Eu queria muito arranjar uma solução para os meus problemas, mas estava sendo impossível. Na verdade, eu nem conseguia pensar em nada.
Naquele mesmo dia, meus pais me chamaram pra conversar pra tentarmos chegar a um acordo, mas eu só consegui discordar de tudo.
"Pare de reclamar, Isabela!", disse meu pai decidido. "Estamos fazendo um bem para você!"
"Um bem?", dei uma risada sarcástica, mas no fundo eu estava despedaçando.
"É claro!", concordou minha mãe. "A música não vai te levar a lugar algum. O que acha que vai conseguir no futuro, se continuar assim? Está pretendendo ganhar dinheiro cantando de bar em bar, pra todos aqueles bêbados horríveis?"
"Deus me livre!", meu pai exclamou. "O melhor que você tem a fazer é virar empresária, como sua mãe e eu. Olhe só para todo o dinheiro que conseguimos até hoje!"
"Eu não quero só o dinheiro! Quero fazer o que eu gosto e sei fazer, que é cantar"
"Isabela, não vou ficar aqui discutindo com você.", minha mãe disse, decidida a pôr um fim na discussão. "Você é uma garota mimada, que sempre teve tudo o que quis, e por isso, tem essas atitudes idiotas. Já sabe que está de castigo. Não pise mais naquela porcaria de gravadora!"
Aquilo me assustou de verdade. Minha mãe nunca havia se exaltado comigo daquela forma. Fiquei tão desanimada aquele fim de semana que nem tive disposição pra ir ao colégio quando a segunda-feira chegou. Estava com uma olheira terrível, o cabelo seco, nem sequer tive coragem de trocar o meu pijama rosa preferido quando acordei. Só abri meu Facebook rapidamente pra avisar à Júlia que não iria e pra explicar o motivo.
Fiquei o dia assistindo a filmes pra tentar me desligar de tudo. Mas, na verdade, a televisão só estava servindo como som de fundo pra que eu não me sentisse tão sozinha naquela casa enorme, pois eu nem mesmo estava prestando atenção. Em um determinado momento, o sol entrou pela janela do meu quarto, chegando até mim e me fazendo espremer os olhos pra conseguir enxergar. Levantei num ímpeto e fechei as cortinas. Foi quando Clara, a empregada, bateu na porta.
"O que foi?", perguntei sem abrir.
"A senhorita tem visita", respondeu.
"Diga que eu não quero falar com ninguém!", reclamei.
"Ele disse que é urgente."
Meio irritada, levantei e abri a porta do quarto. Espiei o lado de fora.
"Quem é?"
"Eu não sei, Senhorita, ele não disse"
"Tudo bem, diga que eu já vou descer."
Fechei a porta, fiz um rabo de cavalo rápido e joguei uma água gelada no rosto pra tirar aquela aparência de cansaço. Troquei o pijama por um short e uma camiseta e desci as escadas devagar. Quase morri quando vi quem estava parado à porta, com as mãos enfiadas no bolso da calça. Meu coração começou a bater tão forte, que eu pensei seriamente em sair correndo de volta pro quarto, antes que ele percebesse que eu estava nervosa.
"Phil?", desci o último degrau. Minha voz saiu mais baixa do que o esperado. "O que... o que tá fazendo aqui?"
Ele mordeu o lábio inferior e encarou o chão.
"É uma longa história..."
"Como você sabia onde eu morava?"
"Tenho meus contatos", ele balançou os ombros.
"Foi a Júlia, não foi?"
"Não, ela não teve nada a ver. Eu descobri sozinho."
Eu não sabia se ele estava falando a verdade.
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Meu Mundo ao Avesso
RomanceIsabela nunca soube muito bem como lidar com seus próprios sentimentos. Olhar para si mesma sempre lhe pareceu assustador, como se existisse uma porta no seu coração que ela não conseguisse abrir. E tudo isso torna-se ainda mais difícil quando ela p...