C I N C O

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Alto. Olhos azuis. Dezenas de tatuagens espalhadas pelo corpo. Cabelo loiro em um corte militar.

Ual, se a Nina tivesse ali ela diria algo vulgar a altura da beleza dele.

– O que você quer? – indagou um pouco ríspido.

Quesito beleza, 11. Quesito simpatia, 0.

– Eu sou Stella Timberg – ajeitei minha bolsa no meu ombro e estiquei um mão. – Sou a professora de Nate.

Ele ergueu a sobrancelha ainda sem entender que diabos eu estava fazendo ali. Quando eu achei que ficaria com uma tendinite de ficar tanto tempo com a mão estendida ele ergueu a sua e apertou a minha.

–  Eric Simon, eu sou pai dele. Tem alguma coisa errada? –  franziu a testa e encostou no batente da porta. 
– Hum… Não sei. Ele não foi essa semana, fiquei preocupada. Disseram que ele estava gripado, só queria visita-lo.

Desencostou da porta, me encarou novamente por alguns segundos. Ele estava desconfortável, será que falei algo errado?

– Ele está bem já – ele limpou a garganta com um pigarro. – Acho que vou ter que ir visitar meus pais, então eu… – olhou para trás e depois voltou a me olhar –, quer dizer, quando voltarmos ele voltará ir para escola. Não se preocupe. 
–  Quando tempo irão ficar longe? –  não perguntei porque sou uma enxerida, só queria saber quando tempo ele ficaria ausente da escola. 
– Não sei – respondeu, seco.
– Posso vê-lo? Prometo que não vou demorar, só queria falar com ele mesmo, vai ser rápido.

Eric me encarou por alguns segundos parecendo pensar no meu pedido. Deu tempo dele pesar os prós e os contras, ele estava agindo de forma estranha, como se tivesse com medo de eu descobrir algo. Eu e minhas esquisitices de sempre ter essas intuições.

– Acho que não tem problema. Espera um minuto – assenti e ele colocou a cabeça para dentro do apartamento. –  Nate, tem visita para você.

Ele não ia bem me convidar para entrar? Nossa! Educação tem nada a ver com grana.

–  Tia “tella” – Nate gritou e abriu um sorriso enorme assim que me viu. 
– Oi campeão – sorri e me abaixei para ficar da sua altura. – Sentimos sua falta. 
–  Papai disse que preciso comprar um… – antes que ele terminasse de falar uma mão surgiu na boca dele.
– Filho, não a incomode com essas coisas. Ela só veio ver você – Eric disse, um pouco sem graça. Acho que “um pouco” seria eufemismo, ele chegava a estar um pouco vermelho. 
– Eu não me incomodo. 
– Vem, “quelo” te “mosta” o Batman –  Nate deu uns pulinhos animado.
– A Srta. Timberg está com pressa, Nate.

Levantei e encarei o tal do Eric. Era óbvio que ele queria que eu sumisse dali o mais rápido possível. O que será que ele estava com medo que eu descobrisse? Será que ele batia em Nate? Ou vendia drogas e as mantinha em casa? Ou armas? Não importa o que fosse, ele não ia se livrar tão fácil de mim.

– Na verdade, estou com tempo – dei um sorriso angelical.

Seus lábios se abriram em sorriso muito forçado e por fim ele assentiu. Abriu mais a porta permitindo a minha entrada, tenho leve impressão que pude ouvi-lo murmurar um “merda".

Sol que faltavaOnde histórias criam vida. Descubra agora