimestres inteiros. Sentei-me em uma das carteiras mais próximas à mesa do professor e peguei meu caderno, pois ainda não sabia o horário de aulas. A maçaneta da porta rangeu e um dos professores surgiu na sala. Após me analisar um pouco, ele finalmente falou:

— Aluna nova, certo?

— Sim. — disse, quase murmurando — O senhor é...?

— Renato, professor de matemática. Toda aula minha a sala fica assim, vazia... mas como já são sete e vinte e cinco, tenho que começar a aula só com você na sala. Já tem os livros?

— Ainda não, mas minha mãe já encomendou. Demora muito para chegar? — perguntei.

— Não, não muito. Teve vezes que a caixa chegou no mesmo dia, mas teve vezes que chegou semanas depois. Vai lá na secretaria conferir, enquanto eu espero mais algum aluno entrar.

— Certo! Mas onde fica a secretaria?

— Primeiro andar, no final do corredor. Tem uma placa grande escrito "Secretaria", vai ser fácil encontrar.

— Muito obrigada! — respondi, um pouco sem graça, afinal, realmente parecia ser fácil de encontrar.

Embora não houvesse ninguém na sala, senti-me na obrigação de ir bem rápido. Por sorte, já havia um inspetor no caminho com a caixa em mãos e, ao ver o recibo que estava segurando, me perguntou se eu era a aluna nova, chamada Beatriz. Assenti e ele me entregou a caixa, que, ao contrário do que parecia, era bem pesada. Agradeci ao homem e entrei rapidamente, colocando a caixa sobre minha carteira.

Julgamento de uma IlusãoOnde histórias criam vida. Descubra agora