12 - P.V. PHILIPPE

120 17 3
                                    

"Aí, já estou começando a aceitar presentes antecipados!", Gustavo estava mais animado do que nunca com a proximidade da sua festa.

"Cala a boca, seu aniversário é só em junho", falei. "Não vem encher o saco não!"

"Cara, eu vou fazer uma festa muito foda!", ele gesticulou com a mão. "Eu já reservei até a casa. É bem grande, tem piscina, quintal e sala de jogos... e o mais importante!", ele fez uma pausa. "Eu chamei muitas garotas!"

"Ah, que bom pra você!", Murilo riu. "Isso, pra mim, não faz diferença."

"O que é uma pena, cara", Gustavo pousou a mão no ombro dele, como se o estivesse consolando. De repente, se virou para mim. "E você, é melhor aproveitar também..."

"Como vão as coisas com a Isa?", o Murilo perguntou.

"Nada de novo", respondi. "Ela é muito complicada. Às vezes parece que está menos resistente, mas logo começa com as implicâncias de novo."

"A verdade é que TODAS as garotas são complicadas.", disse Gustavo como se entendesse muito de relacionamentos. "E eu te aconselho a não tentar entendê-las, porque você pode acabar ficando louco."

"Você deveria fazer alguma coisa, se tá a fim dela", Murilo falou. "Senão vocês vão ficar sempre nessa"

"Aí, moleque! Eu concordo com ele!", Gustavo concordou. "Agarra ela de uma vez! Tá na cara que ela também te quer."

Com aquilo eu tive que concordar. Embora tivesse todas as nossas implicâncias, qualquer pessoa percebia que tinha algo a mais por trás. E eu já tinha percebido que causava uma reação nela, ela ficava meio sem graça do meu lado.

Por isso, decidi levá-la para a minha casa de novo no dia seguinte pra termos um tempo sozinhos. Claro que a justificativa seria fazermos o trabalho, mas eu não fazia ideia de como iria convencê-la a ir, pois nós já tínhamos praticamente terminado, faltavam pouquissimos detalhes. Mas eu iria tentar mesmo assim.

Esperei pacientemente o sinal da saída tocar, as aulas pareciam não ter fim, e então, quando a vi se levantar pra ir embora, eu chamei.

Ela parou e se virou, olhando bem nos meus olhos. Eu fui até lá, sentindo aquele olhar penetrante me abalar um pouco. O que estava acontecendo comigo?? Sempre que eu estava ao lado dela começava a sentir que meu cérebro ficava afetado. Mordi o lábio inferior e me concentrei.

"Temos que nos encontrar novamente pra terminar o trabalho."

"Já terminamos o trabalho, não lembra?"

Eu sabia que ela iria dificultar as coisas pro meu lado, então pensei rapidamente num plano B.

"Na verdade, tem umas coisas que precisam ser feitas, que eu reparei depois. E eu quero que você dê uma olhada"

Ela me analisou por alguns segundos em silêncio. "Tudo bem, você que sabe. Pode trazer o trabalho aqui amanhã?"

"Não"

"Por que não?"

"Por que eu acho melhor você ir até a minha casa pra ver, já está tudo lá mesmo, vai ser bem mais fácil."

Ela me olhou meio desconfiada, mas não descordou.

"Tá legal. Amanhã depois da aula?"

"Claro."

Ela se virou e saiu. Sorri pra mim mesmo.

***

Eu estava pensando seriamente em seguir o conselho do Gustavo e agarrar a Isabela de uma vez. Estávamos chegando na minha casa, e eu estava meio nervoso, ficamos o caminho inteiro calados. Eu queria tanto perguntar no que ela estava pensando...

"O Bruno está aí?", ela perguntou assim que entramos.

"Sim", respondi. "Eu estou achando até que você gosta mais dele do que de mim..."

"Isso é óbvio!", ela deu uma risada com sarcasmo. "O seu irmãozinho é muito mais legal que você."

"Haha", debochei.

Abri a porta, o Bruno estava no sofá, assistindo desenho. Deduzi que a Teresa estivesse lavando louça, pois ouvi um barulho de água vindo da cozinha.

