Sol que faltava

S E T E

Deixei Nate no quarto e saí para pequena sacada para respirar um pouco. Tirei a foto da Kate com o Nate do meu bolso, apoiei meus antebraços na grade e fiquei olhando para foto. Nate só tinha alguns meses e apesar de tudo as coisas eram mais fáceis e éramos felizes.

– O que você está fazendo? – Kate sentou ao meu lado no sofá. 
– Ele dormiu? – ela assentiu. – Estava olhando as contas, como vamos pagar isso?

Ela olhou para os papéis nas minhas mãos e depois voltou olhar pra mim.

– Como pagamos mês passado. Pode parando com isso, sempre damos um jeito. Está na bíblia que Deus não dá um fardo maior do que possamos aguentar e estamos longe do nosso limite. Temos um ao outro – ela deitou sua cabeça no meu ombro e entrelaçou nossas mãos.
– Agora vamos falar sobre a Belinda que está te querendo.
– O quê? – gargalhei. – A Belinda é estranha e ela acha que somos casados, na realidade quero que ela continue pensando assim. 
– Ela não é tão ruim — riu e me deu um tapa no braço. – Você é uma pessoa horrível! 
– Não sou não. Ela realmente é feia, eu tenho bom gosto.
–Eu sei, você se apaixonou por mim — jogou o cabelo para o lado. — Nós tínhamos tudo para dar certo, sabia?! Deveríamos ter continuado apaixonados. Seria perfeito. Agora vou ter que ainda em busca do amor da minha vida. 
– Você vai em busca do amor da sua vida outro dia. Porque agora eu quero você –  falei, afundando meu rosto em seu pescoço. 
– Você só pensa em transar – rolou os olhos. Mas, em seguida veio para meu colo e me montou. Ela se inclinou um pouco e sussurou no meu ouvido –: Aonde está camisinha?

Sorri com a lembrança. Nossa relação era louca, mas nós nos entendíamos bem e cassete, eu sentia muita falta dela. Encostei na parede e escorreguei até que estivesse sentado no chão. Apertei minha mão que estava com a foto e fechei meus olhos.

– Eu vou dar um jeito, como nós sempre dávamos, Kate – suspirei. 
– Papai? – ouvi a vozinha do Nate me chamar vindo do quarto.

Levantei, coloquei a foto no bolso novamente e voltei para o quarto.

– Oi carinha – falei, tirando o tênis e deitando ao seu lado. 
– Pesadelo com bicho – fez um bico e se aconchegou em mim.
– Papai não vai deixar bicho nenhum chegar perto de você. Confia em mim?
– ele assentiu imediatamente e deixei um beijo em sua testa. – Agora vamos dormir.

***

A manhã seguinte estava muito mais agradável, sabe quando parece que o dia está te preparando coisas boas? Acordei com essa sensação. O tempo estava se abrindo. Ainda tinha um vento gelado, mas os raios solares estava mantendo o tempo mais ameno.

Deixei Nate na escola – sim, misteriosamente um motoboy passou pela manhã deixando um par de tênis do ben10. Algo me dizia que a visita na noite anterior tinha algo a ver com isso ou poderia ter sido a Lisa, mas o foda é que não falei isso com ninguém. Então, apesar de ter quase certeza de quem tinha mandado aquilo, não saberia afirmar. Me senti muito tentado a devolver, mas Nate merecia ter uma vida normal, ele tinha que ir para escola e talvez tivesse um futuro descente ao contrário do pai.

Com Nate na creche eu tinha a tarde toda livre. Então passei horas andando pelo centro, entregando currículos – achei um lugar que imprimia currículos de graça para pessoas desempregadas, meu caso –, se não fosse por isso eu não sei como eu faria para imprimir dezenas de currículos. As vagas estavam escassas, principalmente para quem só tinha o ensino médio, como eu.

Com muita dor no coração penhorei o cordão que Kate tinha deixado comigo, ela disse que era para que eu lembrasse sempre dela. Eu não precisava daquele fio de ouro para mantê-la comigo, ela estava tatuada no meu coração e nem tempo e nem ninguém mudaria isso. Eu daria um jeito de voltar para buscar, mas no momento eu precisava do dinheiro para comprar pelo menos o básico para Nate comer, ver meu filho dizendo que estava com fome e não fazer nada era como se alguém tivesse enfiado uma faca no meu peito. Nunca levei uma facada, mas tenho certeza que a dor seria a mesma ou até mesmo pior.

– Cara, estava mesmo querendo falar com você – parei quando ouvi uma voz conhecida.

Olhei para trás e vi um amigo de longa data. Max, era irmão da Lisa, nós todos nos conhecíamos desde que éramos crianças. Mas Max começou se envolver com coisas erradas e eu me afastei, na época eu tinha acabado de virar pai e tudo que eu menos queria era ir parar atrás das grades. Fazia meses que eu não o via pela área.

– Max! – o cumprimentei. – Por onde você andava cara?

Ele fez uma careta e deu um último trago no cigarro, jogando-o no chão logo em seguida e pisando.

– Me meti em encrenca, tive que me mandar daqui – deu de ombros. – Está tudo de boas agora. E você, como anda as coisas? E como está o moleque?
– Está tudo bem. Nate está bem, ele cresceu e agora fala pra caralho – sorri orgulhoso. 
– Kate ficaria orgulhosa da maneira que você cria esse moleque. Não é qualquer cara com vinte e três anos que aceita ser pai solteiro de boas, eu mesmo acho que seria um covarde de merda – ele disse.
– Não é fácil. Mas, é meu filho. Nunca faria ao contrário.
– Lisa veio falar comigo, se tinha algum trampo para você… – ele olhou para os lados e chegou mais perto, como se o que ele fosse falar não pudesse mais ser ouvido por ninguém. – Eu sei que tu não quis se envolver da última vez. Mas estamos armando um lance para próxima semana, eu falei com os caras e eles disseram que só depende de você.
– Max…
– A grana vai ser alta – continuou. – A chances de sermos pegos serão quase nulas, estamos fechados com o segurança do local. Tudo pra dar certo. Não precisa responder agora, tem alguns dias ainda – ele colocou a mão meu ombro. – Pensa no teu moleque, ele era merece mais do que tem.

Ele não me deixou responder, virou as costas e saiu andando. Da última vez eu recusei sem pensar duas vezes. Por que dessa vez eu estava pensando e analisando a situação por vários ângulos?