Obra de Arte

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Assim que a viagem terminou, fui caminhando até minha casa. Minha mãe trabalhava em várias escolas, ficando fora de casa de manhã, de tarde e até, de vez em quando, à noite. Destranquei o portão enferrujado e entrei no estreito quintal, aonde tirei meus tênis e, finalmente, entrei em casa.

Deixei minha mochila em meu quarto e me direcionei ao banheiro, onde tomei um banho rápido e coloquei minhas roupas casuais. Resolvi fazer um lanche nada saudável: duas fatias de pão de forma, queijo e mortadela mal esquentados em uma sanduicheira.

Após o almoço, abri minhas redes sociais. Além de meus familiares, só havia Alexandre no bate-papo, e fiz questão de desfazer a amizade em seguida. Dei uma repaginada em meu Facebook, trocando capa, foto e atualizando minha instituição de ensino, com o nome da nova escola.

Eu me sentia renovada com essa mudança.

Fechei o Facebook e deitei em minha cama, recapitulando o meu dia escolar e lembrando das pessoas com quem falei. Karol era uma menina bem interessante e amigável e Vicente era muito tímido, embora parecesse ser uma boa pessoa.

Levantei e decidi rever a matéria, já que não tinha nada para fazer, mas acabei dormindo depois de algumas boas horas de estudo. Tive um sonho estranho, onde via Alexandre, eu e Vicente conversando, mas parecia que nada de errado havia acontecido antes.

Acordei no final da tarde e tentei ocupar o tempo assistindo televisão. Minha mãe estava demorando muito a chegar, mas essa não era a primeira vez que isso acontecia, nem a última. Esquentei a comida que ela havia feito e jantei, sozinha. Após terminar de comer, me preparei para dormir, dessa vez, no horário correto. Aquele dia havia, ao menos, acabado bem.

...

Após cumprir com minha rotina pré-escolar, entrei no ônibus e coloquei meus fones de ouvido para me distrair durante a viagem. Observei a paisagem pela janela, prestando atenção nas casas, nas lojas, na vida lá fora. Era engraçado como cada lugar tinha suas características, dando a impressão de que eram distantes uns dos outros.

— Que sorte, do seu lado está vazio... de novo. — ouvi alguém dizer, embora não tenha identificado pela voz pois estava com fones de ouvido — Posso me sentar?

— Ah, oi, Vicente! Nem te vi chegando, desculpa. — ri, enquanto tirava os fones — Pode sentar, não precisa pedir.

— Mesmo? — ele perguntou, surpreso, e eu assenti com a cabeça — Sabe, você é mais gentil que muitas aqui... já achou mais alguém para conversar?

— Ah, já, sim. Uma menina da outra turma, Karoline.

— Já ouvi falar dela. Uma das melhores alunas da 8B.

— Você já conversou com ela? — perguntei.

— Não, mas já ouvi muita gente falar bem dela. Eu não costumo falar com garotas. — ele disse, soltando um longo suspiro — Mas, e aí, animada para as aulas de hoje?

— O que você acha, hein?

— Pela voz... nem um pouco. Nem eu estou. Educação Física e Ciências... só torcendo para aquela professora chata faltar. — ele disse, desanimado.

— Normalmente professora de Ciências nunca falta.

— Não estou falando da de Ciências, é a de Educação Física. Que mulher chata! Ela só dá aula na quadra. Quando é na sala, são aqueles textos gigantes assim! — ele colocou os indicadores paralela e horizontalmente, indicando o tamanho do texto: nada muito grande.

— Pensando por esse lado... tomara que ela falte. — fingi que concordei com o "texto gigante", embora estivesse realmente desapontada com o fato da maioria das aulas serem práticas.

Julgamento de uma IlusãoOnde histórias criam vida. Descubra agora