Acordei e levei alguns segundos para perceber que o peso sobre meu corpo era de uma garota. Uma garota loira. Mas que porra é essa?
A dor de cabeça era grande, indicando que eu havia bebido demais. Eu não conseguia me lembrar da maior parte da noite mas o que eu queria esquecer estava fresco na minha cabeça. O olhar de Lolla enquanto eu rodeava a cintura da garota com minha mão.
Tirei sem qualquer delicadeza o braço da garota de cima de mim e recebi como resposta um grunhido de reclamação.
— Harry? —. A garota se ajeitou na cama enquanto eu caminhava pelo quarto na procura de minha roupas. — Que tal ficar mais um pouco?
Meu estômago revirou, ela estava longe de ser com quem eu queria ficar mais um pouco. Neguei com a cabeça e entrei no banheiro.
Lavei o rosto e me olhei no pequeno espelho em cima da pia. Eu não estava nos meus melhores dias.
Depois de um banho rápido, voltei para o quarto e a garota ainda se encontrava na minha cama. Eu odiava o fato da maioria delas não entenderem o que era sexo casual. Facilitaria tanto.
— Você demorou.— Ela me olhou de cima a baixo e fez um biquinho triste.
Que cena ridícula.
Sai do quarto sem falar nada, deixado a garota completamente perdida ainda na minha cama. Caminhei pela casa. Aquilo estava horrível. Bêbados não sabem o que é lixo?
Como se situação toda já não bastasse para despertar o meu mau-humor, ao chegar na cozinha eu me deparei com Lolla e Luke sentados na mesa tomando café da manhã. Eu já havia presenciado essa cena diversas vezes, mas dessa vez tinha algo diferente, eles pareciam aqueles casais típicos de comercial de margarina.
— Noite boa? — Luke riu quando percebeu minha presença.
— Pela cara de acabado, eu diria que sim. — Lolla disse indiferente, sem dirigir o olhar para mim.
Okay, garota. Eu também sei jogar o jogo da indiferença.
Aliás, fui eu quem o inventou.
— Boa pra caralho. — Enfatizei e sorri.
— Legal. — Luke sorriu e Lolla rolou os olhos com desdém.
— Super legal. — Concordei e me sentei ao lado da Lolla. — Pode me passar a geléia? — Perguntei para ela.
Eu sentia uma necessidade estranha de provoca-la.
A contragosto ela me entregou o pote de geléia. Eu nem gostava tanto daquilo mas enchi a torrada com uma quantidade exagerada.
— Harry? — Ouvi a voz da garota com a qual eu havia transado na noite passada me procurando pela casa. Qual era mesmo o nome dela?
— Ela ainda esta aqui? — Luke perguntou chocado. — Ela não conhece sua fama?
— Já volto. — Me levantei e fui atrás da garota.
A garota me olhava com aquela cara esperançosa de que ela seria especial e que eu não a recusaria.
Bobagem.
Meu coração já havia sido capturado e talvez um pouco esmagado. Era por isso que eu não gostava dessa coisa do amor, não era pra mim.
Amor era para pessoas que não tinham mais o que fazer.
E era bem provável que foi por isso que acabei amando. Eu venho fazendo nada ultimamente.
— O que você está fazendo aqui? — perguntei para a garota, fazendo com que seu sorriso murchasse um pouco.
— E-eu achei que a gente fosse tomar café da manhã.
— Eu vou tomar o café da manhã, você vai seguir reto até o final do corredor e sair daqui agora — expliquei com os braços cruzados.
Vi as lágrimas surgirem em seus olhos e me esforcei para não suspirar de tédio.
Será que as pessoas não sabem transar sem se comprometerem?
— Você é um idiota, um babaca! Eu te odeio! — ela tentou me empurrar, mas eu não me movi nem um centímetro.
— Já fui chamado de coisa pior.
— Eu nunca mais quero te ver na minha vida! — ela disse antes de fechar a porta.
E então finalmente pude soltar um suspiro. Meus olhos viajaram até a cozinha, onde Lolla e Luke disfarçavam o olhar que antes era direcionado a mim.
Sem terminar o café da manhã, subi para o meu quarto e fui tomar outro banho. A água quente escorrendo pelo meu corpo era exatamente do que eu precisava. Eu não esperava que a água levasse todos os meus problemas, era impossível, mas eu queria relaxar.
Eu queria voltar a não ligar para nada.
A vida é mais fácil quando você simplesmente não se importa.
Mas eu me importava agora, e isso não fazia a mínima diferença porque ela o escolheu. E eu nunca culparia Lolla por isso.
O Luke era o cara certo, eu não.
Eu era o cara que só fazia merda e nunca admitiria. Eu era o cara que só a faria sofrer. Se tinha um cara que era o errado, esse era eu.
Saí do banheiro com a toalha na cintura e fiquei surpreso ao ver Lolla sentada na minha cama.
— Eu não estou esperando visita.
— Que bom, eu não quero que ninguém interrompa o que eu quero te perguntar — ela retrucou ainda séria.
— O que é?
Me apoiei no batente da porta e fiquei esperando ela responder, mas podia jurar que Lolla ficara me analisando com seus olhos nada discretos por um bom tempo.
— Hm — limpou a garganta. — Acho que é melhor deixar para lá.
Lolla se levantou da minha cama o mais rápido possível e tentou sair do quarto, mas eu consegui segurar seu braço.
— O que você queria perguntar, Lolla? — me aproximei dela.
— Porque você não me impediu? — ela engoliu em seco e quase não consegui ouvir de tão baixa que saiu sua voz.
— Porque a escolha era sua e não minha — respondi, sendo ousado o suficiente para acariciar sua bochecha.
— Mas eu precisava saber que você se importava, eu preciso saber.
— Lolla, eu... — falei, mas ela olhava para os meus lábios e eu não podia fazer outra coisa a não ser olhar para os dela também.
— O que está acontecendo aqui?
Luke.
Fechei meus olhos com força pensando no que viria a seguir.
Eu apenas sabia de que não seria nada bom.