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Lolla

Pessoas bêbadas podem ser classificadas em quatro grupos:

1 – Pessoas que não apresentam grandes mudanças de personalidade.

2 – Pessoas que ficam mais agradáveis, simpáticas e incrivelmente engraçadas.

3 – Pessoas que transformam o ambiente em um campo de batalha.

4 – Chorões.

Eu não contei, mas tenho quase certeza que foram cinco garrafas. E essas cinco garrafas bastaram para ele perder totalmente a vergonha - talvez um pouco da noção também - e dar em cima de uma garota.

Sim, eu sei que milhares de pessoas fazem isso em festas; flertar e tudo mais. É completamente normal. A real questão aqui é que Luke não é um cara de muito sorte. E eu nem estou falando da vida dele, mas acho que ele merece ser classificado assim já que o que aconteceu após o flerte dele não foi algo comum.

Podemos dizer que alguns caras não gostaram da intimidade de Luke com a tal garota e não demorou quase nada para ele ir do grupo dois para o grupo três.

Não eram muitos deles para falar a verdade, mas se Luke não era um bom lutador sã, imagina bêbado. Oh droga, ele sentiria tanta dor depois do efeito do álcool passar.

De repente, lá estava eu com o braço dele envolvido em meus ombros , aguentando seu peso - e eu sempre achei Luke bem magro, mas agora ele parecia pesar uma tonelada. Em meio aquela multidão, eu tentava desesperadamente localizar o Harry.

E quando finalmente o encontrei, Luke já estava no grupo quatro e chorava compulsivamente se desculpando por ter estragado a festa para todos nós.

Em menos de trinta minutos, Luke havia pertencido a três dos quatro grupos. Eu tinha a total certeza de que ele não tinha costume de ingerir bebidas alcoólicas. E eu não o deixaria beber novamente por um bom tempo.

(...)

Sem sombra de dúvidas, havia um monte de coisas que eu gostaria de estar fazendo naquele momento, mas nenhuma delas envolvia estar dentro de um carro com o Luke bêbado e com o Harry mau-humorado.

Mas eu não podia culpa-los.

Para começar, Luke não teria ido a aquela estúpida festa conosco e bebido se eu não tivesse insistido. E também tinha Harry, que foi obrigado a nos levar embora no meio da noite, o que diminuía as chances dele conseguir uma transa sem compromisso. Ah, como Harry adorava transas sem compromisso.

— Ela era bonita. — Harry voltou a reclamar, ainda um pouco irritado. Ele ficava repetindo isso desde que tínhamos entrado no carro. — E tinha uns peitos...

Não pude segurar o impulso de revirar os olhos. Luke estava praticamente desmaiado no banco de trás do carro – seu lábio inferior tinha um corte pequeno por onde saia uma quantidade surpreendente de sangue – e Harry estava realmente falando sobre peitos?

— Não me olhe assim. — Sorriu com o toque malicioso que ele sempre carregava em seus sorrisos. — Eles eram realmente grandes.

Uma gargalhada escapou sem que eu quisesse, foi praticamente impossível. A minha característica preferida do Harry é o fato de ele saber exatamente como diminuir a tensão presente em um ambiente. Ele era tão leve e descomprometido com tudo. E isso era bom, certo?

(...)

Depois de algum tempo o carro estacionou em frente ao apartamento que os dois dividiam. Saltei do automóvel e Harry veio logo atrás de mim carregando Luke. Assim que entramos, passei os olhos pela ambiente que continuava exatamente igual ao que era antes de irmos a festa. Eu sempre fazia isso, era meio que inconsciente.

— Harry, não tem nada que eu possa usar para limpar a boca dele? — Ele se virou totalmente na minha direção e apontou para o armário.

Ao procurar algum curativo lá dentro, encontrei uma caixa de primeiros socorros no armário e logo fui limpar e tratar do machucado de Luke enquanto ele cantarolava uma música que não fui capaz de reconhecer.

— Você é linda, Lo- Lolla. — Luke pronunciou com dificuldade, me encarando com um certo brilho nos olhos. — Tão linda...

Eu quis rir de mim mesma quando pensei em respondê-lo: É, pode ser, mas eu não tenho peitos grandes.

Claro que espera-se que depois de um elogio venha um agradecimento. E Luke nem me deu essa oportunidade. Antes que eu pudesse agradecer, ele colocou para fora toda a bebida que havia ingerido. Seu almoço e, me arrisco a dizer, até seu café da manhã.

— Que porra! — Gritei. — Que droga, Luke! Você vomitou em mim. Eu não acredito nisso!

Afastei-o de perto de mim com um empurrão e o mesmo caiu no sofá. Ele falou mais algumas coisas sem o menor sentido antes de adormecer ali no sofá mesmo.

Talvez essa coisa de azar é contagiosa porque, neste momento, eu não me consideraria uma garota de sorte.

(...)

Eu podia ouvir a risada do Harry do lado de fora do banheiro enquanto eu tentava tirar o cheiro do vomito do meu corpo. Eu nunca fiquei tão irritada em toda a minha vida.

— A culpa é sua! — Grito para que Harry possa ouvir.

— Minha? — Ele pergunta como se estivesse surpreso.

— Sim! Totalmente. Você faz parecer fácil essa coisa de flertar e olha o que aconteceu com o garoto.

— Lolla, minha querida Lolla, eu nunca disse para o Luke flertar com alguém. Exatamente porque eu sei que ele não precisa. Qual é? — É, Harry até que tinha um pouco de razão, mas só um pouquinho, os cabelos loiros e olhos azuis de Luke não são de se jogar fora. — Sei disso porque quando ele anda nos corredores da faculdade, as garotas viram a cabeça para olhar para ele.

Ficamos calados por alguns instantes, mas Harry voltou a falar com seu típico convencimento:

— E eu não flerto. Sou naturalmente adorável.

— Eu estou certa de que existem pessoas formidáveis por toda aquela faculdade. Espontâneas, simpáticas e modestas, mas eu fui fazer amizade logo com vocês, isso tem que significar alguma coisa.

Abri a porta.

— Além do fato de você ser muito sortuda? — Harry me encarou e colocou a mão na frente da boca como se estivesse se segurando para não rir. — Eu não faço a menor ideia do que possa significar.

— Preciso de uma camisa. — Me encostei no batente da porta, usando somente minha calça jeans. Minha camiseta não estava em condições de ser usada, na verdade, eu nem sei se ela poderá ser usada novamente.

— Eu percebi. — Ele foi até o seu quarto e voltou em pouco tempo trazendo uma de suas camisetas. — Você saiu de casa sem sutiã?

— Isso importa, Harry?

— Eu não sei. Importa? — Ele me questionou, olhando fixo nos meus olhos com curiosidade.

— Minha nossa! Você gostou deles. — Brinco me referindo aos meus seios e riu um pouco, mas para a minha surpresa, ele não ri junto comigo. Seus olhos verdes pareciam estar mais escuros do que alguns segundos atrás.

Surpreendendo-me, Harry suspira pesadamente e encosta os dedos na minha bochecha:

— Se você quer saber, eu gostei muito.

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