9 - P.V. ISABELA

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Eu precisava dizer ao Alberto que os meus pais não poderiam ir, e estava com muita pena de mim mesma por ter que fazer isso. Sério. Eu não podia acreditar que meus pais iriam fazer uma coisa dessas. Queria muito arrumar uma solução, mas eu não podia fazer nada além de lamentar. Cheguei em casa, depois do colégio, e estava me preparando para ligar pro Alberto, quando vi um papelzinho dobrado ao meio em cima da mesinha central da sala. Caminhei até lá e o peguei. Reconheci na hora a letra da minha mãe.

Oi, filhinha! Ligue para mim assim que chegar do Colégio.
- Beijos! Mamãe

Não entendi nada. Minha mãe NUNCA me pediria pra ligar pra ela àquele horário, porque certamente estaria super ocupada no trabalho. De qualquer forma, peguei o celular do bolso e disquei o número dela, imaginando o que ela teria pra me dizer. Ela demorou a atender.

"Isa, minha filha, que bom que ligou!"

"Oi, mãe", falei com desânimo. "Por que você queria que eu ligasse?"

"Escute, eu tenho uma reunião daqui a três minutos, então vou falar bem rapidinho. Eu estive conversando com o seu pai e... nós chegamos a um acordo."

Ótimo. Apoiei o peso do meu corpo na perna e aguardei. É agora que eu fico de castigo pelo resto da vida por ter discutido com os meus pais naquele dia.

"Que acordo?"

"...Você tinha razão, minha filha.", escutei uma voz abafada, como se alguém estivesse chamando-a do outro lado da linha. "Eu tenho que desligar, Isa, a reunião vai começar agora. Eu só queria te dizer que, a respeito da reunião com o tal Alberto, você pode confirmar. Seu pai e eu vamos estar lá, tudo bem? Beijo, tchau!", e desligou.

Ela explicou tudo tão rápido que eu nem tive tempo de digerir as informações direito. Mas captei a última parte. Eles iriam?? Sorri sozinha. Ai, meu Deus! Que máximo! Será que a minha carreira iria finalmente começar? Fiquei tão empolgada, liguei imediatamente para o Alberto, confirmando a reunião. Ele ficou feliz em saber que iríamos, disse que estava animado para falar conosco. A ansiedade me consumiu durante as horas que se passaram.

***

Flagrei meus pais mexendo no celular umas cinco vezes enquanto o Alberto tentava explicar assuntos sérios. Fiquei tão irritada que tive vontade de gritar no meio da reunião.

O assunto tratado no "encontro" foi basicamente que ele estaria começando um programa de talentos na próxima semana e queria saber se eu cogitaria a hipótese de participar, caso fosse selecionada, e também o que os meus pais achariam da ideia, já que eles precisariam entregar uma autorização por eu ser menor de idade e estar sendo exposta numa tevê. Eles não demonstraram muito interesse; apenas afirmaram que assinariam a autorização e que adorariam me ver cantando num canal de televisão. Como se eles fossem assistir!

Eu achei - particularmente - que meus pais fossem se interessar mais pelo assunto, que fossem fazer perguntas, interagir... mas eles só disseram SIM pra tudo. Eu sei, pelo menos é alguma coisa, mas eles podiam se importar um pouquinho mais com o futuro da filha deles.

O Alberto explicou que vai ser um programa onde vão ser selecionados dez participantes, que vão sendo eliminados um a um ao longo do programa, por votos do público na Internet. E no final sobrariam apenas dois participantes. Então o grande vencedor seria anunciado...

Eu esperava ter grandes chances de ganhar. As pessoas diziam que eu tinha uma voz bonita, mas eu não sabia se seria o suficiente para vencer. Eu não conhecia os outros participantes, não sabia se eles já tinham anos de experiência...

Meu Mundo ao AvessoOnde histórias criam vida. Descubra agora