O domingo passou rápido, pois minha mãe não tinha nenhuma encomenda. Tirei o dia para me organizar para a tão temida volta às aulas, arrumando minha mochila, procurando meu uniforme e dando uma olhada nas matérias com antecedência. Eu prometi a mim mesma que faria esse ano valer a pena e não me deixaria levar por provocações de ninguém.
...
O despertador me tirou de meus sonhos exatamente às 5:20 da manhã. Estiquei meu corpo preguiçosamente na cama e me levantei devagar. Pensei que poderia completar a minha rotina pré-escolar tranquilamente, mas me deparei com um pequeno problema: a calça não entrava de jeito nenhum!
— Er... mãe? — chamei-a, um pouco envergonhada — Tem uma calça pra me emprestar?
— Calça? A sua está apertada? — minha mãe perguntou, vindo ao meu encontro.
— Na verdade, ela nem entrou... — eu disse, com um sorriso forçado.
Minha mãe soltou uma leve risada e foi buscar uma calça para me emprestar. Quando a vesti, procurei um espelho e observei minha silhueta.
Eu tinha engordado um pouco, mas meu corpo estava similar ao de Mariana, o que fazia com que eu me sentisse um pouco melhor. Apressei-me em terminar de me arrumar, me despedi de minha mãe e corri para o ônibus, cumprimentando o motorista e a monitora alegremente.
Peguei meu celular e os fones de ouvido e fiz questão de ouvir uma música eletrônica, diferente do que normalmente ouço, para não correr o risco de pegar no sono durante a viagem. Via os alunos entrarem no veículo, conversando com seus amigos, rindo... eu me sentia bem feliz por eles.
Quando estava observando a paisagem pela janela, eu pude sentir que reconhecia aquele lugar. "Mas é claro, é perto da casa de Vicente", pensei, enquanto encarei a porta, esperando o rapaz subir. Para minha surpresa, apenas uma garotinha de aparentes 7 anos entrou no ônibus.
"Será que ele tinha saído?", pensei, profundamente aliviada pela ideia de não ter que vê-lo.
Após alguns minutos, a viagem terminou. Desci do ônibus e me dirigi à quadra onde sempre ocorre a separação das turmas. A quadra estava um pouco mais vazia do que de costume, pois chegamos mais cedo. Tirei o celular do bolso, eram 7:03. A separação de turmas iniciavam às 7: 10, por aí, assim que decidi dar uma volta pela quadra, ainda que corresse o risco de encontrar alguém que eu não quisesse. Mas não imaginava que seria tão rápido.
— Olha, fazer caminhada agora não vai te fazer emagrecer não, querida!
Olhei para trás e pude ver Mariana, com os longos cabelos presos em um rabo de cavalo, uma revista em mãos e um sorriso triunfante nos lábios. Ela estava rodeada por suas amigas e outras garotas que eu não conhecia.
— É... parece que a vida de fazer salgadinhos não te fez bem não, meu amor! — ela debochou — Você parecia tão gordinha na festa, mas vi que não era a roupa... quer que eu te passe a dieta que estou fazendo para ter conseguido ser modelo? — ela disse, ao apontar para a foto dela em uma revista de moda. Já imaginava que ela ia soltar alguma piada sobre meu peso.
— Não precisa, Mariana, mas realmente estou preocupada com você... — respondi, fazendo-a erguer uma sobrancelha — ... sabe, eu acho que essa dieta não te fez muito bem, está tão magrinha! Quer que eu te dê algumas das sobras dos salgadinhos?
— Oras, sua...! — ela esbravejou, saindo em seguida. Seu grupo a seguiu, algumas olhando para trás e com expressão de desprezo.
Ri discretamente. O ano letivo já começou bem para mim.
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Julgamento de uma Ilusão
Dla nastolatkówBeatriz, uma garota tirada como "nerd" e Alexandre, o garoto tirado como "popular". Lados tão opostos que tiveram uma amizade que durou meses, até uma bela traição: Alexandre, seu único amigo, a enganou para que pudessem tentar afogá-la, ao menos er...