"Escuta", comecei a falar. "Eu vou pegar a cartolina lá em cima, você não quer vir comigo? Com a televisão nessa altura, não vamos conseguir nos concentrar em nada."

"Ah...", ela pareceu incerta e olhou ao redor. "Tudo bem..."

Eu a conduzi até as escadas, só se podia ouvir o barulho dos passos, estava tudo escuro. Um nervosismo começou a tomar conta de mim. Era a primeira vez que iríamos ficar literalmente sozinhos. Mas que merda era aquela? Eu não ficava nervoso perto de ninguém! Quis dar um soco em mim mesmo. Estiquei o braço, acendi a luz do quarto e disse pra ela ficar à vontade. A porta estava aberta, é claro, eu não queria que os dois ficassem suspeitando lá em baixo ou especulando coisas.

Enquanto eu pegava a cartolina, ela se sentou na beirada da cama e ficou observando meus movimentos. Só quando eu me sentei também ela abriu sua bolsa e pegou o caderno. Como não tinha muita coisa pra fazer, acabamos bem rápido. No final, minha cama tinha virado uma bagunça de papéis e cartolina.

Eu achei que ela, como da outra vez, fosse inventar logo uma desculpa pra ir embora, mas ela guardou o material, se levantou e foi até a janela do meu quarto. Então ficou ali um tempo, analisando a vista. Eu nunca vi muita graça em admirar casas enfileiradas praticamente iguais, mas ela parecia bem entretida ali. Depois de algum tempo, ela se sentou de novo.

"Você toca violão?", ela direcionou o olhar para o violão encostado na parede.

"Não. Meu pai me deu esse quando eu era criança, mas eu nunca tentei aprender. E, pra ser sincero, eu era tão pequeno pro violão na época que nunca consegui!" , respondi.

Ela riu.

"Você toca?"

"Um pouco", ela balançou os ombros. "Eu treinava no violão de uma amiga minha quando era pequena, mas nunca tive um", ela hesitou e refletiu. "Talvez eu devesse ter comprado, mas sempre usei meu dinheiro pra roupa e coisas fúteis"

Eu só fiquei olhando pra ela e ouvindo o que ela dizia.

"Pode pegar se quiser", sugeri.

"Agora?"

"Sim", eu fui até lá, peguei e o entreguei a ela. "Pode usar, eu só vou guardar umas coisas..."

Juntei o que estava em cima da cama e caminhei até o armário enquanto escutava algumas notas do violão invadirem o ambiente devagar. Tentei ajeitar as coisas, mas o armário estava tão bagunçado que parecia não ter espaço pra mais nada. Lutei contra as roupas emboladas um tempo, até me dar conta de que a Isabela já havia parado de tocar e estava rindo de alguma coisa. Então eu me virei.

"O que foi?"

"Você"

Ela veio na minha direção, sem conter o sorriso, em seguida, ficou na ponta dos pés, esticou o braço e pegou um casaco meu. Então dobrou e o colocou de volta. Ela fez a mesma coisa com um outro. E um espaço se abriu. Eu só fiquei observando os movimentos dela.

"Pronto", ela me olhou, e só então eu me dei conta do quanto estávamos próximos um do outro. "Agora vai caber"

Sorri e balancei os ombros.

"Eu poderia ter feito isso."

"É", ela usou um tom quase debochado. "Eu sei que você poderia. Com certeza você é muito organizado..."

Eu ri, olhando bem para o rosto dela, mas não consegui desviar. Eu estava basicamente hipnotizado pelo seu rosto. Ela percebeu, e, meio sem graça, se retraiu. Senti o meu coração dar uma acelerada no peito.

Quando ela levantou os olhos e me encarou de volta, pensei se ela sentia a mesma coisa... A gente ficou se encarando um tempo, eu me senti como se estivesse fora de mim. Eu ia beijá-la naquele momento, eu queria tanto, o ambiente ficou subitamente elevado, mas o meu irmão entrou no quarto, perguntando qualquer coisa que eu não faço ideia do que seja.

Meu Mundo ao AvessoOnde histórias criam vida. Descubra agora