Confiança

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 Sem saber o que responder, eu apenas falei a verdade:

"Fui barrada pelo Alex antes de sair e acabei perdendo o ônibus da escola. Voltei com ele no transporte coletivo, estou bem, inclusive cheguei mais cedo."

Após digitar e parar várias vezes, recebi uma resposta:

"O Alexandre? Ele te barrou pra quê? A cada dia eu acho esse moleque mais estranho."

"Não acho que ele seja estranho", respondi, num ato inexplicável de defender o de cabelos claros. Infelizmente Vicente fez a pergunta que eu mais temia:

"E por que não?"

— E por que não...? — eu repeti sua pergunta em voz alta, tentando entender o motivo. Antes de digitar algo, ele enviou mais uma mensagem:

"Se quiser desabafar com alguém... você sabe que eu não me incomodo em te ajudar. Você já fez muito por mim e eu não estou nada contente com o que eu fiz antes: virei as costas e parei de falar com você. Pode contar comigo, eu vou te ajudar. Quer que eu te ligue?"

"Por mim tudo bem.", enviei, um pouco nervosa.

Assim que recebi a chamada, eu atendi e pude ouvir a voz de Vicente do outro lado da linha.

— E então, já sabe por onde começar?

— Na verdade não... — eu ri, um tanto envergonhada.

— Eu imaginei... — ele deu uma leve risada — Então vamos por partes. Tem certeza que não o acha estranho? Por que, assim, ele é estranho, ao menos pra mim. — ele disse, como se estivesse falando a maior verdade do mundo.

— Bom... eu acho estranho o fato de ele sempre estar com a Mariana e... — senti meu rosto ferver. Por algum motivo era estranho falar isso com um menino.

— E depois voltar pra falar com você como se fosse totalmente normal ele dar em cima das duas ao mesmo tempo? — ele perguntou, com o tom levemente entediado — Isso não é estranho, é errado. É nessas horas que eu tenho vontade de perguntar se ele está assistindo alguma série que tenha algum personagem assim, porque olha...

— Espera, você assiste esse tipo de série? — eu perguntei, surpresa.

Ficamos um momento em silêncio, mas logo depois a voz do rapaz com heterocromia ressoou:

— Não conta pra ninguém... por favor... — ele disse, com a voz um pouco trêmula — Eu gosto, sempre assisto quando tenho tempo, mas não quero que ninguém ria de mim.

— Pode deixar, eu não conto. Também não acho que seja um motivo para rir de você. — eu disse, tentando acalmá-lo.

— E-Então vamos voltar ao assunto Alexandre. — ele disse, após respirar fundo — Esse fato de ele ficar dando em cima das duas é errado, mas parece que a Mariana não liga... mas eu acho que você não deve aceitar esse tipo de coisa. — ele disse, com um tom levemente chateado.

Fiquei em silêncio por alguns minutos. Embora eu soubesse que isso fosse errado e já tivesse ouvido muitos sermões da Karol, ouvir dele era diferente.

— Por outro lado... eu imagino que você veja alguma qualidade nele. Mas qual? Ou quais, não sei... — ele perguntou, passando uma certa curiosidade além do normal na voz.

— Bom... como eu posso dizer... — eu comecei a falar, lembrando de todos os momentos, bons e ruins, que passei com Alexandre — Acho que ele se importa se estamos muito quietos, sempre tenta estar com a gente... no fim das contas, ele se importa sim com as pessoas, tenta sempre fazer todos felizes.

Julgamento de uma IlusãoOnde histórias criam vida. Descubra agora