D E Z

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Eric

Terminei de arrumar a mochila do Nate com tudo que ele ia precisar para passar a noite fora. Eu havia pensado muito durante a semana. Tentei, eu juro que tentei achar outra forma, andei pela cidade inteira atrás de um emprego. Mas ou pediam mais escolaridade ou tinha que ter experiência. Até para faxineiro, eu precisava ter experiência de seis meses constatados na carreira de trabalho. Nate não comia nada há dois dias, eu não podia mais conviver com isso. Simplesmente nada dava. Eu estava completamente desesperado!

Eu sei que pessoas que passam por essa situação aguentavam o tranco. Mas eu não ligava de morrer de fome ou de morar na rua, juro que eu não me importava com isso, mas meu filho não. Eu não ia sujeita-lo á isso.

- Você vai dormir na casa da tia Lisa hoje, tudo bem? - perguntei agachando em sua frente. Coloquei uma alça de sua mochila em meu ombro.
- Tá bom, papai - concordou.

O peguei no colo e saí do apartamento trancando-o. Lisa já sabia que o deixaria lá, ela só não sabia o porquê. E nem iria saber, ou então ela iria tentar me impedir.

- Ei - Lisa sorriu ao ver Nate. - Que garotão grande! Meu Deus, como você cresceu.
- Sou um "homezinho" - disse de um jeito orgulhoso.

Eu e Lisa rimos.

- Vou deixá-lo na escola como combinamos - ela disse.
- Ok. Só isso que preciso - afirmei. - Dá um beijo no papai.

Ele esticou os bracinhos em minha direção, e eu o peguei no colo apertando contra mim, beijei seu rosto e o devolvi para Lisa.

- Amanhã papai te busca na escola - prometi.

Lisa me encarou por alguns segundos, antes que ela perguntasse algo virei as costas e fui para praça encontrar com Max. O frio deixou as pessoas trancadas em casa, as ruas estavam vazias, fiquei aliviado, assim ninguém conhecido iria me ver. Caminhei por uns dez minutos até chegar na praça e ver Max junto com mais três caras.

Meu coração estava acelerado, o medo corria minhas veias e a minhas mãos soavam muito. Eu estava apavorado! Nunca falaria isso. Mas eu estava e como estava.

- Tudo certo, novato? - assenti freneticamente. - Vamos ter exatos doze minutos, foi isso que o cara disse. Depois disso as câmeras vão voltar a funcionar.

Ele nos entregou toucas pretas, com apenas buracos nos olhos e na boca. Coloquei-a rapidamente e segurei o arma prata que o outro cara alto e moreno estava me entregando. O que eu estava fazendo, meu Deus?

"Papai, estou com fome"

Fechei meus olhos e respirei fundo quando a voz do Nate ecoou na minha cabeça. Abri os olhos novamente e apertei o objeto brilhante entre meus dedos.

- Agora! - algum deles avisou.

Saímos do carro e atravessamos a rua indo em direção a joalheria. Ninguém passava pela naquele instante, só tinha nós cinco. O barbudo foi até a porta e tentou abri-la, mas para surpresa de todos ela estava devidamente trancada.

- O filho da puta disse que ia deixar passagem liberada - um deles rosnou.
- Melhor voltarmos para carro, estamos dando muita bandeira - ouvi Max dizer.
- O quê? Não! Já viemos até aqui. Se os merdinhas estiverem com medo podem ralar. É melhor que fica tudo pra mim
- o barbudo riu com desdenho.
- Qual foi caralho?! - o moreno alto disse. - Esse não foi combinando, mosca.
- Foda-se!

Foi então que um barulho estrondoso de vidro quebrando nos assustou. O terceiro cara agiu enquanto eles todos discutiam. O alarme começou a soar histericamente eles pularam os vidros e entraram na loja.

Minhas pernas simplesmente travaram. Eu estava soando por debaixo daquela touca. Meus batimentos cardíacos estavam batendo freneticamente rápidos. Eu não poderia estar tendo um ataque de pânico, puta merda! Eu não conseguia sequer respirar, parecia que todo o ar da atmosfera foi raptado e eu não tinha oxigênio.

Outro barulho começou a ecoar pelo meus ouvidos. Demorei alguns segundos para me dar conta que era sirene da polícia. Eu ainda estava parado na entrada. Eu havia sequer me movimentado.

Nate. Nate. Nate. Nate.

A polícia ia me pegar e eu nunca mais iria ver meu filho. Pior, eu não fiz nada. Eu sequer me mexi da porra do lugar. Eu estava em pânico.

Eu sendo preso. Nate indo para um orfanato. Eu nunca mais vendo Nate.

A sirene estava ficando mais próxima e comecei ouvir vozes também, mas acho que minhas audições foram danificadas também. Não sei como, mas consegui mexer meu braço e sacar o telefone do bolso. Com os dedos trêmulos percorri a lista de contatos e achei o que eu queria.

"Cuida do Nate por fav"

Enviei da forma que estava, pois barulhos ocos começaram, eram realmente muitos. Puta merda! Era tiro. Eu parecia estar tendo uma alucinação. Poderia ser um pesadelo, mas não, era real.

- Eric! - ouvi alguém me gritar.

Quando consegui me mexer e ver quem havia me gritado. Algo atingiu meu abdômen. Porra, queimava e doia muito. Minha vista foi ficando turva. Minhas costas bateram na parede e vi Max na minha frente, ele gritava e falava coisas, mas nada eu ouvia. Eu deslizei na parede até bater no chão, minha vista estava escurecendo, eu tentava abrir os olhos e eles não me obedeciam...

Até que, apaguei.

Sol que faltavaOnde histórias criam vida. Descubra agora