— B-Bia! Céus, você está bem? — a loira se aproximou de mim, demonstrando uma preocupação incomum.
— Estou, sim. Obrigada... por me salvar... — respondi, tentando não passar desconfiança, nem desconforto, na voz.
— Não precisa agradecer! — ela disse, com um belo sorriso — O professor havia pedido para voltarmos para a sala, mas eu notei que você não estava pela quadra. Fiquei tão preocupada que vim te procurar e ouvi sua voz.
Algo me dizia que não foi bem isso que aconteceu.
— Foi bastante gentileza da sua parte.
— Ah, vamos sair daqui? Esse cheiro de coisa velha me irrita! — ela disse, segurando meu pulso e me levando para a saída do almoxarifado.
Assim que saímos pude sentir a brisa bater em meu rosto. Devo admitir, o odor daquele lugar era realmente incômodo, mas, com certeza, eu não estava tão afetada por ele, mesmo tendo ficado trancada um bom tempo lá.
Caminhamos em silêncio até a sala de aula. Eu estava totalmente confusa com tal comportamento tão amigável, espontâneo e repentino de Mariana. "Como se não bastasse ela ter roubado o Vicente...!", resmunguei, em meu interior, com medo de que, se exteriorizasse minha raiva, algo ruim pudesse acontecer.
Entramos juntas na sala, chamando a atenção de todos os alunos, em especial de Alexandre e Vicente, que me fitavam como se não estivessem entendendo nada do que estava acontecendo.
Honestamente, nem eu estou entendendo.
Pedi desculpas pelo atraso à professora sem nem sequer reconhecê-la e me sentei na única carteira vazia, atrás de Alexandre, mais ou menos no meio da sala. Peguei meu caderno e meu livro preguiçosamente e os coloquei sobre a mesa, sem nenhum ânimo para estudar. Procurei meu estojo na mochila e, ao encontrá-lo, também o pus sobre a mesa. Havia algo a mais lá: um bilhete.
Abri-o com cuidado para não chamar a atenção da professora e o li.
"Ei, princesa, o que aconteceu? Vocês voltando juntas assim é estranho... ela te machucou? Espero que não.
Assinado: quem mais te chamaria de 'princesa', hein, minha linda?"
Aquela letra era de Alexandre, a mesma letra do "menino do 8º ano". Segurei uma leve risada e respondi no papel:
"Não precisa se preocupar, estou bem. Fiquei presa (ou alguém me prendeu) no almoxarifado. Ela me soltou de lá, só isso..."
Pensei em passar o bilhete com apenas essa informação, mas, como que em um gesto quase involuntário, acrescentei:
"Acho melhor te chamar por um apelido carinhoso também. Sabe, você inventa tantos... alguma sugestão?"
Coloquei o papel delicadamente na mesa do rapaz e, rapidamente, ele o pegou e leu. Soltou um leve riso e escreveu algo, me passando o papel novamente.
"Tem certeza? Sabe que eu posso cuidar de você...
... mas um apelido? Que tal uma palavra que comece com a letra 'a' que não seja meu nome? Eu ficaria grato, criança.
Brincadeiras à parte, copie um pouco do que tá no quadro. A professora deve olhar os cadernos hoje.".
É, eu havia esquecido desse detalhe. Guardei o bilhete no meu estojo, abri meu caderno, copiei os exercícios e os respondi. Assim que terminei, a professora chamou para dar o visto e pontuação. Foi por pouco.
Assim que me sentei, peguei o bilhete do meu estojo e escrevi:
"Não sou muito criativa, só me veio uma palavra em mente: amigo. Que tal?".
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Julgamento de uma Ilusão
Novela JuvenilBeatriz, uma garota tirada como "nerd" e Alexandre, o garoto tirado como "popular". Lados tão opostos que tiveram uma amizade que durou meses, até uma bela traição: Alexandre, seu único amigo, a enganou para que pudessem tentar afogá-la, ao menos er...