— Que porra, Harry! — Ela exclamou, se afastando e vestindo suas roupas rapidamente. — A gente ia contar pro Luke e agora isso. Ontem estávamos bêbados e hoje é o que? O que é isso? E a sua regra de não ficar com uma garota duas vezes? O que a gente está fazendo?
Eu não soube o que responder. O que eu diria? Não era para ter acontecido uma primeira vez. Não era para ter acontecido uma segunda e não era para eu querer que acontecesse novamente.
— Harry? Só vamos parar com isso. Seja lá o que tenha sido isso. E nunca, mas nunca mais mesmo, deixar isso acontecer novamente. Tudo bem?
Trocamos olhares receosos e balancei a cabeça concordando, eu não sabia o que responder. Eu nunca fui bom em lidar com pessoas. Em lidar com relacionamentos. Sentimentos. Desejo. Nunca quis nada que fosse complicado demais.
— Vamos esquecer isso. É melhor. Nunca aconteceu.
— Oh Lolla... — Finalmente consegui organizar meus pensamentos e falar. — A gente esquece de fazer a lição de casa, esquece de levar aquilo que nosso amigo pediu emprestado, esquece o nome daqueles professores que a gente não gosta, mas esquecer o que está rolando entre a gente, isso é impossível.
E ela ficou sem reação.
Vez ou outra olhava para mim, sua boca se abria levemente como se quisesse argumentar algo, mas não soubesse exatamente o que falar. Isso me confortou, porque de certo modo eu sabia que ela estava tão confusa com aquilo tudo tanto quanto eu.
— Eu não quero que ele se magoe. — Ela disse por fim num sussurro baixo e soltou um longo suspiro.
Eu sabia exatamente a quem ela se referia, e eu concordava com ela. A única coisa que tínhamos certeza é de que não queríamos magoar o Luke.
E, então, as palavras ditas por ele mais cedo vieram para meus pensamentos com uma velocidade incrível: "Vocês nunca dariam certo". E eu sabia que ele estava correto. Eu olhava pra Lolla no banco do carro sentada ao meu lado e eu sabia que ela merecia bem mais do que eu, ela merecia alguém capaz de decorar todas as classificações de bêbados, todos os tipos de riso dela, ela merecia alguém como Luke. E o Luke merecia alguém como a Lolla. Era o certo.
Mas eu não sei quando foi que o certo começou a me parecer tão errado.
Luke
Eu odeio falar do que sinto. Me sinto vulnerável. Ainda mais falar o que sinto para Lolla. Lolla é tão encantadora. Tão linda. Tão Lolla.
Ela me ligou. E supondo pelo modo como ela saiu nervosa pela porta do apartamento de manhã e pela soar da sua voz no telefone, algo aconteceu.
E talvez, com muita sorte, ela tenha percebido algo.
Sentei no sofá olhando para tela do meu celular esperando por qualquer sinal de vida dela.
Nada.
Provavelmente, ela estava a caminho e perdeu o sinal ou como sempre, distraída, não tivesse sentindo o celular vibrar no bolso da calça quando eu retornei a ligação.
Eu não queria parecer muito desesperado, então esperei que ela retornasse ou aparecesse no apartamento.
Respirei fundo, contei até dez, fechei os olhos e respirei fundo novamente. Era só Lolla. Por que eu estava tão nervoso?
Escutei a porta do apartamento ser destrancada e sorri ao pensar que ela tivesse chegado.
— Lolla? — Perguntei e me virei, mas tudo o que eu vi foi a cara de Harry com os olhos estreitados.
— Parece que eu sou a Lolla? — Ele arqueou a sobrancelha e se jogou no sofá ao meu lado.
— Mau-humorado. — Resmunguei bem baixinho para que Harry não me ouvisse.
— Porque você está tão nervoso, loirinho? — Harry perguntou depois de um tempo e eu olhei para ele, me perguntando como ele sabia disso.
— O que?
— Você não para de bater o pé no chão. É irritante.
— Desculpa, cara. É porque a... — Parei de falar quando vi ela sentar no sofá do outro lado da sala. — Lolla!
— T-tudo bem, Luke? — Ela mexeu nas mãos nervosamente.
— Aconteceu alguma coisa? Você me ligou e depois a ligação caiu...
— Não, não foi nada.
Olhei para Harry por uns instantes e percebi que ele a encarava insistivamente.
— Harry, será que você pode sair?
— Porque? O apartamento também é meu.
— A Lolla não se sente confortável com você aqui. — Lembrei-o.
Porque isso era verdade, a Lolla não se sentia confortável em contar algumas coisas para o Harry.
Minha amizade com Lolla tinha começado a mais ou menos uns quatro anos. E foi a única amizade que Harry nunca fez questão de fazer parte. Os dois simplesmente não se falavam no início.
Eu me lembro de, há dois anos atrás, perguntar para Lolla se ela estava afim de morar com a gente por uns tempos, mas eu sabia que ela não aceitaria. E ela realmente não o fez.
Por isso fiquei impressionado quando vi que Lolla tinha dormido na mesma cama que o Harry, isso podia ser causa da bebida mesmo. Quando que eu imaginaria Lolla com Harry um dia sendo que ela sempre desprezou as atitudes que o Harry tinha com as garotas? Eu quis rir de mim. Aquilo era impossível.
— Ok, loirinho. — Harry disse de má vontade. — Vou ir pro meu quarto.
Eu passei alguns minutos em silêncio, ora olhando para Lolla, ora para as minhas mãos. Era difícil reunir coragem para admitir uma coisa que eu guardava para mim por tanto tempo.
E se ela não sentisse o mesmo?
Era uma possibilidade. Mas tinha que correr esse risco, eu precisava tentar.
— Lolla, eu preciso te contar uma coisa.
— M-me contar? — Ela gaguejou um pouco como se estivesse nervosa.
Isso foi até um pouco estranha já que ela nunca ficava nervosa, mas tudo bem, todo mundo tinha seus momentos.
— Eu já sabia disso faz muito tempo, mas eu andei reunindo coragem e eu preciso te dizer que eu estou apai...
O celular de Lolla tocou e ela tirou do bolso para atender.
— Alô? É, poxa, eu esqueci disso... Já estou indo. — Ela se levantou e pegou sua bolsa. — Luke, a gente pode conversar sobre isso depois?
— É que é muito import... Quer dizer, podemos. Nós podemos.
— Então, eu vou indo, tá? — Ela se despediu e saiu do apartamento apressada.
Lolla
Quando finalmente saí do apartamento dos meninos, liguei de volta para Harry:
— Você está me devendo essa, Lollinha. Te tirei de uma enrascada. — Ele riu baixinho do outro lado da linha.
— Você começou isso, babaca. Eu não estou te devendo nada.
— E eu não te forcei a fazer nada ou forcei? — Harry perguntou e eu engoli em seco. — Nós dois temos culpa no cartório.
É, eu sabia disso.
Mas eu preferia achar que isso não era culpa minha. Que isso era um erro.
O problema era que pela primeira vez na minha vida, eu estava gostando de errar.
