Eu estava parado olhando para meu ex-chefe tentando entender o que de tão ruim eu fiz nessa vida para merecer porrada atrás de porrada.
– Isso aqui é equivalente o que você trabalhou esse mês – o gordo careca me entregou o envelope pardo. – Sinto muito, Eric.
Ele não sentia. Ele não estava nem aí. Peguei o envelope e enfiei no bolso do casaco. Saí sem olhar para trás. Por que as coisas tinham que ser tão difíceis? Eu nunca havia matado ninguém; roubado ninguém; por que a vida não me dava um momento de paz?
Saí daquele prédio velho me sentindo um fracassado. O que eu ia fazer agora? Comecei andar pela cidade sem rumo, eu não poderia ir para casa e deixar Nate me ver daquela forma. Caminhei até o parque e me sentei em um dos bancos. As crianças corriam de um lado ao outro, contentes e empolgadas, seus pais as observavam, vigiando seus passos. Todos meus pensamentos voaram para Nate. Ele merecia um pai melhor; uma vida melhor; ele merecia uma família de verdade. Eu não queria que ele tivesse uma vida como a minha, eu queria que ele tivesse um futuro; uma vida qual ele se orgulhasse. Porém, Kate nunca iria me perdoar se o abandonasse, ela me fez prometer que eu iria cuidar do nosso filho independente da situação; que eu sempre estaria lá para ele. Na verdade eu também nunca me perdoaria se eu desistisse.
Com esses pensamentos fui para único lugar onde eu ficaria mais perto dela. Talvez eu me sentisse melhor. Seu túmulo não via flores há meses, eu não podia, o dinheiro estava curto demais. Mas, acho que ela entendia.
– Desculpa ficar tanto tempo sem vir – falei me agachando e passando os dedos pelo seu nome. – Eu estava trabalhando muito. Mas adivinha? Fui demitido. Sumiu uma carga e eu levei a culpa. Alguém deve ter armado para mim, não importa, na realidade. As coisas vão ficar feias de novo, espero que eu consiga uma saída. Quer dizer, eu vou conseguir uma saída. Vou cumprir minha promessa, vou cuidar do nosso filho custe o que custar – soltei um suspiro e olhei para seu nome com carinho. – Eu queria que estivesse aqui, você sempre sabia dizer as coisas certas no momento certo. Eu sinto a sua falta. Eu e Nate vamos ficar bem, nós temos você como anjo da guarda por que não ficaríamos, né?!
A noite já estava caindo quando decidi ir para casa. Eu não poderia ficar vagando pela cidade a noite inteira. Quando cheguei no meu apartamento, Nate estava sentado no chão vendo desenho e Megan estava sentada no sofá pintando suas unhas. Joguei as chaves na bancada da cozinha fazendo os dois desviaram a atenção para mim.
– Papai! – Nate se levantou rapidamente e correu para meus braços abertos.
– E aí, carinha – o peguei no colo e beijei seu rosto. – Como foi na escola?
– Muito “lecal”, tia “Tella” mandou a gente “fazê” um “dessenho” – ele disse e começou a se mexer agitado no meu colo. – Chão papai, “quelo” te mostrar.
– Ok, carinha.Ele saiu correndo para o quarto em busca do seu desenho.
– A dispensa está vazia – Megan começou dizer.
– Droga! – me joguei no sofá, apoiando meus cotovelos nos joelhos. – Eu fui demitido – cocei os cabelos da minha nuca.
– Por quê? Que merda, Eric! – Megan se alterou.
– Eu sei, Megan, eu sei.
– Olha, papai – Nate voltou para a sala segurando uma folha de papel. Ele se aproximou e me entregou o desenho.
– Eu, você e a mamãe.Segurei a folha e olhei para o desenho, não era dos melhores, ele só tinha três anos. Eu vestia uma capa, como se fosse um super-herói, ele estava ao meu lado e a Kate estava entre as nuvens, eu sempre dizia que ela estava no céu olhando para gente. Senti minha garganta ficar seca e meus olhos arderam, respirei fundo, fechei os olhos com força e tentei me recompor.
– Papai, você não “gosto”? – perguntou um pouco desanimado.
Abri meus olhos e o encarei, abri um sorriso sem mostrar os dentes.
– Como eu não ia gostar? Você é um artista – ele abriu um sorriso orgulhoso.
– Ah, já ia esquecendo, a professora dele disse que ele precisa de tênis novos – Megan disse. – Eu preciso ir, tenho que trabalhar.
– Tudo bem, obrigado.
– Faço qualquer coisa por você, Eric. Mas você precisa dar um jeito nisso, eu não posso mais te ajudar com dinheiro, tenho minhas próprias contas – ela suspirou e se aproximou sentando no meu colo. Fiquei um pouco desconfortável, eu não gostava que o Nate visse essas coisas.
– Megan… – a repreendi, segurando sua cintura tentando tira-la do meu colo.
– Pensa no que eu te falei – ela alisou meu rosto. – Vai ser melhor para ele, Eric.
– Não existe a menor possibilidade de eu jogar meu filho em um orfanato, ele tem pai. Não vou abandonar ele, Kate… – ela me interrompeu irritada.
– Kate está morta, Eric. Vocês dois estão vivos e ela não pode fazer nada por vocês!Olhei para o Nate e percebi que ele estava começando a ficar assustado.
– Acho melhor você ir embora – falei firmemente.
– Se você se sente melhor vendo seu filho passar fome e ser zoado pelos amiguinhos porque nunca tem nada, porque você tem que cumprir uma promessa estúpida para sua ex-namorada morta, tudo bem – ela gritou, jogando suas coisas dentro da bolsa. – Não vou ficar aqui vendo você se afundar mais e mais, quando você acordar para vida você me procura.Bateu a porta com força, fazendo Nate se encolher. Megan não era importante, eu não me importava que ela saísse da minha vida, ela era bacana e me ajudava cuidando do Nate quando eu ia trabalhar. Tínhamos um lance, ficávamos quando tínhamos vontade. Mas nada que me fizesse correr atrás dela, eu tinha preocupações maiores, se ela quisesse ir, que fosse.
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Sol que faltava
RomanceEric faz seu melhor para que Nate, seu filho, tenha uma vida decente. Quando sua namorada estava entre a vida e a morte, ela o fez prometer que jamais, sobe hipótese alguma, ele abandonasse o filho. Ele cumpriu. Mas as coisas começam a ficar difícei...