Por algum motivo, eu fiquei pensando na Isabela depois que a vi cantando no clube. Ela estava tão linda. Mas não foi só por isso, era como se algum sentimento esquisito estivesse começando a me invadir e me deixando curioso pra saber mais sobre ela, mesmo que ela fosse meio chata.
Quando eu a chamei pra tomar refrigerante comigo na festa, achei que, como a maioria das garotas, ela fosse topar na hora e que ficaria doida pra me agarrar, mas ela nem ligou pra mim. E disse que não tomava refrigerante por causa da dieta. E a Isabela realmente não precisa fazer dieta, ela tem um corpo lindo.
Eu até tentei ficar com uma das meninas que o Gustavo me apresentou, mas ela falava tanta coisa chata que acabei desistindo. Além do mais, uma das amigas dela me confessou depois que ela namorava. Então deixei pra lá.
Já arrumei um grande problema uma vez, quando beijei uma garota e só fiquei sabendo que ela tinha namorado uns dois dias depois, quando o próprio cara esbarrou comigo na rua e foi tirar satisfações. Então eu disse a ele que ela me disse que estava solteira. E aquilo rendeu uma grande discussão.
Minha mãe, por sua vez, ficou confusa e não compreendeu o fato de eu ter ficado com uma garota sabendo tão pouco sobre ela. Eu apenas dei de ombros e disse que aquilo não iria se repetir, tanto porque eu não queria decepcionar a minha mãe quanto porque eu não queria confusões pro meu lado depois.
No colégio os trabalhos começaram a aumentar cada vez mais. O professor de Biologia passou um trabalho enorme sobre doenças, no qual a gente teria que falar tudo sobre uma doença específica (que seria sorteada pelo professor). E temos um prazo de duas semanas. Pelo menos o tempo é suficiente, acho que dá pra fazer algo bom. Não que eu me importe tanto, só não estava a fim de repetir mais um ano por bobeira.
"O trabalho não é em grupo", disse o professor.
Todos os alunos ficaram desanimados e começaram a reclamar.
"E como alguém vai conseguir fazer tudo isso sozinho?", um garoto que sentava na primeira cadeira perguntou. "É um trabalho muito grande!"
"Não vão fazer sozinhos.", respondeu o professor, olhando por cima dos óculos. "O trabalho vai ser em dupla"
Imediatamente os alunos começaram a cochichar, decidindo quem iria fazer com quem.
"Porém", o professor interrompeu os murmúrios, "eu vou sortear as duplas, então nem adianta vir me pedir pra fazer com o coleguinha do lado. Esse trabalho também vai servir pra que vocês aprendam a trabalhar em equipe, pois no futuro, vão passar por muitas situações parecidas e precisarão saber lidar com todos os tipos de pessoas, independentemente da profissão que pretendem seguir."
Ele então se dirigiu à sua mesa, pegou uma folha de papel e escreveu o nome de cada aluno. Em seguida, cortou em pedacinhos, dobrou tudo e jogou numa sacola plástica.
"Vou começar o sorteio, tudo bem?", ele fechou a abertura da sacola com a mão e chacoalhou para cima e para baixo. "Prestem atenção, porque eu só vou dizer uma vez!"
Quando ele começou o sorteio, muitas pessoas ficaram descontentes com suas duplas, suspiravam em reprovação e faziam caras do tipo: "Não sei porquê isso está acontecendo comigo!". E EU estava torcendo para que a minha dupla fosse alguém inteligente, porque eu realmente não sabia nada de biologia. Demorei uns dois segundos pra notar que ele tinha acabado de dizer o meu nome em voz alta.
"O Philipe Vasconcellos vai ficar, hum, vamos ver...", ele enfiou a mão dentro da sacola e pegou um papelzinho qualquer. "Com a Isabela Rodriguez."
"O quê?", a Isabela indagou, se ajeitando na cadeira, completamente indignada.
Pelo amor de Deus. Começou o show da estrelinha.
"Eu não vou fazer o trabalho com ele.", a Isabela cruzou os braços feito uma criança.
"Ótimo, então fique com zero.", o professor rebateu friamente. "Ou vocês aceitam assim, ou ficam sem nota. Vai ser melhor pra mim, que vou ter menos um trabalho pra corrigir quando chegar em casa."
"Não se preocupe professor, a gente vai fazer.", garanti.
A Isabela virou subitamente para trás, lançando-me um olhar do tipo: "O que está fazendo, seu idiota?!"
Ela não mandava em nada ali. Na minha opinião, uma pessoa que se acha melhor que todo mundo só porque tem dinheiro não tem moral pra ficar mandando em ninguém. E era exatamente isso que ela queria fazer: mandar nas pessoas, como se todos fossem seus servos e ela a rainha.
Na saída, tentei resolver o lance do trabalho com ela, para não deixarmos pra última hora. Eu não era muito dedicado, mas não queria começar mal o ano e ficar com zero logo no primeiro bimestre.
Ela estava na biblioteca, fazendo sei lá o quê (não há nada de interessante pra se fazer em uma biblioteca, na minha opinião) e eu fui até lá, pra tentar falar com ela sem discutir.
"Isabela", eu chamei.
Ela desviou o olhar dos livros das prateleiras, virou para mim e, meio impaciente, falou: "Ah, é você."
"Sim, sou eu. Esperava que fosse quem? O homem aranha?"
Ela cruzou os braços e me encarou séria. "Você costuma fazer sempre essas piadas idiotas?"
"Na verdade, sim... só que normalmente as pessoas acham graça, porque não são mau humoradas e chatas como você."
"Você é insuportável..."
"Escuta, eu só vim até aqui pra falar com você sobre o trabalho que vamos fazer juntos..."
"Infelizmente", ela interrompeu.
"Tanto faz!", exclamei, começando a ficar meio irritado. "Temos que começar a fazer logo essa porcaria..."
"Porcaria? É assim que você vê o trabalho?? Você precisa acordar pra vida! Se não estudar agora, não vai ter como voltar no tempo depois pra recuperar tudo o que você já devia ter aprendido! Não pensa no seu futuro, não?"
"Penso.", analisei. "E eu já sei de tudo isso aí"
"O que foi aquela ceninha com o professor de biologia, hoje?", ela perguntou de repente.
"Acontece", eu comecei a me explicar enquanto dava uns dois passos pra mais perto dela, "que eu não quis arrumar confusão com o professor só por causa daquela parada de escolher a dupla e tudo mais"
"Own...", ela forjou um sorriso e pousou a mão no coração. "Que bonitinho. Só que não! Todo mundo sabe que você é o menos estudioso daquela sala!"
Meu Deus. O fato dela estar me insultando soou tão atraente... Ela ficava linda daquele jeito. Irritada. Passei os olhos pela boca dela e desviei rapidamente.
"Será que podemos ficar na sala amanhã durante o recreio pra começarmos a agilizar alguma coisa?"
"Não se fala recreio. Essa palavra é muito estranha"
Suspirei.
"Pode ficar amanhã ou não?"
Ela me encarou, olhou para os lados e suspirou.
"Tudo bem. Eu posso ficar."
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Meu Mundo ao Avesso
RomanceIsabela nunca soube muito bem como lidar com seus próprios sentimentos. Olhar para si mesma sempre lhe pareceu assustador, como se existisse uma porta no seu coração que ela não conseguisse abrir. E tudo isso torna-se ainda mais difícil quando ela p...